20 de novembro. Esta é a data do arranque do Mundial de Futebol do Qatar, no qual 32 países vão disputar o mais importante título do desporto-rei. Portugal está entre as equipas que vão viajar até àquele país do Médio Oriente, integrando o grupo H, juntamente com o Gana, Uruguai e Coreia do Sul.
Naquele que será o seu último Mundial (mas não o último Europeu, como revelou esta terça-feira, 20 de setembro, na gala Quinas de Ouro), Cristiano Ronaldo quererá estar ao seu melhor nível. E, para isso, além da óbvia preparação física, são necessários equipamentos a rigor e, de preferência, que não atrapalhem os atletas. Conversámos com Aaron Barnett , senior director de Global Apparel, do departamento de futebol da Nike, e responsável pela criação dos equipamentos de várias seleções, entre as quais a equipa das quinas.
Aaron Barnett começa por explicar que a criação dos equipamentos é "um processo que dura cerca de dois anos", entre desenhos, protótipos e aprovações. "No caso de Portugal, tivemos conversas com a Federação [Portuguesa de Futebol] para começarmos esta viagem juntos".
Os equipamentos, sem costuras, recorrem à inovadora tecnologia Dri-FIT ADV, um sistema criado pela Nike para otimizar a a performance dos atletas. A meteorologia também foi um fator tido em conta, porque, em novembro, no Qatar, as temperaturas vão estar entre os 24ºC e os 34º.
O especialista da Nike explica que a criação dos equipamentos teve em conta essa especificidade, além do facto de os atletas estarem a viajar e serem submetidos a diferenças de temperatura, e a outros fatores, como ar condicionado. "Começámos pela performance em campo, que temperatura é que os atletas vão encontrar quando estiverem a jogar. Foi aí que criámos à tecnologia Dri-FIT ADV, que faz videomapping ao tecido."
Barnett detalha que, para compor o tecido e a estrutura dos equipamentos, a Nike usou "digitalizações dos corpos dos atletas, mapas de temperatura, mapas de suor". "Depois, o que fizemos, e que é novidade, foi desenhar a quatro dimensões, sendo a quarta dimensão o movimento", descreve o responsável da Nike.
E quanto aos calções? "Tudo se resume ao ajuste. Este ano aplicámos a tecnologia ADV aos calções. A rede é muito leve. Os atletas não querem os calções demasiado justos, não se querem sentir presos, mas também não querem andar com uns calções estilo balão. Tudo se resume à forma física do atleta e ao ajuste. E é por aí que começamos. Também temos em conta o elástico da cintura, para que não seja uma distração e os atletas não tenham de se preocupar com o cordão partir. Fazemo-los simples e eficazes na performance", explica Aaron Barnett.
Depois da parte tecnológica, vem a parte estética, com cada federação a querer que os respetivos equipamentos espelhem o espírito dos países. "É um vai e vem. Por norma, é ótimo trabalhar com as federações. Têm uma visão, uma marca, querem contar histórias. Nós também propomos ideias. É um processo robusto. Já faço isto há muito tempo. Algumas federações são mais conservadoras, outras dizem 'vamos a isso, surpreendam-nos'. A Federação Portuguesa é igual".
No que toca ao equipamento principal da equipa das quinas, Aaron Barnett explica que "tornaram as cores mais vivas". "A ideia desta [camisola do equipamento principal] é recriar aquela sensação de quando se vai ver um jogo e se está embrulhado na bandeira, que é algo que os fãs fazem."
Quanto ao equipamento alternativo, além dos tradicionais símbolos da bandeira nacional, Aaron Barnett e a sua equipa trocaram o fundo branco pela cor "sail white", uma espécie de bege que, conjugado com a bainha azul marinho da camisola e dos calções, alude ao passado de Portugal como nação marítima.
A apresentação dos equipamentos da Seleção Nacional gerou uma onda de críticas, com fãs a comentarem de forma negativa não só o equipamento principal, mas também as peças de roupa criadas para o aquecimento. Aaron Barnett reconhece que "não se pode agradar sempre a toda a gente" mas que os gostos dos fãs, que querem comprar as camisolas das suas equipas, são tidos em conta.
"Às vezes — e isto já aconteceu algumas vezes — lançamos uma camisola e os fãs dizem 'esta é a pior de sempre'. Cinco anos depois, pedem-nos para trazermos de volta a mesma camisola. É engraçado, toda a gente tem uma opinião."
Questionado sobre qual o equipamento que mais gozo lhe deu criar, Aaaron Barnett elege o da seleção canarinha. "O equipamento do Brasil, este ano, é lindo, com a referência à onça-pintada, e as cores muito vivas. Gosto de camisolas divertidas, acho que o futebol é o desporto para ser celebrado."
Aaron Barnett é norte-americano e, como muitas crianças daquele país, cresceu a jogar futebol na escola. Na Nike há 26 anos, passou de jogador a fã quando começou a trabalhar no departamento de futebol da marca. "A minha ligação foi crescendo ao longo dos anos. Trabalhei na divisão de futebol da América Latina. Vivi duas vezes na Europa e trabalhei cá. Tornei-me fã e estudioso do desporto. Sinto-me sortudo por trabalhar nisto, o futebol nunca pára", garante.
Questionámos Aaron sobre quem acha que vai ganhar este Mundial. "A França está muito bem e nunca podemos descartar o Brasil. Têm estado muito calmos. Como norte-americano, temos este eterno otimismo por isso, se conseguirmos sair daquele grupo, veremos o que acontece. Diria que França e Brasil, mas qualquer um pode ganhar. Estou muito entusiasmado para ver a competição."
O equipamento oficial está à venda no site da Nike. Os preços variam entre os 140€ (camisola principal) e os 18€ (meias). A camisola de aquecimento, que foi muito criticada nas redes sociais, custa 60€.