Andar de bicicleta entre as vinhas de um gigante campo alentejano tem qualquer coisa de cósmico. É que, ali, sem mais ninguém, temos a certeza de que somos um ponto ínfimo no universo. Em cima das BTT que a Herdade dos Grous fornece gratuitamente a todos hóspedes consegue sentir-se isso, quando se anda pelos trilhos verdes, pelos campos, ou quando se vai conhecer a casa na árvore, que tem qualquer coisa de casa de bonecas, ou quando se passa por uma maravilhosa piscina infinita. Há lá coisa mais idílica do que esta?
Dois dias antes, numa sexta-feira de julho, a chegada fez-se à noite. Pouco faltou para não dormimos no carro. É que no Google Maps as indicações para a Herdade dos Grous — em Albernoa, a 17 quilómetros de Beja — ainda não foram atualizadas com as estradas novas que por lá se construíram. Depois de muitas chamadas para a unidade (sem resposta) a esperança ia decrescendo, até ao momento em que nos aventurámos numa estrada que ainda não tínhamos percorrido — nas outras já tínhamos dado inúmeras voltas. Foi essa que nos levou ao sítio certo, num feliz acaso do destino.
Avistámos a receção deste espaço detido pelo Vila Vita Hotels, mas nem foi preciso entrar. A casa onde iríamos ficar instalados era do lado oposto, naquela enorme propriedade hoteleira e de produção vínica. Tem um total de 1.100 hectares, área que integra 32 alojamentos — divididos por várias tipologias (quartos duplos, suites juniores e suites master) — espalhadas por três polos, duas piscinas, uma quinta, duas caves de vinhos, um enorme lago de 98 hectares, com direito a passeios de gaivotas ou canoa, e ainda um restaurante com comida tipicamente alentejana.
A apresentação do sítio onde iríamos dormir, no Monte dos Grous, foi breve, demasiado breve. É que assim que entrámos, a funcionária deu-nos as chaves para a mão, fechou a porta e desapareceu. Ficámos assim, meio perdidos, numa casa senhorial, sem percebermos se estávamos por nossa conta ou se por lá dormiam mais pessoas. Com pezinhos de lã, fomos explorando as divisões. No final, percebemos que tínhamos o espaço só para nós e que, em cima da mesa de jantar, aguardava-nos uma garrafa de vinho produzida naquela herdade.
Com um quarto, duas casas de banho, uma enorme sala de estar, de jantar e cozinha equipada, a decoração fazia-se de azulejos nas paredes, sofás estofados com flores e muita mobília de madeira. A sensação que nos invadiu foi de que estávamos numa casa que não nos pertencia. Nisto dos hotéis e turismos rurais, não se querem espaços demasiado impessoais, mas o oposto também não é a medida ideal.
Não estávamos enganados. Aquela casa tinha pertencido aos senhores Pohl, os antigos donos da propriedade alemães (agora a cargo dos filhos), que adquiriam a quinta na década de 90. Foi só depois de maio que esta casa senhorial do Monte dos Grous (que integra, em baixo, seis suites) se abriu também aos hóspedes, mantendo praticamente tudo na sua decoração.
"Tem muitos traços alentejanos — pé direito, azulejos — mas também alguns traços nórdicos, como as loiças o balcão central da cozinha, o closet, o estilo dos cortinados", explica à MAGG Aurélio Picareta, diretor residente da Herdade dos Grous.
Habituámo-nos rápido à casa, sobretudo quando, no dia seguinte, corremos as cortinas para percebermos a dimensão da herdade onde estávamos. Os olhos não lhe conseguiam encontrar o fim, mas deixavam ver cavalos, um enorme lago, e zonas verdes de perder de vista. Além disso, a maravilhosa (e imensamente fotogénica) piscina infinita, para onde corremos no sábado de manhã, pouco depois de acordarmos. A partir deste momento, entregámo-nos a um ócio bom, que só largamos na hora de voltar a Lisboa. Às vezes, desligar o interruptor do stresse é tudo aquilo de que precisamos e a Herdade dos Grous é o sítio perfeito para isso.
Mas, antes, passámos pelo pequeno-almoço, com uma oferta muito pouco proporcional à beleza natural da herdade. Além de muito reduzida, notámos que o sumo de laranja, identificado como natural, sabia, antes, aos pós que se misturam em água e que servem dezenas de pessoas. Por outro lado, a esplanada ao ar livre em que pode ser feita esta refeição é tudo de bom. É que, em qualquer canto da Herdade dos Grous, há paisagem e sossego.
Problemas com que nos fomos deparando dentro da casa: além da decoração excessiva, eletrodomésticos teimosos que não queriam trabalhar — para depois entendermos que não estavam ligados à ficha — e uma banheira com jacuzzi, que nos induziu em erro, porque não funcionava.
Mas podemos considerar que isto são preciosismos. O que está dentro não só satisfaz, como não interessa muito. É que do outro lado das portas e das janelas, há todo um mundo verde e amarelo para explorar. É calçar os ténis e fazer os trilhos a pé. É agarrar nas bicicletas estacionadas à porta de cada quarto e tentar conhecer todos aqueles hectares. Pelo meio, parar para cumprimentar as cabras e os bodes, as avestruzes, ou os cavalos. Ou ainda para jogar matraquilhos ou ténis de mesa.
E se estamos numa herdade vínica, não podiam faltar as visitas às vinhas, que ocupam 70 hectares, de onde nascem as castas alentejanas como o Antão Vaz ou o Aragonez. Ou passar pelas caves, forradas a xisto, repletas de barricas e fazer uma prova de vinhos. Quando a fome aparecer, é ir ao restaurante, com capacidade para 90 pessoas, provar os sabores alentejanos, com especial destaque para o couvert, petiscos e, claro, vinhos.
Os preços por noite na Herdade dos Grous variam entre 115€ e os 380€.
*A MAGG esteve no hotel a convite da Odisseias