Catarina Miranda deve ser por estes dias o nome mais falado deste país. Em plena campanha eleitoral para as Europeias, o país não discute as políticas globais que mais poderão ajudar Portugal, o país discute a expulsão da concorrente do "Big Brother", e divide-se sobre a decisão da produção do programa.

Mas este crónica não é sobre nada disso, nem sobre a expulsão desta concorrente nem sobre a importância das pessoas que vivem na casa do "Big Brother", que são estrelas aqui como são nos países que nós achamos que são muito mais cultos e evoluídos, como França, Alemanha, Holanda ou Suécia — ou seja, não é um mal português.

Um ponto prévio: não vi, atentamente, esta edição do "Big Brother". Fui dando um olho, lendo notícias, vendo a agitação nas redes sociais. Ou seja, não me peçam que me recorde daquela discussão entre a Catarina e o João, ou aquele murro na mesa da Renata ou quando a não sei das quantas insultou fulano. Não sei, não vi. Mas, uma vez mais, esta crónica não é sobre o que se passou, especificamente, dentro da casa do "Big Brother".

O fenómeno Catarina Miranda foi o que me fez olhar, de forma mais atenta, para esta concorrente. Era falada em todo o lado, foco das notícias de revistas e sites de entretenimento, protagonista de quase todos os momentos falados do "Big Brother". O que é que ela estava a fazer para que isto acontecesse? Fui ver.

E o que vi foi uma pessoa totalmente desequilibrada, instável, com um ego do tamanho do mundo e que vivia obcecada em que tudo girasse à sua volta. Discutia com toda a gente, armava confusão com toda a gente, tinha comportamentos absolutamente inaceitáveis em quem quer viver cordialmente em sociedade, e nós, cá fora, a rirmo-nos de tudo isto. E está certíssimo. É para isso que serve o "Big Brother", para nos entreter com a vida dos outros. E também está certíssimo que uma concorrente queira divertir e entreter quem ela sabe que a está a ver, aliás, foi para isso que ela entrou ali para dentro.

O problema não é esse. O problema é a adoração generalizada em relação a estas pessoas que praticam e promovem estes comportamentos irascíveis, normalizando-os, glorificando-os, criando uma relação direta entre agir desta forma e, com isso, tornar-se popular. Foi isso que Catarina Miranda fez na maior parte do tempo em que esteve dentro da casa do "Big Brother". Discutiu com toda a gente, teve comportamentos de bully em relação a toda a gente, infernizou a vida a toda a gente, manipulou toda a gente, foi agressiva, insultuosa, e, com isso, ganhou atenção. E essa atenção alimentou-a, alimentou o seu ego, que foi crescendo na mesma medida em que recebia cada vez mais atenção e se sentia mais importante.

Após ter sido expulsa, claro que para Catarina Miranda a interpretação do "jogo" é simples: tudo o que ela fez de errado na casa foram atos de uma personagem que ela criou, com o objetivo de dinamizar o jogo, era uma estratégia, e tudo o que ela fez de positivo era ela a ser ela própria, era genuíno. Esta dissonância, este alheamento, é um traço narcísico próprio de quem tem uma perceção totalmente errada de si mesma. De quem se acha muito mais do que na realidade é, ou vale.

Na entrevista que deu a Cristina Ferreira, após ter sido expulsa, Catarina Miranda evidenciou ainda mais esta característica egóica. De acordo com a sua visão, ela está a par dos melhores concorrentes de sempre do "Big Brother", tem tudo para ser uma estrela na televisão, uma apresentadora de programas, uma comentadora de realities, sempre num nível superior, sempre a ombrear com os melhores, com quem faz disto vida há anos, ou décadas. E há aqui uma misturada muito grande que é importante que se clarifique.

O facto de uma pessoa ser uma grande concorrente de um reality show não faz dela uma boa pessoa. Não faz dela um exemplo. Não faz dela alguém competente. Para se ser um bom concorrente de um reality show tem de se saber entreter as pessoas. E isso não é fácil, claro que não é. Requer estratégia, trabalho, resistência, resiliência. E requer também saber o que entretém as pessoas que veem estes formatos, e, sabe-se, nada agarra mais audiências do que discussões, peixeiradas, gritaria, comportamentos agressivos. Quem é que não para para assistir a uma boa discussão na rua? Toda a gente. Na televisão é igual.

Ou seja, que Catarina Miranda seja excelente a criar peixeiradas e a gerar discussões, perfeito, ótimo para a TVI e para o "Big Brother". Que isso faz de Catarina Miranda uma heroína, alguém adorado pela sociedade, um exemplo, um modelo, isso é que já é muito preocupante. Tal como é preocupante alguém achar que o caminho para o sucesso, para a fama, seja esse, o de ser um bully em horário nobre. É, verdade, mas é o caminho fácil, o caminho preguiçoso.

"O meu objetivo sempre foi ser famosa", disse Catarina Miranda a Cristina Ferreira. Mas há muitas categorias de famosos. E aqueles que não se importam em qual categoria se encaixam, querem é apenas e só ter o rótulo de "famoso", esses são casos clínicos.

Esta concorrente acha-se capaz de ser apresentadora de televisão e vê-se num "Somos Portugal". Tem a certeza de que irá roubar o lugar de comentador a quem ocupa essa cadeira. Nenhum problema em ter-se ambição. Mas nada pior do que querer subir a qualquer custo, passando por cima dos outros, e sem se ter a preocupação base de se ser melhor, exímio, perfeito, em trabalhar-se na área, começar-se por baixo, batalhar-se para se chegar a um fim. Catarina Miranda acha que o lugar de apresentadora ou comentadora deve ser dela porque ela é ela, não porque ela tenha estudado para isso, feito um percurso, provado. Catarina Miranda até pode achar que pode apresentar o "Somos Portugal" porque há outros apresentadores que, tal como ela, vieram de um reality. Mas o que ela deveria era entender que ser apresentador de televisão é uma profissão, uma profissão de enorme visibilidade, que obriga a talento natural, mas também a muito estudo, dedicação, trabalho, experiência. Quando Catarina Miranda falou, em entrevista a Cristina Ferreira, tinha em frente a ela alguém que fez esse caminho das pedras, que lutou, que começou de baixo, que passou anos e anos e anos a batalhar para chegar onde chegou. Mas para ela, ser apresentadora de televisão é-lhe quase um direito natural, um destino. Não é. Pelo que se percebeu nestes meses de exposição, falta-lhe um elemento básico: saber falar português correto. É isso, no mínimo, que se pede a quem segura um microfone em frente a centenas de milhares de pessoas, que assistem em casa. Falta-lhe também humildade. Insinuar-se, num canal de televisão, que se não lhe derem o que ela quer irá imediatamente para a concorrência é revelador de muita coisa. E nenhuma delas é boa.

Alguém tem de dizer a Catarina Miranda que ela nunca será uma grande apresentadora de televisão. Nem nunca será famosa por ser uma ótima pessoa, um talento natural, uma grande profissional da televisão. Quanto muito, será uma eterna participante de realities de famosos, onde poderá ser ela mesma, uma bully que entretém as pessoas com o seu mau feitio. Será carne para canhão das televisões sem saber que o é, mas tirando o máximo prazer disso. E está tudo certo. Ganham todos.