Lançámos a discussão no Facebook: por que razão é que discutem mais na vossa relação? Exatamente 160 pessoas responderam a esta questão e os resultados não podiam ser mais claros. Em primeiro lugar ficou o dinheiro (22%), seguido das tarefas domésticas (20%) e dos filhos (16%). Ficou fechado o Top 3, e o nosso pequeno inquérito nem sequer era de resposta fechada.

Houve outros resultados interessantes. 14% responderam falta de comunicação/empatia; outras razões, como fome ou diferenças culturais (12%); sogros (8%); cansaço/falta de paciência (3%); família (3%); e sexo (1%). A julgar por esta amostra é por estas razões que os casais portugueses discutem mais.

Na opinião da terapeuta de casal Catarina Mexia, é importante que os parceiros saibam identificar o motivo pelo qual entram mais em conflito. "Nunca discutimos 'por tudo e por nada'. Ou temos motivos como aquelas que [os inquiridos] identificaram, e que muitas vezes traduzem diferenças de aprendizagens e vivências com as famílias de origem, ou necessidades emocionais que não estão a ser preenchidas na relação."

Portanto, perceber e conversar sobre a discussão é importante, de modo a tornar o conflito numa solução e não numa agressão. E não se preocupe por fazê-lo: "Discutir ou comunicar em torno das diferenças é próprio de um casal feliz. Não resolver uma discussão já não é".

A MAGG pediu a vários casais que nos relatassem algumas das discussões mais frequentes que têm. O dinheiro, filhos e tarefas domésticas voltaram a ser referidos, mas também as diferenças no tempo de ação e até o snooze. Alguns não conseguiram resolver as diferenças, outros ainda continuam juntos. Contamos-lhe tudo.

Por que razões discutem os casais?

Dinheiro

“Ele ganhava muito mais do que eu, uma vez que não tem um horário fixo, e achava que eu tinha de pagar a mesma percentagem das despesas que ele. Não percebia que o facto de eu ter um horário, e me dedicar à casa e aos filhos, me impedia de ganhar mais”.

Cláudia Miguel e Rui Bravo, 31 anos, educadora de infância e mecânico

Sogra

“A maior fonte das nossas discussões eram os pais dele, mais concretamente a mãe. Ela queria sempre impor a vontade dela e ele nunca teve coragem para dizer que não. Eles não tinham uma relação muito próxima, mas ela usava imenso a chantagem psicológica para o atingir, como por exemplo dizer que ia morrer. Ela tem quase 91 anos, e desde os 70 que usava este argumento.

Quando engravidei foi um terror. Primeiro queria que déssemos o nosso cão, com 13 anos, porque o bebé podia engolir um pelo e morrer sufocado. Eu estava a dormir e acordei com ela a dizer que já tinha um sítio para o cão ir. Acabei por me vestir e sair pela porta de casa. Ele telefonou-me e eu estava a chorar sentada num jardim. Demorou mais de 1h30 a vir ter comigo porque ela também começou a chorar e ele ficou a consolá-la, embora o pai também estivesse lá.

Toda esta situação acabou por culminar num ponto em que eu já não aguentava a pressão. Ele dizia-me que eu é que tinha que gerir o que a mãe dele fazia e dizia, porque era mais inteligente, mais capacitada para o fazer. Cansei-me, andava a antidepressivos, já não queria saber de nada. Estivemos 23 anos juntos".

Tânia e José Dias, 41 e 45, consultores de informática

Tarefas domésticas

"Eu trabalho fora e dentro de casa e fico sobrecarregada, mas ele acha sempre que só ele é que está cansado. Quando lhe digo que preciso de ajuda diz que está cansado, ou então não responde."

Deise e Franklin Moraes, 30 e 33 anos, psicóloga e administrador

Personalidades diferentes

"Creio que a maior fonte de discussão tem que ver com o facto de sermos muito diferentes, o que nos faz discutir por hábitos que temos e que não vamos mudar. Ela reclama que eu não me despacho, a mim chateia-me que ela deixe os ténis no meio da sala e as embalagens de comida espalhadas pela casa, como por exemplo o iogurte. Às vezes também discutimos por certos traços de personalidade de cada um, como por exemplo ela perder a paciência facilmente ou eu estar sempre a mudar de ideias."

Inês Tomé e Adriana Leirinha, 34 e 28 anos, militar e funcionária pública

Educação dos filhos

"Somos casados há já 20 anos e o que tem sido mais difícil de gerir é universalizar a diferença. No dia a dia vão surgindo choques de realidades que cada um de nós vive de forma diferenciada. Isso acontece bastante em relação aos nossos filhos. As maneiras de pensar, sentir e atuar do Cristian parecem, do meu ponto de vista, um pouco vintage. Contudo, a construção do ser humano passa pelas relações interpessoais. E é aí que se consegue resolver, de algum modo, as diferenças que temos. Comunicar é fundamental.

Avaliando de forma criteriosa, se calhar às vezes sou egoísta porque, efetivamente, estou no meu país e tenho a minha família junto de mim. De qualquer forma, o Cristian herdou tudo isso por afinidade. E, assim, vamos criando intercâmbios culturais para facilitar as diferenças. Passou por dividir responsabilidades, isto é, o Cristian ficou com a gerência financeira e eu com a gerência familiar. Tudo o que significa pagamentos, compras e trabalho físico é responsabilidade do Cristian, parentalidade em todos os âmbitos ficou para mim. Até agora está a funcionar. Mas de facto é preciso muito amor e isso nós temos que chegue."

Cláudia Mestre e Ioan Cristian Runcan, 45 e 43 anos, assistente técnica na Câmara Municipal de Lisboa e chef de pastelaria

Snooze

"O snooze. Sempre que dormirmos juntos discutimos porque o despertador toca e eu levanto-me logo. Ele fica na cama pelo menos mais uma hora, sempre a fazer snooze no telemóvel de dez em dez minutos. Depois queixa-se que chega atrasado ao trabalho. É pior ainda quando eu posso ficar na cama até mais tarde do que ele, uma vez que ao primeiro toque do despertador já não consigo dormir mais. Discutimos sempre sobre isto. O que é que lhe custa levantar assim que o telemóvel toca?".

Rita Tavares e Tomé Santos, 29 e 28 anos, tradutora e advogado

Amigos do café

"Os amigos do café. Ele acha que chegar do trabalho às 21 horas porque antes esteve no café com os amigos, a ver um jogo de futebol ou simplesmente a beber uma cerveja, é normal e não tem mal nenhum. Faz isto entre duas a três vezes por semana. Detesto isso. Como retaliação, não lhe passo a roupa a ferro e não faço amor com ele. Ele fica aborrecido e diz que não compreende a minha atitude, porque chegar às 21 horas não é tarde."

Maria e Paulo Pereira, 52 e 49 anos, bancária e chefe de vendas

Tempos de ação

"Férias, por exemplo. As minhas férias: cartão de crédito, mochila às costas e pé na estrada — estou pronta. As férias da Helena: marcar no calendário oito meses antes (ou mais), comprar bilhetes de avião sete meses e 29 dias antes, reservar hotel sete meses e 28 dias antes (depois de pesquisar 500 hotéis diferentes). Agora que já está tudo 'pronto', vamos pesquisar as atrações e os transportes (sete meses antes)... Sem espaço para surpresas, situações novas e espontâneas, tudo bem calculadinho.

Compras: vou a uma loja, experimento umas peças e compro uma ou duas. A Helena anda pelo centro comercial inteiro à procura 'daquela' cor, 'daquele' modelo e 'daquele' charme que só ela sabe e quase nunca encontra. Vamos sair, a um cinema, por exemplo: 'Não vamos, não! Não combinámos nada para esse fim de semana'. E lá se vai a espontaneidade. Já temos todas as prendas de Natal compradas desde novembro".

Flávia Carvalho e Helena Carvalho Pena, 48 e 53 anos, rececionista e médica

Educação dos filhos de um dos membros do casal

"Os meus filhos. Estamos juntos há cinco anos e meio, e temos filhos de outros casamentos (não temos nenhum em comum). Discutimos quando ele critica ou 'ataca' os meus filhos, e a educação que diz terem ou não terem. Eu tenho dois filhos, uma rapariga de 18 anos e um rapaz de 11. A convivência entre o meu companheiro e a minha filha foi-se deteriorando ao longo destes anos. Ela entrou na adolescência e ele nunca saiu dela [risos]. Tiveram alguns embates e eu estive no meio.

Ela começou a dar respostas tortas a toda a gente, num tom muito arrogante, e ele não lhe admitia. Discutiam muito. Um caso concreto: há uns anos estávamos a jogar ao Stop, e ela começou a refilar com uma contagem — mas já a falar alto. Ele passou-se e bateu com a chávena de café na mesa, que se partiu e um pedaço bateu na orelha do miúdo. Deu discussão séria sobre a continuidade da relação.

Expliquei-lhe desde cedo que a educação dos meus filhos sou eu que dou, visto que temos linhas muito diferentes. Mesmo quando ele tinha razão, custava-me muito e acabávamos a discutir."

Teresa Salvado e Sérgio Rodrigues, 47 e 46 anos, jornalista e engenheiro informático

Estratégias a implementar durante uma discussão, segundo uma terapeuta de casal

  • Nunca discuta de barriga vazia. A hipoglicémia é inimiga da ponderação, da calma e do bom senso;
  • Se sente que está a ficar assoberbado com o tema, peça "time out" e afaste-se por uns minutos, ou até umas horas, para conseguir relaxar. Um estado de stresse intenso pode provocar uma situação fisiológica em que a nossa capacidade de ver, ouvir e compreender a realidade que se nos apresenta está comprometida. Isto faz com que a frase "não ouviste nada do que te disse" muitas vezes traduza uma realidade;
  • Escolha a hora e o dia para a sua conversa e procure prepará-la de preferência por escrito. A distância emocional que se gera por vermos os nossos argumentos explanados numa folha de papel é uma ajuda preciosa para organizar emoções. Acordem um intervalo de tempo para a vossa conversa e não o excedam;
  • Ouça, ouça, ouça e volte a ouvir o que outro tem para dizer antes de responder. Muitas vezes não ouvimos para entender mas apenas para responder;
  • Evite construir as suas frases usando o "porque tu". Diga o que sente, o que precisa, o que propõe. A primeira formulação será, tendencialmente sentida como uma agressão;
  • Deixe o passado no passado. As discussões só valem para resolver situações do aqui e agora, e encontrar soluções que serão postas em prática no futuro.