
Depois de conquistar o público além-fronteiras com salas esgotadas em várias cidades não só da Europa como também dos EUA (onde inclusive ganhou o prémio Videoclipe do Ano nos International Portuguese Music Awards com a canção “Dois”), Fernando Daniel está pronto para invadir um dos espaços mais emblemáticos de Portugal: o Coliseu dos Recreios. É no dia 21 de fevereiro de 2026 que o artista português vai levar a digressão “V.H.Sessions” até à capital, num concerto que promete ser imperdível.
Aqui, Fernando Daniel vai cantar em acústico as músicas deste seu terceiro álbum homónimo, num ambiente mais intimista e pessoal que conta com uma fogueira ao centro e mais dois músicos ao seu lado. O objetivo é quase criar um concerto à luz da lua, com um sentimento de pertença entre todos os que estão presentes. Porque, na verdade, é isso que Fernando Daniel quer: conseguir juntar todos os que o acompanharam até aqui para celebrar de forma inesquecível e comovente mais um marco na sua carreira.
O espetáculo será, assim, adaptado ao ambiente do Coliseu, e promete momentos especiais numa das mais emblemáticas salas do País. Mais do que um concerto, o espetáculo será um encontro de afetos e gratidão, num momento pensado para ficar na memória de todos os que fizerem parte. À MAGG, Fernando Daniel falou não só sobre como foi pensada esta digressão mas também como ele próprio se sente na indústria nos dias de hoje, assim como a forma como espera deixar um bom legado para os filhos, Matilde e Fernando, e como a música o reinventou. Leia a entrevista.
Fernando, quando pensa no Fernando Daniel que começou no “The Voice” e o Fernando Daniel que vai agora pisar o palco do Coliseu dos Recreios, o que é que mudou e o que é que ficou exatamente igual?
Em termos pessoais mudou muita coisa. Tenho muito mais responsabilidade, sou pai a dobrar. Logo por aí tinha muitas coisas para dizer que mudaram, mas no que toca ao trabalho e aquilo que é mais público, acho que mudou a minha forma de encarar o próprio palco em si, a responsabilidade que assumo sempre que piso o palco, sempre que estou diante de milhares de pessoas. Tenho muito mais respeito por tudo o que é profissionais, consigo perceber com o passar do tempo e com a experiência o trabalho que é exigido a cada pessoa para que o concerto aconteça.
Mudou também a minha forma de encarar a música. E por aquilo que vou percebendo, sinto que sou um sortudo por continuar a fazer aquilo que gosto, porque nem toda a gente tem esse privilégio. Posso dizer que faço aquilo que gosto, não saio de casa contrariado, não é trabalho. Apesar de dar muito trabalho e já começar a trazer os meus primeiros cabelos brancos antes dos 30, mas eu vejo isto como um manifesto de um sonho.
Depois de tantos quilómetros percorridos na Estrada Nacional, volta a Lisboa para um concerto muito especial. Já não é a primeira vez que pisa o palco do Coliseu, mas o que é que significa pisar esta o chão desta sala?
Esta é uma sala mítica. A primeira vez que pisei o Coliseu foi no Festival da Canção, numa final que existiu aqui. Em nome próprio foi em 2022. Depois de pisar esta sala, já fiz algumas com lotações maiores, inclusive a Altice Arena, que é a maior sala do País. Mas acho que o Coliseu é sempre uma sala mítica, uma sala de enorme respeito, nós seguimos pelo corredor e se formos até ao bar privativo do Coliseu temos a parede cheia de assinaturas de grandes artistas que já cá passaram.
Acho que é uma sala que é impossível de não sentir um nervosismo quando se fala dela. E acho que, apesar de ser só para o ano, uma vez que aqui estou [a entrevista foi feita no Coliseu dos Recreios], já começo a sentir aquele bichinho do que é que eu vou fazer, do que é que eu posso usufruir daqui para dar às pessoas o melhor espetáculo possível.
Este concerto é inspirado no seu mais recente álbum, “V.H.S”. Nota-se que algumas das bases são muito os anos 80 e 90. O que é que o atraiu especificamente a estas décadas?
Para responder a essa pergunta, tenho que ir um bocadinho mais atrás. Eu começo com o “Salto”, o meu primeiro disco depois do “The Voice”. Passo pelo “Presente”, um disco onde eu me quero assumir mais, porque sentia que havia um certo estigma de um rapaz que veio de um programa de televisão e ainda não é artista e só ganhou um programa. Mas senti a necessidade, num terceiro disco, de explorar uma sonoridade diferente. Vejo-me um bocadinho como um camaleão de música.
Aliado a isso, fui pai em 2021, e começo a ter algumas curiosidades de como era a altura em que eu nasci. Começo com aquelas coisas de “com o que é que a minha filha é parecida”, se era parecida comigo, se era parecida com a mãe, e aquele universo de fotos começou-me aqui a despertar a vontade de fazer um disco com umas sonoridades um bocadinho mais dessas décadas, e acontece o “V.H.S”.
Mas senti que o disco não viveu propriamente aquilo que tinha para viver. Então o que é que eu decidi? Fazer uma tour acústica em que exploro todas as canções que não explorei desse mesmo disco, e nasce esta digressão, onde exploro grande parte senão todas as canções deste disco, e mais os temas que ficaram famosas ao longo do tempo. Acho que, com isso, nasceu aqui um grande concerto.
O que é que esta imagem, este símbolo, diz sobre si e sobre o momento de carreira em que está agora?
Neste momento, até eu estou com dificuldades. Estou a fazer uma tour que se chama Viagem, que vai iniciar agora este verão e que é uma espécie de best-off, de tudo o que veio até aqui. Ao mesmo tempo, fiz aqui uma pausa do VHS, que retorna depois desta tour acabar, e estou neste momento a preparar um quarto disco. Ou seja, estou aqui com várias frentes ativas, e eu próprio, às vezes, ainda não consegui perceber bem onde é que eu tenho que estar mais focado.
Vou vivendo um dia de cada vez, tentando dar o máximo de mim em cada frente, mas posso garantir que pela primeira vez estou a fazer as coisas com tempo. Com calma e bem. Apesar do público pedir mais música nova, mais discos, eu quero fazer as coisas com um bocadinho mais calma, fazer as coisas bem pensadas, mas com várias frentes ativas. Assim, se o público quiser uma coisa mais intimista e mais calma, vem ao “V.H.Sessions”, se quiser uma coisa mais enérgica, vai à “Viagem”, onde vivo todos os temas desde o início.
Se fizéssemos aqui um rebobinar da sua carreira, qual foi o momento que mais o marcou até hoje?
Esgotar o Altice Arena foi, sem dúvida, o momento alto até ao momento, porque é a maior arena do País. Eu gosto muito de estar em estúdio, gosto muito de fazer música, e até cada vez mais gosto de explorar a minha vertente de músico e compositor. Mas estar no Altice Arena e ver aquilo cheio para cantar as minhas canções, as pessoas a gritarem o meu nome com cartazes, com luzes, cantarem os meus refrões, acho que é o momento em que eu senti que, bem, a minha carreira poderia acabar amanhã.
Mas agora esgotei uma vez o Altice Arena, gostava de esgotar duas, gostava de esgotar três, gostava de esgotar um estádio, portanto ainda há muita coisa, vou estipulando objetivos curto, médio, longo prazo, vamos com calma e vamos tentar ver se conseguimos todos.
Ainda bem que fala desse lado mais de compositor. Como é que nasce uma música do artista Fernando Daniel? É através de melodia, sons, uma letra, é tudo junto?
Varia de canção para canção. Posso dizer que “Melodia da Saudade” comecei a fazer uns acordes ao piano, eram três da manhã, e é uma musiquinha que eu fiz para o meu avô, e foi muito simples construir aquela canção. Se o meu avô estivesse aqui hoje, ou se eu tivesse a oportunidade divina de o meu avô estar ali naquele momento, o que é que eu lhe diria? E depois foi só tocar.
Com “Prometo” já foi diferente, fui apontando algumas coisas que eu ia sentindo enquanto pai, já enquanto a Sara estava grávida, coisas que eu achava que um dia ia dizer à minha filha. Ou seja, não há assim uma forma, uma base. Aquilo que eu posso dizer que nunca aconteceu foi eu escrever uma espécie de poema e depois tentar musicar. Eu acho que isso nunca corre bem, porque acho que o que dita o rumo da letra é os acordes em si. Uma música com acordes maiores é uma música mais motivacional, enquanto que uma música com acordes menores é mais triste.
Como o Fernando já disse, o sucesso foi crescendo ao longo dos anos. Há quem diga que o sucesso transforma, que consegue transformar qualquer pessoa. No caso do Fernando, sente que a música o revelou ou reinventou?
Sinto que me reinventou. Por vezes não me sinto tão respeitado pela indústria, porque sinto, não sei se é por ser novo, as pessoas dizem que eu tenho um ar amigável, eu não sei se é isso ou não, mas muitas das vezes eu penso “será que eu, a partir do momento em que me tornei artista, devia ter uma postura mais altiva?”, porque eu sinto muitas das vezes que não me respeitam, ou até mesmo que posso até passar um bocadinho mais despercebido.
Portanto, acho que a música não me revelou, porque eu continuo a ser exatamente a mesma pessoa, mas acho que me reinventou pelo facto de, em parte, me manter igual, mas por outro lado, ter descoberto coisas que eu teimava em achar que não conseguia fazer. Foi-me dando aqui alguns alentos, mais confiança em mim mesmo também, porque acho que não é por ser artista que sou a pessoa mais confiante, pelo contrário. Tenho os meus momentos, e a música vem-me trazer um bocadinho essa elevação da autoestima.
Há músicas suas que são autênticos êxitos. “Tal Como Sou, “Melodia da Saudade", "Prometo ", "Voltas ", mas devem existir canções que o marquem profundamente. Qual é a sua canção secreta, aquela que gostava que o mundo ouvisse com mais atenção?
Há músicas que eu lancei que sinto que não tiveram, se calhar, a atenção merecida. Ou seja, não é que eu acho que pudesse ser um sucesso maior do que as outras, mas acho que merecia um bocadinho mais. O “Contigo” acho que era uma música que musicalmente está muito bem conseguida, o “Metade” também é uma música forte, e acho que isso se deveu à altura em que as canções saíram.
As rádios hoje em dia também ditam muito se a música é um sucesso ou se não é um sucesso, e muitas das vezes há músicas minhas a passar na rádio de outros discos que parece que roubam espaço às músicas novas. Não vou ser hipócrita e não vou dizer que não gosto que estejam a passar uma música minha antiga, mas também se está a tirar espaço às minhas músicas novas. E depois há músicas deste “V.H.S”. É um disco pessoal, vem depois da paternidade, onde eu também assumo algumas coisas de forma diferente, que acho que as pessoas também se vão identificar.
Os seus filhos vão crescer a ouvir falar do Fernando Daniel cantor. O que é que lhes quer ensinar, e também a uma geração mais nova, através da sua arte?
Eu costumo dizer que a partir do momento em que os meus filhos nasceram, eu já não canto só para mim e para o meu público, eu canto também por eles, porque quero que eles tenham um legado, que eles tenham orgulho na história do pai e naquilo que o pai construiu. E sei que muitas das vezes a escola pode ser cruel. E não quero de todo que os meus filhos passem por alguma situação de que o teu pai esteve envolvido num escândalo, por exemplo.
Quero levar uma vida super tranquila, super honesta, a fazer o meu trabalho com sucesso, obviamente, para que eles se orgulhem e que não existam este tipo de situações. Não quero, obviamente, que eles tenham vergonha de mim. A Matilde gosta muito de me ouvir cantar e, às vezes, a música até pode ser muito fatela, mas ouvir a minha filha a cantar comigo, já fico um bocadinho mais aconchegado. E são essas coisas que me vão dando alento e eu vou também, em parte, ter cuidado com isso, porque sou pai agora, vou deixar um legado.
2025 está a ser um ano em grande, 2026 também vai ser. Salas esgotadas, a digressão internacional, prémios nos EUA, Coliseu 2026. O que é que o Fernando Daniel ainda quer conquistar na música?
Esta tour internacional é uma espécie de primeira tentativa de me abrir para um mercado internacional, dar-me a conhecer vários países, a vários artistas também desses mesmos países. Ainda há uma certa dificuldade — os outros países, outros artistas — em olhar para Portugal como um mercado interessante. Excepto o fado, que é uma coisa que nós conseguimos vender bem.
Mas aquilo que eu gostava mesmo muito era de conseguir uma carreira internacional. A cantar em português seria algo que eu gostaria de dar prioridade, porque é a minha língua e eu gostava de levar a nossa língua um bocadinho mais além, por nós somos muito pequenos. E também por isso consumimos muita música de fora, e devíamos começar a consumir muito mais aquilo que é nosso.
Os bilhetes para o concerto de 21 de fevereiro de 2026 já estão disponíveis, com o preço a começar nos 20€.