Eu nunca gostei de gatos. Aliás, se pensar bem, continuo a não gostar assim tanto. Para mim funciona um bocado como as crianças. Não sou particularmente fã, mas sei que vou gostar muito das minhas. E assim foi com o Feijão, o gato que trouxe do norte para me fazer companhia em Lisboa, e do qual, nem sei bem como, gosto muito.
Na hora da adoção, não pude evitar um certo sentimento de culpa, uma vez que o meu principal critério era que fosse bebé. Não só porque, convenhamos, (quase) tudo o que é pequeno tem mais piada, mas porque queria que os seus 200 gramas de gato se habituassem ao que era viver nos poucos metros quadrados do meu T1.
Depois de alguns chichis na minha almofada e cocós que falham o alvo de areia, conseguimos entender-nos, e a convivência tornou-se pacífica. Exceção feita para a hora em que decido sentar-me à mesa para comer. É que aquele gato não é um gato, é na verdade um Golden Retriever em fase de crescimento. Desde sopa a iogurtes, lentilhas ou mel, já o apanhei a tentar lamber de tudo. E bolachas de arroz, daquelas tipo pipoca e de que ninguém no seu estado normal admite gostar realmente? Ele adora.
E é exatamente na hora de lhe dar de comer que mais me debato com a minha consciência ecológica. É que por cá ainda não encontrei um sítio de venda de comida de gato a granel, e tudo é feito de sacos e saquinhos. Não admira por isso que, quando fui ao Peru, dei por mim a tirar mais fotos à comida a granel para animais que existia em tudo quanto era mercado, do que propriamente a igrejas e catedrais.
O meu truque, por agora, é comprar os maiores sacos que consigo encontrar, mesmo que o tenha que fazer online — que, por sinal, fica até mais barato. E o mesmo para a areia. Por muito que me custe subir as colinas de Lisboa com dez quilos às costas, é o preço a pagar por menos umas embalagens.
E já que falamos em areia, falemos também de cocós. Não se deixem enganar pelos 200 gramas de gato que me chegou a casa a fazer três bolinhas por dia. Ele cresceu, já pesa aí uns quatro quilos e o cocó já faz com que esgravate a areia a parecer que vai cavar um túnel até perto da Nova Zelândia. (Não pensem que atirei a Nova Zelândia para o ar, eu faço o meu trabalho de casa. Este mapa mostra onde iríamos parar se de facto cavássemos um túnel até ao outro lado do mundo e o nosso calha no Pacífico).
Para o apanhar, uso daqueles panfletos que nos vêm parar ao correio ou os saquinhos de papel das compras a granel. Não é perfeito, mas é melhor do que sacos de plástico. Faço também uma jigajoga para que a limpeza total da areia e cocós calhe no dia em que o saco do lixo orgânico está pronto a ir para o contentor. Assim, já é menos um saco a ser desperdiçado.
E como na minha vida, o ambiente pesa tanto na hora de comprar quanto pesa o orçamento apertado, a ideia é sempre a da poupança. E qual criança que herda a camisa de bombazine que já passou por sete primos, também o Feijão herda de bom grado os brinquedos que a Amélia da outra Marta da MAGG já não quer. Brinquedos que vibram, arranhadores, não dizemos que não a nada.
É que os gatos funcionam um bocado como os bebés — se calhar estou a levar esta comparação longe de mais, espero que os grupos de mães não leiam isto. Ou então quero, que elas são muitas —, para os quais investimos em brinquedos que apitam, brilham e falam e, no final, eles ligam é ao caixote onde vem embalado ou ao papel que serve de embrulho.
É por isso que todos os dias vou inventando brinquedos. É o papel de alumínio que vira uma bola que dura durante uma semana, o copo de iogurte que o faz andar aos pinotes durante horas ou a tampinha do leite que — pasmem-se — o ensinei a ir buscar e a trazer-me à mão.
Depois de sete meses de vida em comum, continuo a não adorar gatos. E também não sei se ele está contente de ter vindo parar a uma casa zero waste. Mas é nesta relação de cocós, ração de dez quilos e tampinhas que viram brinquedos que seguimos. E muito felizes, que isto cada um sabe de si, e deste gato-cão minimalista sei eu.