Em Portugal, as mulheres passam por mais operações à coluna do que os homens. Estes são dados do primeiro estudo feito no País sobre cirurgia da coluna no Serviço Nacional de Saúde (SNS), que analisou as operações a esta zona do corpo efetuadas em hospitais públicos portugueses entre 2011 e 2016, e foi divulgado esta terça-feira, dia 16 de outubro, Dia Mundial da Coluna.
De acordo com o estudo, 54% dos doentes operados à coluna — constituida por 33 vértebras, protege a espinal medula e constitui uma parte fundamental do sistema nervoso central — são mulheres, dados confirmados por Manuel Tavares de Matos, presidente da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV), uma das organizações promotoras da investigação. “A patologia incapacitante da coluna parece afetar sobretudo o sexo feminino e em idade ativa”, afirmou o presidente da SPPCV num evento que decorreu na Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa, acrescentando que "estas patologias são altamente incapacitantes e fonte de um decréscimo de qualidade de vida dos doentes. O tratamento cirúrgico pode promover o mais rápido retorno à atividade deste grupo com evidentes ganhos não só psicossociais, mas também económicos”.
Com o objetivo de avaliar tendências e conhecer a realidade nacional e regional, o estudo foi realizado “para que possam ser identificadas as políticas de saúde necessárias nesta área”, explica Paulo Pereira, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia. No contexto das cirurgias à coluna, os três procedimentos mais realizados em hospitais portugueses são as artrodeses (46%), as discectomias (27%) e as descompressões (22%), facto que se justifica “por refletirem o tratamento das patologias da coluna mais frequentes. Os outros procedimentos são mais diferenciados ou específicos de outras patologias menos comuns”, explica Manuel Tavares de Matos.
Segundo dados da investigação, nesses cinco anos foram tratados 42.750 doentes que sofriam com dores de coluna e 46% destes casos aconteceram no Norte do País. “Estes dados espelham um maior número de acidentes de trabalho na região Norte, onde o trabalho no setor secundário é causa comum de hérnias discais agudas”, explica Nelson Carvalho, coordenador da Secção de Coluna da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia.
A região de Lisboa e Vale do Tejo ocupa o segundo lugar, com 37% das operações, seguindo-se o Centro, com 15% das cirurgias e, por último, o Alentejo e o Algarve, onde o SNS registou somente dois por cento das cirurgias. “As assimetrias geográficas não são exclusivas do nosso País, mas neste estudo em particular as taxas reais de cirurgia podem estar a ser muito influenciadas pela oferta do setor privado, uma vez que o estudo só contabiliza dados de cirurgias no SNS”, explica Paulo Pereira. No entanto, o presidente da SPNC alerta que "faltam guidelines sobre cirurgia de coluna” e sublinha que “são necessários protocolos de orientação e referenciação dos doentes e políticas de saúde, alinhadas com a necessidade da população e os recursos disponíveis, para que cada doente com uma patologia da coluna possa ter a orientação mais adequada à sua situação”.
Este estudo foi promovido pela Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral (SPPCV), bem como pela Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia (SPNC) e Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia (SPOT).