Bastava mudar o estilo de vida para diminuir o número de todos os cancros. Este alerta-pedido que tem vindo a ser proferido por médicos e cientistas, ganhou agora mais força. Um novo estudo, realizado pelo Cancer Research do Reino Unido diz que mais de 2500 diagnósticos semanais de cancro seriam evitáveis se as pessoas alterassem alguns hábitos.
O prestigiado instituto britânico adianta que 40% dos cancros não existiriam no país se as pessoas deixassem de fumar, não tivessem excesso de peso, bebessem menos álcool, não apanhassem sol a mais e comessem alimentos com mais fibra e respirassem ar menos poluído.
Esta realidade não é exclusiva dos ingleses. Os números podem variar mas a verdade mantém-se para todo o mundo e, claro, também para Portugal. “Entre 25 a 35% de todos os cancros na idade adulta seriam evitáveis com mudanças no estilo de vida” diz à MAGG Manuel Sobrinho Simões, que há mais de cinco décadas estuda o cancro.
O investigador, fundador do conceituado Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e co-director do I3S (Instituto de Inovação e Investigação em Saúde) é muito claro: “Se fizéssemos coisas tão simples como evitar a obesidade, o excesso de exposição ao sol e de consumo de álcool, deixar de fumar e tomar as vacinas de HPV e Hepatite B, diminuíamos drasticamente o número de cancros”.
Em Portugal morreram em 2016 (dados mais recentes disponíveis), 27.900 pessoas com cancro. No ranking dos mais frequentes ou mais mortais estão os cancros do pulmão, do cólon e do reto, do estômago, da próstata e da mama. “Todos eles se associam ao estilo de vida”, garante Sobrinho Simões.
O perigo do excesso de peso
O Cancer Research diz que fumar é a “causa mais evitável do cancro seguido do excesso de peso”. A obesidade está quase a ultrapassar o tabaco como o factor que mais conduz ao cancro, avisam os investigadores ingleses.
Sobrinho Simões confirma que este é também um dos grandes problemas dos portugueses, que têm uma dieta hipercalórica e com muito sal e gordura. “A obesidade está ligada ao cancro de mama, a alguns do esófago e do estômago alto, à diabetes (sendo que os cancros em diabéticos não controlados são mais frequentes e há alguma evidência de que são mais agressivos) e, aliada ao sedentarismo, ao cancro da próstata”.
Portugal, por exemplo, regista mais cancros do estômago do que a Inglaterra, a França e a Alemanha, refere Sobrinho Simões. "Isso deve-se à prevalência do Helicobacter pylori (bactéria) por um lado, e, por outro, à obesidade. A nossa alimentação, muito rica em sal e gorduras, é má. Temos mais cancro do estômago não por causa dos genes, mas pelo estilo de vida”.
Segundo o estudo, publicado recentemente no British Journal of Cancer, a obesidade causa 13 tipos de cancro diferentes como o do intestino, útero ou mama. Mais do um em 20 casos poderia ter sido prevenido se se tivesse mantido um peso saudável, concluem os investigadores.
O nosso desafio é o homem sócio-cultural, não o homem biológico”
O médico e cientista português já não tem tantas certezas quanto o Cancer Research em relação ao papel dos alimentos com fibra e considera que a influência da poluição ambiental, indiscutível na Índia e na China, não está provada na Europa.
Mas é peremptório quanto à urgência em alterar o estilo de vida: “O nosso desafio é o homem sócio-cultural, não o homem biológico”. Já Harpal Kumar, director do Cancer Research sublinha que este estudo comprovou que a prevenção “é o meio mais eficaz de vencer esta doença mortal”.