Mathilde Favier é um dos nomes mais icónicos da Dior, especialmente no que toca à relação entre a marca e as estrelas que fazem das passadeiras vermelhas uma extensão natural das suas vidas. Sendo diretora mundial de celebridades da casa de luxo francesa, acaba por ser uma das responsáveis por continuar a fazer com que nomes bem conhecidos se assumam como uma montra viva das criações da insígnia.

Tivemos oportunidade de conhecê-la em outubro, na apresentação do seu mais recente projeto, o livro "Living Beautifully in Paris" (algo como "Viver em Beleza em Paris", em tradução livre). O local não podia ser mais simbólico, visto que a apresentação decorreu na loja da marca pela qual veste a camisola, localizada na artéria do coração pulsante que é a capital portuguesa: a Avenida da Liberdade.

Com este livro, que é um casamento entre as experiências da diretora mundial de celebridades da Dior, as palavras da jornalista Frédérique Dedet e alguns registos da lente do fotógrafo Pascal Chevallier, Mathilde Favier convida-nos a passear por Paris (mais que não seja folheando as páginas esteticamente impecáveis) através dos seus sapatos. Mas não só do que de mais bonito a capital francesa tem para oferecer se faz a festa.

living beautifully in paris
living beautifully in paris "Living Beautifully in Paris"

O livro acaba por ser mais do que um mero tributo a Paris ou uma autobiografia visual. É um manifesto sobre o que significa realmente viver com beleza, uma filosofia que Mathilde Favier, sempre sorridente, parece querer partilhar com o mundo. "Aconselho as pessoas a viverem, apesar de nem sempre ser muito fácil pensar positivo", disse, na apresentação, o que comprova precisamente aquilo em que acredita.

E embora a obra não seja diretamente sobre moda, não podemos descurar que Mathilde Favier é também um ícone de estilo, fruto do facto de pertencer a esse mundo desde o berço. O seu bisavô inventou as solas de borracha; o tio, Gilles Dufour, foi assistente de Karl Lagerfeld na Chanel e, mais tarde, diretor criativo da Balmain; e a irmã, Victoire de Castellane, também começou a carreira na Chanel em 1984, por onde ficou até 1998, sendo, atualmente, diretora criativa de joalharia na Dior.

Aliás, Mathilde Favier, atualmente com 54 anos, iniciou o seu percurso profissional em tenra idade: aos 13 anos já estagiava na Chanel, ao lado de Sofia Coppola, que se tornou amiga – tanto assim é que, segundo partilhou, fez uma aparição no icónico filme da cineasta, "Marie Antoinette". Mas essa conexão com a moda vai muito além do glamour a que o seu trabalho no seio da alta-costura está fadado. É uma combinação de detalhe, paixão e uma espécie de magia silenciosa, que nada mais é do que um acessório daquilo que de mais valioso temos: os nossos valores, aquilo que somos enquanto pessoas.

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Do seu estilo pessoal, que está mais em sintonia com uma abordagem clássica e intemporal e não tanto com as tendências passageiras, àquilo que significa a verdadeira elegância, que vai além do que se veste, sendo uma questão de atitude e autoconhecimento, passando pelo facto de o estilo parisiense continuar a definir o tom da moda, aproveitámos para fazer umas perguntas a Mathilde Favier.

Leia a entrevista

Qual é a verdadeira definição de viver em beleza em Paris? O que acha que a cidade tem que faz com que toda a gente se apaixone por ela?
Paris é feita de mundos diferentes. É a cidade pela qual te apaixonas porque te sentes bem nela, porque comes bem e pelas suas pessoas — é sempre sobre as pessoas. É também a cidade da moda, independentemente de tudo. O que torna Paris tão especial é que é incrivelmente romântica, é bonita e chic, mesmo quando o tempo está mau.

Nota-se que tem sentimentos fortes por Paris. E, muitas vezes, quando estamos apaixonados por algo, é difícil colocar isso em palavras. Foi um desafio escrever um livro sobre uma das suas maiores paixões?
Quis muito encarar isto como se estivesse a mostrar a cidade a um amigo: onde tomaríamos o pequeno-almoço, depois ir para o escritório, almoçar aqui, jantar ali... Quando a editora da Flammarion [um grupo editorial francês] sugeriu esta ideia, ela estava a ver o meu Instagram e tinha em mente um livro que desse um vislumbre do meu mundo. E foi assim que pensei nisso também: um passeio parisiense pelos meus lugares favoritos. Tinha em mente algo como a coleção de livros da Martine [antigamente, Anita], e o desafio foi transpor tudo isso para a escrita, graças às palavras de Frédérique Dedet.

Parece ser uma pessoa muito positiva. Como é que isso se reflete no seu estilo?
Acho que ter uma atitude positiva no meu dia-a-dia é algo diferente da forma como vejo o meu estilo, que eu descreveria como bastante clássico. O meu estilo reflete quem sou como pessoa e as coisas de que gosto, que podem ser coloridas alguns dias, mas também sérias.

A moda está em constante evolução. Como é que equilibra as tendências contemporâneas com o seu estilo pessoal, conhecido pela sua sofisticação intemporal?
Para mim, não se trata realmente de tendências; sou mais inspirada por mulheres do que por tendências. É uma abordagem mais intemporal da moda, de certa forma.

Como é que vê o impacto da moda francesa no resto do mundo? Acha que o "je ne sais quoi" parisiense ainda define os padrões globais de elegância?
Paris continua a ser a capital da moda, define o tom. Ser chic não é só uma questão de estilo, mas uma atitude, que acredito não ser exclusiva dos parisienses. Ser chic é, na verdade, sobre como te comportas e como pensas, mais do que o que vestes.

E pode uma pessoa ter o estilo parisiense sem ser francesa? Será que esse estilo é verdadeiramente acessível a estrangeiros?
Acredito que sim, claro! Ser parisiense é acessível a qualquer pessoa, não se trata de ter nascido aqui ou de ser francês.

Qual é o maior equívoco sobre o estilo parisiense que gostaria de corrigir?
Um equívoco que podemos ter sobre o estilo parisiense é que há algo muito sedutor que o acompanha, quando na verdade acho que as mulheres parisienses têm mais valores e são mais sérias do que a impressão que podemos ter delas, devido ao seu estilo.

Na apresentação, disse que as pessoas têm de ser quem realmente são. Quando se trata de moda, isso não é fácil com as tendências a irem e a virem constantemente. Que conselho daria a quem está a tentar encontrar o seu estilo pessoal, longe das tendências?
Eu diria: "Aprende a conhecer-te: olha para a tua silhueta, aprende a amá-la, ama o teu corpo e sê teu amigo, escolhendo um estilo que seja realmente teu".