Uma atriz, uma stylist e uma especialista em marketing e vendas. O sonho de criar peças de roupa únicas, feitas em Portugal e com materiais que respeitem o ambiente. Assim nasceu a Obsidian (nome de uma pedra vulcânica), marca criada por Cláudia Vieira, Gabriela Pinheiro e Raquel Vasconcelos (responsável de marketing e vendas do grupo Sonae).
As nove peças da primeira coleção-cápsula da marca são slow fashion (moda lenta, em tradução literal) e esse foi o ritmo que Cláudia, Gabriela e Raquel seguiram para que o nascimento da Obsidian fosse perfeito. Por isso, adiaram duas vezes o lançamento da coleção cápsula, revelada esta quinta-feira, 13, no Portugal Fashion, no Porto.
"A Gabi [Gabriela Pinheiro] tinha muita vontade de ter uma marca de roupa e desafiou-me", começa por explicar Cláudia Vieira, que já trabalha com a stylist há vários anos e com quem tem uma relação de amizade. "Gostava de ter o que quer que fosse com a Cláudia, porque ela é uma inspiração para mim e é um modelo de vida. Só fazia sentido associar-me a alguém com quem me identifico e com quem tenho tanta confiança", diz Gabriela Pinheiro. O projeto foi crescendo, aos poucos, e depois juntou-se Raquel Vasconcelos, formando uma "aliança de três mulheres fortes", como salienta a stylist.
Apostar na sustentabilidade, apelando a um consumo mais consciente, na matéria prima e mão de obra portuguesas e recicladas, foram as prioridades das fundadoras da Obsidian. No entanto, Cláudia Vieira faz questão de salientar que "a marca não é 100% sustentável". "Adoraríamos poder dizer isso mas duvido que alguma marca ou alguma empresa possa dizer isso".
A atriz da SIC, que está sob o escrutínio público há quase duas décadas, diz estar preparada para as críticas e para que possam dizer que esta é apenas "mais uma marca de roupa". "Esta marca está a trabalhar com uma fábrica que respeita as pessoas. O ambiente que senti na fábrica foi absolutamente incrível. Depois, a roupa foi desenhada e produzida em Portugal. De alguma forma estamos a contribuir para a nossa economia. Vamos ter um cartão a acompanhar cada peça e que explica de onde vem a matéria prima, como é que foi concebida, tudo mais. E vamos dar-nos ao trabalho de produzir alguns vídeos para chamar a atenção para o excesso de consumo que todos nós, de alguma forma, fazemos, do usar e deitar fora".
Gabriela Pinheiro explica as razões pelas quais o coletivo decidiu criar de raiz o projeto e não associar-se a uma marca já existente para criar esta coleção. "Quisemos ir para o terreno, conhecer as fábricas, escolher a matéria prima, sermos exigente ao ponto de querermos este botão que é de madeira e não aquele que é de plástico. Se nos associássemos a uma marca íamos acabar por assinar uma peça ou outra só porque sim. Não íamos fazer este caminho, esta aprendizagem, não íamos ter este 'filho', que é desenhado à nossa medida, feito no nosso timing", salienta a stylist.
A produção é feita no norte do País, em várias fábricas. "Tivemos de fazer algum trabalho de pesquisa para encontrar fábricas que nos aceitem e valorizem como cliente que produz em pouca quantidade. sabemos que, hoje em dia, a indústria têxtil portuguesa funciona quase toda para exportação. Esperamos que o nosso material venha a ser todo nacional mas, numa primeira coleção, ainda não é", explica Gabriela Pinheiro.
As 9 peças da coleção são feitas em poliéster reciclado e algodão SUPIMA (organização não governamental que apoia e promove a comercialização do algodão Pima, matéria prima que difere do algodão normal por ter fibras mais longas). Os tamanhos são apenas três (S, M, L) mas, como salienta Cláudia Vieira, as peças foram experimentadas "por mulheres com características muito diferentes". "Uma das nossas maiores preocupações é que as peças vistam realmente bem em todo o tipo de corpos".
À exceção das t-shirts, o padrão escolhido para a primeira coleção cápsula é o xadrez, produzido em exclusivo para a marca. "Quisemos ir buscar a tradição do xadrez mas com cores vivas, que são tendência de moda, que trazem energia à coleção", explica Gabriela Pinheiro. Cláudia Vieira acrescenta ainda que o padrão foi escolhido por representar "intemporalidade" mas também um lado mais "fashion".
Preços entre os 60€ e os 340€. "Para termos outros valores, tínhamos de ter outros materiais"
Os preços da Obsidian não são acessíveis (pelo menos ao primeiro olhar). Começam nos 60€ (o top, que já está esgotado) e vão até aos 340€ (o trench coat). Como se convence então o consumidor (ou os críticos) a comprar menos mas mais caro? "O material reciclado é realmente mais caro mas deixa de ser mais uma quantidade de lixo que anda a circular, pela transformação e pela durabilidade", argumenta Cláudia Vieira. "Se conseguirmos que as peças sejam tratadas da melhor forma... nós não gostamos de guardar aquela peça que está com mau aspecto. Essa, se calhar, até temos dificuldade em dar. Temos de tentar que as pessoas percebam que a nossa produção teve custos bastante mais elevados por termos, de facto, essa preocupação", relembra a atriz.
"Para termos outros valores, tínhamos de ter outros materiais, que não eram nem reciclados nem orgânicos", salienta ainda Gabriela Pinheiro, acrescentando que o lucro desta coleção vai ser usado para investir na próxima.
A pedagogia para o consumo, como refere Cláudia Vieira, começa em casa. E dá um exemplo pessoal. "Eu ando a dar lições de moral à minha filha [Maria, de 12 anos] e às amigas. Elas estavam a dizer que os biquínis eram muito baratos num determinado site e que, naquele verão, podiam comprar três ou quatro. Eu disse-lhes 'sim, mas isto agora vai parar aos mares, aos aterros, vai fazer com que determinadas pessoas continuem a viver na miséria, são crianças que os fazem e que não podem ir à praia como vocês'. Ou seja, eu ando numa verdadeira luta", explica a atriz da novela da SIC "Lua de Mel". "A nossa marca, quando tentamos dizer que é o mais sustentável possível e amiga do ambiente, não deixa de ser mais uma marca a surgir, mas tem o objetivo de tentar passar esta mensagem".
Para quem não é fã de compras online, pode experimentar (e comprar as peças) em três espaços físicos: os espaços Loja das Meias do centro Comercial Amoreias (em Lisboa) e do Norte Shopping (em Matosinhos) e a Just Ceuta (no Porto).