
Não há nada mais angustiante para um pai ou mãe do que ver o seu bebé com o nariz entupido, a lutar para respirar, dormir ou até mamar. É uma luta constante entre precisar de fazer algo para aliviar o congestionamento e tentar não magoar a criança, pelo que, por vezes, os pais deixam-se ficar apenas pelo ato de assoar o bebé. No entanto, sabia que a lavagem nasal é o método mais simples e eficaz para ajudar no nariz entupido? E não é assim tão difícil de fazer (nem conta com dificuldades acrescidas).
Esta lavagem nasal, melhor intitulada de irrigação nasal, é uma técnica que já remonta há centenas de anos, e consiste em lavar a cavidade nasal com uma solução salina, de forma a que todo o canal da criança fique desobstruído.
Isto fará com que não seja apenas as narinas que fiquem limpas, e sim toda a cavidade pelo qual o bebé respira, desde a garganta até ao nariz. "E os pais devem ter muito bem presentes que jamais em tempo algum, em que circunstância for, devem lavar o nariz com água", começou por explicar Gonçalo Trafaria, osteopata pediátrico e conhecido nas redes sociais como o The Baby Whisperer, à MAGG. Mas porquê?
"Porque a água normal trata-se de uma solução hipotónica, ou seja, com sais, e isso é bastante irritante para a mucosa do nosso nariz", acrescentou. Desta maneira, o que se recomenda é a utilização de soro fisiológico, uma solução isotónica que respeita a delicadeza da mucosa nasal do bebé, limpando sem causar dor ou irritação. No entanto, quem melhor para falar sobre esta lavagem nasal do que o próprio The Baby Whisperer?
À MAGG, Gonçalo Trafaria explica o que é que pode afetar a congestão nasal nas crianças e também exemplifica como fazer esta irrigação, dando dicas de como manter uma criança sossegada no momento e explicando quais os mitos que estão associados.
O que pode afetar a congestão nasal

“A obstrução, principalmente nos mais pequenos, acontece muito em crianças que não se conseguem assoar. Portanto, aqui as coisas ainda se complicam muito mais. E esta obstrução nasal tem um impacto bastante negativo, mesmo significativo, na qualidade de vida das crianças, porque está praticamente sempre presente em tudo o que são quadros respiratórios.
Isto vai condicionar a alimentação, a amamentação, o próprio sono e bem-estar daquela criança, pois muitas vezes há um escorrimento das secreções para a região posterior do nariz, e quando a criança está deitada, começa com aqueles excessos de tosse. Assim, os pais têm que estar mesmo familiarizados com a técnica da lavagem nasal, porque não é só nesta remoção deste muco pegajoso e espesso no nariz que têm de se focar, mas a própria cavidade nasal também tem de estar livre. Também ajuda muito a tratar a sinusite, a rinite”.
Como fazer a lavagem nasal e quais os instrumentos necessários

“Os instrumentos são uma seringa, que, dependendo da idade da criança, pode ter mais ou menos capacidade, uma seringa de 5, de 10 ou de 20 mililitros ou, para uma criança acima de 2 anos, pode ser uma seringa de 50, uma borrachinha pequenina que se coloca na seringa para que não traumatize a narina da criança, e o soro isotónico. E como é que se faz esta técnica? É muito simples.
Costumo dizer que até aos 2 meses, e principalmente pais de primeira viagem que não estão tão familiarizados com a técnica, a melhor é a técnica deitada. Aqui, viramos a cabeça da criança para um dos lados, vamos com a seringa já cheia de soro e com o adaptador colocado, colocamos o adaptador na narina que fica superior e vamos irrigar de uma forma lenta, saindo pela outra narina. Depois rodamos a cabeça para o lado oposto e repetimos o mesmo na narina que fica de cima.
Se falamos numa criança com mais de 2 meses ou uns pais que já estão habituados à técnica, é verticalizar no colo. É muito importante o queixo estar ligeiramente para baixo, portanto a cabeça não deve estar nem na posição neutra nem ligeiramente inclinada para trás, porque senão há a probabilidade do soro ir para a garganta. Portanto, cabeça direita, seringa com o soro e o adaptador colocados, encostar na narina e a velocidade 1, 2, 3 segundos e irrigar de uma forma lenta, fazendo depois na narina oposta”.
Com que frequência fazer, quando é melhor fazer e quais os sinais a estar atento

“Não existe qualquer tipo de contraindicações no que há frequência diz respeito. Sempre que perceberem que existem secreções, façam. E com isto estou a dizer que pode ser feita uma ou duas vezes, pode ser feita sete, oito, dez vezes, as vezes que forem precisas. Não há qualquer tipo de problema. No entanto, só deve ser feita a lavagem se houver presença de secreções. Fazer diariamente só porque sim não faz sentido nenhum, apesar de ser aconselhável a técnica estar presente na rotina da criança, nem que seja uma vez na semana ou de 15 em 15 dias.
E, idealmente, é fazê-lo antes de comer, não depois, porque se a criança o fizer depois, ao fazer a lavagem, pode engolir parte do soro, o que pode desencadear o vómito se estiver de estômago cheio cheio. A ter em atenção é apenas a dor. A criança durante a lavagem ou após a lavagem pode ficar a queixar-se de dor, e se for uma mais crescida pode colocar a mão no ouvido a dizer que dói, enquanto que uma mais pequena pode gritar muito e manter-se a gritar. A criança, aí, deve ser observada, porque pode ter ali um processo de infecção”.
Como manter a criança sossegada

“Muitas vezes os pais não experimentaram nunca em si próprios esta técnica, e assustam-se exatamente com o facto de terem que lavar, terem que instilar soro pela narina do bebé. É importante os pais estarem seguros, tranquilos e calmos, porque muitas das vezes esta intranquilidade por parte dos pais também passa para a criança. Em crianças que acabam por esbracejar muito, uma excelente medida é colocar uma toalha em redor do tronco em que os braços ficam contidos por baixo da toalha.
Portanto, aqui já conseguimos ter alguma contenção. Mas até esta contenção também deve ser feita de uma forma gentil, de uma forma doce, mas também determinada, porque a seguir vão fazer a lavagem do nariz. Quando falamos em crianças um bocadinho mais crescidas, permitir também que explorem os equipamentos. Brincarem um bocadinho com o êmbolo da seringa, poder exemplificar na boneca com que costumam brincar. Fazer um reforço positivo para a criança, fazer um de brincadeira para ser uma experiência também agradável”.
Erros técnicos comuns e mitos

“Normalmente os erros mais comuns por parte dos pais é no posicionamento da cabeça do bebé, que muitas vezes está na posição direita ou levemente para trás. Ao inclinar o tronco da criança para a frente a criança está a colocar a cabeça para trás, portanto parte deste soro não só não está a chegar à outra narina como é possível que o bebé o esteja a engolir. Não vai haver um problema por isso, mas a técnica acaba por não estar bem feita e pode ser ligeiramente incómoda para a criança.
O outro erro também frequente é a velocidade com que irrigam. Os pais são muito rápidos, irrigam muito rápido e o objetivo é na menor velocidade, de maneira a que o soro saia é pela narina oposta. Quando falamos em crianças que estão muito congestionadas, o espaço por onde passa o soro acaba por ser mais estreito, portanto se eu aumentar a velocidade, vou aumentar a pressão, e isso é desconfortável. O terceiro erro mais comum é o soro insuficiente. É preciso adequar os volumes ao tamanho e à idade da criança, e isso vem sempre explicado no papel.
Quanto a mitos, existem muitos. Que a lavagem nasal provoca otites, que o soro pode ir para o pulmão, provocando uma pneumonia, muitos, mas não passam de mitos. Uma lavagem nasal não vai provocar uma otite. Aquelas depressões que já estão ali paradas no ouvido da criança provavelmente há uns dias e que se calhar já têm um quadro de infecção, sim, essas sim podem provocar otite. Ou seja, a otite que já está, o ouvido já está inflamado, e isso coincide com a lavagem nasal que depois vai provocar otite.
Mas uma coisa não condiciona a outra. A dificuldade que o ouvido tem em drenar o líquido que vai acumulando para a região posterior do nariz, isso sim pode levar à otite. Mas mais importante do que dizer aos pais para não fazerem a lavagem nasal é dizer como é que a têm de fazer. É garantir que os pais efetivamente utilizam os recursos certos, que estão a fazer da forma correta e perceber se tudo está a correr bem para não condicionar outras situações”.
Principal conselho para fazer a lavagem nasal de forma segura
“Recomendava visitarem a minha página que eu tenho lá muitos vídeos. Eu tenho lá vídeos a demonstrar a técnica, faço num bebé de 5 meses e depois faço também numa criança já de 6 anos, portanto aqui conseguem ver as duas idades e as grandes variações entre ambas. Ler bem o equipamento, adequar bem os volumes e qualquer dúvida esclarecer com o médico que acompanha a criança”.