Educar uma criança não é fácil. Para além de sermos responsáveis pela construção da personalidade de um ser humano, todos os pais querem o melhor para os seus filhos e, num mundo perfeito, conseguíamos protegê-los de tudo e todos.

Mas, para o bem e para o mal, as crianças começam desde cedo a aperceber-se do mundo que as rodeia, e não é preciso esperar muito para que surjam as primeiras questões mais complexas e difíceis de responder.

Da sexualidade à morte, são muitos os temas complicados que as crianças começam a questionar, e para os quais os pais nem sempre têm uma resposta na ponta da língua. Foi a pensar em simplificar a vida de miúdos e graúdos que a psicóloga Bárbara Ramos Dias escreveu o livro "Respostas Simples às Perguntas Difíceis dos Nossos Filhos" (Manuscrito), um guia prático direcionado para os adultos, para que nenhuma pergunta fique sem resposta, e com o objetivo de construir uma comunicação aberta entre pais e filhos.

Na semana em que este livro chega às livrarias (6 de fevereiro), revelamos-lhe dez questões marcantes, e as devidas respostas, para que consiga satisfazer todas as dúvidas do seu filho, sem embaraços nem complicações.

Bárbara Ramos Dias é psicóloga clínica há 20 anos e mãe de três filhos

Porque estás sempre a dizer "não"? (José, 6 anos)

"O que querem dizer: Estão fartos de 'Nãos'.

Esta talvez seja, de facto, a palavra que mais usamos. Explicar o 'não' é um exercício que exige uma postura muito assertiva, mas é claramente muito positivo. Por um lado, devemos explicar que não dizemos 'não' só por dizer, ou porque não gostamos deles. Por outro, cabe-nos reforçar que o 'não' é para ser levado a sério. Não se culpe, o 'não' só o vai fazer crescer num adulto mais seguro. Lembre-se: qualidade não é quantidade. Até pode estar pouco tempo com o seu filho, mas o pouco tempo que está dedique-se mesmo. Faça-o sentir-se único e importante, brinque, imponha regras, diga 'não', partilhe, questione, ensine, e, acima de tudo, mostre o seu amor.

Possível resposta:

Sei que te custa muitas vezes quando não te deixo fazer o que tens vontade. Mas sabes, a mim às vezes custa mais do que a ti, tenho a certeza, mas é para o teu bem. Um dia vais perceber isso. Quando te digo 'não' é porque é necessaáio, e não por não gostar de ti. É exatamente porque me preocupo contigo que às vezes tenho de o dizer."

Os nossos filhos são mesmo totós ou somos nós que os controlamos demasiado?
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Porque não me deixas ter Facebook, se já tenho 10 anos? (Ana, 10 anos)

"O que querem saber: Porque não podem ser iguais aos outros miúdos.

Os nossos filhos são da geração da tecnologia, da comunicação e informação na palma da mão. Quer gostemos ou não, isto é ponto assente. Estão habituados a ter tudo muito rapidamente, não sabem lidar com a espera. Como tal, têm pressa de pertencer ao mundo das redes sociais, dos likes, dos grupos do WhatsApp, das selfies e do imediato.

É um mundo apelativo e dinâmico, onde há sempre imensa coisa a acontecer e que não querem perder. Além disso, sofrem uma pressão infinita dos pares, mais que não seja pela informação que partilham uns com os outros.

Enquanto pais, sabemos que as novas tecnologias têm as suas vantagens e desvantagens. Se os ensinamos a pôr a mesa e a atravessar a estrada, porque não ensiná-los a 'surfar' na net.

Quando o nosso prá-adolescente nos começa a pedir um telemóvel ou o acesso às redes sociais para estar em contacto com os amigos e com o mundo, devemos perguntar-nos a nós mesmos se ele está informado, preparado, se é maduro o suficiente para fazer uma utilização correta das ferramentas.

Ceder a esta exigência deles é sempre uma escolha dos pais, tendo em conta a maturidade que o jovem apresenta para lidar com este tipo de situação. No entanto, no caso de se ceder, recomenda-se sempre uma conversa prévia sobre os perigos das redes sociais, alertar para a receção de pedidos de amizade de estranhos, acordar com ele que poderá ter acesso à conta dele, negociar com ele horários e contextos de utilização, etc.

Caso considere que o seu filho ainda não está preparado para fazer uma gestão correta, então devolva-lhe um 'não' de amor, explicando sempre as razões por detrás da recusa.

Possível resposta:

É verdade, já tens 10 anos. Mas achas que precisas de telemóvel? Ou apenas queres porque os outros têm? Sabes, eu e o pai achamos que ainda não estás preparada para ter acesso ao Facebook. Compreendo que alguns dos teus amigos tenham e que tu queiras ter também, mas acho que na tua idade tu e os teus amigos devem brincar e correr no recreio, em vez de trocarem likes. Se quiseres perceber como funciona, podemos ver o da mãe um bocadinho a seguir ao jantar e eu vou-te explicando algumas coisas, o que achas? E sempre que quiseres falar com os teus amigos, falas através do meu."

Porque não posso ficar acordado até tarde como vocês? (Pedro, 8 anos)

"O que querem saber: Porque é que têm de se deitar cedo e os pais não.

Um bom padrão de sono é um dos fatores mais importantes no processo de desenvolvimento e maturação do ser humano. É durante o sono que nos recompomos para o dia seguinte. Esta é uma questão que não pode entrar sequer em debate.

É essencial que os mais pequenos tenham um padrão de sono que lhes permita integrar e desenvolver-se de forma normativa. Segundo a American Sleep Association, as horas de sono recomendadas para cada idade correspondem a:

· Recém-nascidos (0-3 meses): 14 a 17 horas
· Bebés (4-11 meses): 12-15 horas
· Crianças (1-2 anos): 11-14 horas
· Crianças em idade pré-escolar (3-5 anos): 10-13 horas
· Crianças em idade escolar (6-13 anos): 9-11 horas

Por vezes, as crianças querem continuar a brincar e, não tendo a perceção de que estão cansadas, não identificam a necessidade de ir dormir. Cabe-nos, uma vez mais, ser os 'maus da fita' e estabelecer as regras da hora de dormir. Devemos acertar o horário familiar, garantindo que dormem o número de horas adequado. Lembre-as que, para crescer, uma boa noite de sono é tão importante como ter uma boa alimentação

Possível resposta:

Podes não ter sono ainda. Percebo que queiras continuar a brincar, mas queres aprender coisas novas e fazer coisas divertidas amanhã, não é? Então, tens de ir dormir, porque a nossa cabeça também precisa de descansar, mesmo que sintas que o teu corpo não precisa. Já pensaste em tudo o que fizeste hoje? O teu cérebro deve estar muito cansado. Se quiseres, vou um bocadinho para ao pé de ti, ler uma história para adormeceres, e dar muitos beijinhos, como quando eras pequeno."

Porque é que nunca posso fazer nada do que eu quero? (Bruna, 13 anos)

"O que querem saber: Porque é que o mundo está contra eles.

Esta é a época em que o mundo é um lugar estranho e em que ninguém, a não ser os nossos amigos, nos compreende. A fase em que os pais são uma seca e não percebem nada do que dizemos e que, além disso, não sabem nada do que dizem porque a vida é nossa.

Os nossos pequenitos, que agora começam a crescer e a ver desafios em tudo e em todos, experimentam uma sensação de desajuste. Como se a pele que vinham a vestir começasse a ficar-lhes pequena e demasiado apertada. Querem crescer, tomar as rédeas da sua vida. Ficam mais distantes e menos disponíveis, criando um mundo muito próprio deles. Rodeiam-se de amigos, música e de atividades que gostam, de forma compulsiva, e na semana a seguir querem desistir. Entram na altura dos extremos, do 8 ou 80, deixando pouco espaço para conselhos parentais.

Por outro lado, também é uma fase de profunda transformação para os pais. Estes começam a experienciar um sentimento de perda e de negligência por parte dos filhos. Sentem que são postos de parte, que não protegem o suficiente, e quanto maior o afastamento do filho, maior a sensação de perda. A tendência natural é enrijecer o sistema de regras e aumento das cobranças, seja de assertividade de conduta, seja de atenção.

Lembre-se sempre que o seu filho não deixou de gostar de si, apenas está ocupado a encontrar-se e posicionar-se no mundo!

Quanto mais invadir o seu espaço, maior afastamento vai ser criado entre vocês. É a fase das conversas difíceis. Dobre o amor e a compreensão, mas não se esqueça dos seus próprios limites.

Possível resposta:

Querido, tens todo o tempo do mundo para fazeres as coisas que queres. Garanto-te que quando chegares a essa fase já vais querer fazer outras coisas, melhores e mais divertidas. É natural pensares que tudo é mais interessante do que o convívio com o pai e a mãe, mas quero que saibas que se precisares de alguma coisa, seja o que for, nós vamos estar aqui para ti, sempre.

Nós não estamos contra ti, apenas não toleramos faltas de respeito ou que nos trates de forma ofensiva. Vou perceber se me explicares que tiveste um dia mau, mas não percebo que batas com a porta do teu quarto.

Sempre que sentires que vais passar os limites, pensa que vais magoar as pessoas que mais te amam no mundo, e controla-te. Respondendo à tua pergunta, é verdade, nem sempre vais poder fazer tudo o queres, mas farás cada vez mais coisas, desde que nos mostres que tens responsabilidade para com os teus deveres e obrigações. Para receber temos de dar também Se cumprires regras irás ter consequências boas, como mais liberdade, caso contrário, continuas a sentir o 'mundo a desabar na tua cabeça'. Liberdade com responsabilidade!"

O livro é publicado pela Manuscrito e está disponível nas livrarias a partir de 6 de fevereiro (14,90€)

Porque é que o João já não é meu amigo? (Pedro, 9 anos)

"O que querem saber: Porque é que o amigo já não gosta deles, ou não quer brincar.

Muitas vezes, uma baixa autoestima desenvolve ideias erróneas acerca da realidade. Uma criança com baixa autoestima julga que ningué, gosta dela, mesmo não sendo a realidade.

É através da socialização que as crianças passam a ter noção do outro. Por isso, é importante trabalhar essa competência desde cedo. Terá assim uma criança mais segura em comunicar e fazer novos amigos.

Perceba qual a razão dessa amizade ter acabado. Acima de tudo queira compreender e não desvalorize com 'coisas normais de miúdos' ou 'deixa lá, se não quer ser teu amigo, paciência'.

Escute com atenção o que tem para dizer e, se possível, se o motivo tiver sido uma exaltação/discussão, faça-o compreender a importância de por vezes pedirmos desculpa.

Possível resposta:

Porque achas que já não é teu amigo? O que aconteceu? O que achas que pode estar a acontecer para agirem assim?

Como te sentes quando não querem brincar contigo? Sabes que eu quando andei na escola também tive amigos que deixaram de ser meus amigos e eu deles, e sabes porquê? Porque ao fim de algum tempo percebemos que não gostávamos das mesmas coisas, de falar das mesmas coisas ou de fazer as mesmas coisas. Isso não faz mal. Depois conheci outras pessoas.

Se se chatearam por essa razão o que achas que devem fazer agora? Tenta conversar para resolver as coisas. Quando discutimos com alguém não há um culpado. Vamos pensar juntos em estratégias para lidares com isso?"

O Pai Natal existe? Porque existem tantos? (Rui, 6 anos)

"O que querem saber: Se o Pai Natal existe de verdade. Se o que dizem na escola é verdade.

"Durante o mês de novembro e dezembro, aparecem estas perguntas tão típicas. Se para aqueles que acreditam já é complicado perceber a dinâmica da chaminé e da distribuição dos presentes, quanto mais ao verem que em cada centro comercial existe um.

Os mais pequenos deliram com épocas festivas. Qual a criança que nunca sonhou com o Pai Natal ou com a fada dos dentes? É uma fase, que torna a infância mais divertida e encantadora, até para nós, quando entramos no seu mundo imaginário.

Chegará o dia em que terão de saber a verdade. Assim, mais vale ir preparando terreno. As fantasias são engraçadas e o entusiasmo é contagiante. Mas pode explicar-lhe isso mesmo, que no Natal tudo é mágico, o espírito é outro e isso deve-se não só ao jogo das luzes espalhadas pela cidade, como à figura imaginária do Pai Natal.

Na minha opinião é crucial lembrar a importância da partilha de emoções e conversas 'quentinhas' nesses dias de festa, mais do que tudo o resto.

Possível resposta:

  1. O Pai Natal é uma figura imaginária do Natal. Apareceu com a Coca-Cola. Ele não existe, mas se pensarmos bem, é mais engraçado achar que sim e viver todas estas coisas. Vamos preparar jogos?
  2. O Pai Natal não existe, é apenas um símbolo do Natal, como a árvore, as bolas, as luzes. Mas não contes já ao mano, é importante para ele continuar a acreditar. Sabes, o mais importante é estarmos todos reunidos em família a divertir-nos e partilhar velhas histórias, não é? Lembras-te do ano passado?
  3. O Pai Natal torna esta época mais divertida e simbólica. Além disso, é através da carta que lhe escreves que nós podemos saber aquilo que gostavas de ter e que conseguimos escolher aquilo que te podemos ou não oferecer."

Porque é que as pessoas põem fogo nas casas? Porque é que matam? (Victor, 8 anos)

"O que querem saber: Porque existem pessoas a fazer tanto mal umas às outras.

As ideias são controversas. Há especialistas que defendem que as crianças não deviam ver telejornais, precisamente pelos conteúdos que os mesmos apresentam, outros consideram-no normal.

Lembre-se que não existe uma resposta certa nem errada. Faça aquilo que achar mais correto, e se essa opção passar por deixá-los ver, tudo bem. Apenas esteja mais atento, para que lhes possa explicar determinados conteúdos.

Esclareça que as pessoas fazem isso porque não estão bem, ou porque têm uma doença que as impossibilita de ver quão erradas são determinadas atitudes. Informe que tais situações são erradas, mas que, mais importante do que julgar um comportamento errado, é entender e tentar perceber o que leva tais pessoas a cometer essas ações. Pergunte o que acha sobre o assunto, de forma a perceber qual a opinião da criança.

Possível resposta:

Sabes, existem várias razões que levam as pessoas a terem estes comportamentos menos adequados e maus. Umas fazem isto só mesmo por maldade, outras porque estão doentes e não percebem que aquilo que fizeram é errado, expliquei-me? O que é que tu achas sobre isso? Achas que é errado? Porquê?"

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Para onde foi a avó? Nuno, 7 anos

"O que querem saber: Se vão voltar a ver a avó um dia. Se vão repetir as vivências, se vão voltar a comer o bolo da avó, a cheirar a casa da avó...

As crianças como se costuma dizer, levam tudo à letra, e não se esquecem daquilo que lhes é dito com facilidade. Assim, se contar a história da 'viagem', eles desenvolvem pensamentos errados, que futuramente podem vir a trazer alguns desafios.

Por exemplo, se alguém próximo tiver de viajar, é perfeitamente natural que a criança associe aquilo que lhe foi dito e julgue erradamente que essa pessoa nunca mais vai voltar, causando bastante sofrimento.

Também é muito comum usarmos a famosa frase 'o avô virou uma estrelinha', que pode levar a criança a acreditar nisso literalmente e ficar a pensar em maneiras de chegar até lá. As crianças de até cerca de 10 anos não têm capacidade de abstração. O seu psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas pensam de forma concreta e constroem os conceitos a partir do concreto.

Se a pessoa for muito próxima da criança, e se a morte for por doença, a criança deve estar a par de todo o processo. Partilhe, sem medo, que a pessoa está doente e que é grave. Recorde-o do ciclo da vida das plantas, por exemplo.

Dê nome às coisas e use sempre a palavra 'morte'. Isso é bastante importante para que compreenda. Quanto mais falarmos das coisas com naturalidade, mais natural isso será.

Se, por outro lado, a morte for inesperada, é preciso ser-se direto e sincero. Consiga um espaço para tirar todas as dúvidas que podem estar a passar pela cabeça da criança, permita o diálogo, sem esconder as suas emoções e com uma atitude de comunicação assertiva.

Possível resposta:

A avó foi para onde precisava de ir, foi o melhor para ela. Podemos ter muitas saudades, mas o bem de cada um tem de ser sempre o fator mais importante.

Sabes, ela foi-se embora porque já era velhinha, já viveu muito e estava cansada. E nós tínhamos de ficar sozinhos para aprender a ser independentes. Cada um de nós tem a sua função aqui na terra, e a função da avó já terminou. O bom é que agora também sabemos fazer o bolo de bolacha que a avó fazia. Tivemos de aprender, não foi?

Podes também pensar qual foi a mensagem de vida que ela nos deixou, o que aprendeste... é tão bom.

Eu estou em paz, sabes porquê? Porque lhe disse tudo o que queria, o quanto gostava dela, agradeci-lhe tudo o que fez por nós e, acima de tudo, saboreei cada momento com ela. Isso faz com que me sinta mais tranquila e segura."

O lançamento do livro acontece dia 13 de fevereiro, na loja Fnac do Oeiras Parque

Porque é que a pilinha às vezes fica grande e dura? (Diogo, 6 anos)

"O que querem saber: Se é normal ou se a sua pilinha está com algum problema.

Por volta dos 2 anos, a criança descobre que tem uma sensação agradável ao tocar nos seus órgãos genitais e passa a explorar o corpo. Não entre em pânico. Isto é saudável, faz parte do processo de desenvolvimento e consciência do corpo.

Não ralhe quando se aperceber de tal situação. Isso não o vai ajudar, vai sim deixá-lo mais confuso, receoso, e pode tornar-se uma barreira de comunicação entre os dois.

Ao contrário do que possa pensar, não está a estimular ou a incentivar estas práticas, mas sim a consciencializá-lo da importância de o fazer de forma privada.

Por muito que lhe custe pensar sobre o assunto, o seu filho continuará a fazê-lo e, assim sendo, é preferível que o faça de forma segura para o seu correto desenvolvimento emocional, certo? Há crianças que começam mais cedo do que outras, respeite o seu tempo.

Possível resposta:

Quando os meninos mexem na pilinha, esta fica mais dura, porque dá uma sensação boa, de prazer. Não te preocupes, é normal, não tens nenhum problema. Provavelmente os meninos da tua idade também o fazem. Mas lembra-te, é um momento teu, só teu. É melhor fazeres isso no teu quarto quando estiveres sozinho, ou no banho; é mais confortável sem teres outras pessoas a ver."

Porque é que não tens dinheiro? Nunca tens (Ricardo, 9 anos)

"O que querem saber: Porque não podem continuar a ter aquilo que querem, quando querem.

Nunca é fácil dizer 'não'. É preciso explicar sem medos, receios ou vergonha o porquê de não podermos dar tudo quanto pretendem. Mais do que dizer 'Não', explique-lhe. Diga-lhe que neste momento não tem trabalho e que, por isso, não ganha dinheiro suficiente, ou que aquilo que ganha guarda para que ele possa ir para a escola, comprar comida, comprar roupa, ir ao médico, entre outras coisas. Fale sempre com amor, a criança irá perceber.

Para alguns pais, a ida ao supermercado é um momento 'penoso'. Muitos evitam levar os seus filhos para que não haja cenas ou birras. Esta não é uma atitude errada, no meu ponto de vista, mas mesmo que não os leve, quantas vezes lhes mostrou a conta do supermercado? Provavelmente poucas ou nenhuma.

Exercício:

Um bom exercício para os ajudar a compreender o valor das coisas é mostrar-lhes, através de notas do Monopólio, por exemplo, quanto ganha, e depois tirar o valor correspondente para a casa, para a alimentação, para a água, luz, gás, entre outras despesas, e mostrar-lhes quanto sobra.

Este exercício poderá ajudá-los a ter uma ideia mais clara. Mas não faça isso sozinho, façam a atividade em conjunto. Pode mostrar-lhes o valor das faturas e pedir-lhes ajuda a fazer as contas. Depois de as contas estarem feitas, mostre-lhes quantos dias faltam para receber outra vez, e, por isso, a importância de poupar dinheiro até lá. Ainda assim, aproveite este exercício para delinear atividades prazerosas que possam fazer em conjunto, sem gastar dinheiro."