Augusto Cury é um psiquiatra brasileiro de 64 anos que já publicou 80 livros em 70 países, dá formação online e já trabalhou com o FBI. O escritor, que conta com sete milhões de seguidores na sua conta de Instagram, defende que as crianças recebem muitos estímulos e que isso causa uma "intoxicação digital" com sintomas como acordar cansado, dores de cabeça ou irritabilidade, referiu numa entrevista à revista "Sábado".
Para Augusto, “a família não é uma democracia em que os filhos têm os mesmos direitos que os pais”, mas sim onde se deve “ensinar a democracia, onde há direitos e deveres”. Como tal, defende que as crianças devem “ter responsabilidades”, como “arrumar a sua cama”, “colocar o travesseiro [almofada] no lugar”, “pegar no seu prato e colocar em cima da pia [lava-loiça]”.
Além disso, o psiquiatra afirma que um “pai que dá tudo aos filhos comete um crime à saúde emocional deles”, porque estes vão “precisar de muito mais coisas para sentir pouco” e, como tal, defende que se deve dar menos presentes às crianças para que estas aprendam a “vivenciá-los de uma maneira profunda”. Augusto Cury recomenda ainda que os miúdos toquem instrumentos, leiam “bons livros”, pintem, cuidem de plantas e pratiquem desporto para “desacelerar a mente” e “gerar uma interiorização”.
O escritor do livro “Socorro, o Meus Filho Não Tem Limites!" afirma que vivemos na “era da intoxicação digital”, já que “uma criança de 7 anos tem mais informação do que os imperadores romanos”, e isso leva ao fenómeno inconsciente do Registo Automático na Memória (RAN). O RAN “arquiva tudo” no cérebro e a “avalanche de estímulos” como os videojogos ou as redes sociais “satura o córtex cerebral”, disse Augusto Cury à "Sábado".
Esta síndrome “tem sintomas como acordar cansado, dores de cabeça, musculares, de garganta ou taquicardia”, que são o “grito de alerta do cérebro” para que o nosso estilo de vida seja mais tranquilo. Também tem sintomas “mais psíquicos” como “a irritabilidade, o baixo limiar para suportar frustrações, ou seja, pequenos problemas têm um impacto grande, o querer tudo rápido e um défice de paciência enorme”, bem como “um défice de concentração e de memória”.
O psiquiatra explicou também que os smartphones geram “uma dependência ao nível de drogas estimulantes” como a cocaína e que é possível observar essa dependência quando uma criança tem “dificuldade em elaborar perdas e frustrações, quando repete os mesmos erros e há uma inquietação sem precedentes”, além de ter “aversão ao tédio e à solidão”.