O presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa deu, no final da tarde de segunda-feira, 1 de dezembro, entrada nas urgências do Hospital de São João, no Porto. O Chefe de Estado foi operado a uma hérnia encarcerada, uma intervenção cirúrgica de "baixo risco", segundo a SIC Notícias, que “correu bem” e que fará com que o presidente tenha alta, em princípio, ainda esta semana.

Mas o que é, afinal, uma hérnia encarcerada? “Uma hérnia encarcerada é uma hérnia cujo conteúdo fica preso no orifício da parede abdominal, basicamente”, começou por explicar Sónia Ribas, cirurgiã geral e membro da direção da Sociedade Portuguesa da Hérnia e Parede Abdominal, à MAGG. “E, portanto, as hérnias podem ter conteúdos muito diferentes. Podem conter gordura, ansas intestinais ou até outros órgãos e, dependendo do conteúdo, poderá ser maior ou menor a gravidade desse encarceramento”, continuou.

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A única maneira de tratar uma hérnia é através de uma intervenção cirúrgica, algo a que o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa foi submetido. No seu caso, teve de ser uma intervenção urgente, uma vez que tudo aconteceu muito rápido, mas o ideal é que seja uma cirurgia programada. “A única forma de se tratar de forma definitiva ou potencialmente definitiva é com cirurgia”, começou por dizer.

“O ideal é a cirurgia programada, o que nós chamamos de cirurgia eletiva e, nos casos com apresentação com encarceramento, apenas com cirurgia urgente e emergente. Isto porque a instalação dos sintomas é rápida, sem melhoria e com agravamento e, se estas hérnias não forem tratadas num timing com alguma rapidez, num timing aceitável, podem trazer complicações para os doentes. E aí nós dizemos que há uma transformação da hérnia encarcerada em hérnia estrangulada, porque compromete o segmento de intestino que está envolvido na hérnia”, explicou Sónia Rigas.

Sónia Ribas
Sónia Ribas Sónia Ribas, cirurgiã geral

Esta intervenção cirúrgica  pode ser tratada com ou sem rede, que é uma espécie de próteses e uma forma de suplementação - no entanto, não se sabe se foi usada na intervenção ao Chefe de Estado. “É uma forma de suplementação ou de reforço da parede abdominal que se coloca em determinadas cirurgias, e que na cirurgia de urgência pode não ser possível utilizar, dependendo do tipo de contaminação da cirurgia”, disse.

Quanto a riscos e complicações, se a hérnia encarcerada não for resolvida atempadamente, a cirurgiã geral adianta que esta pode “levar a uma falta de circulação do intestino que implica ser necessário retirar parte do órgão”, sendo que, eventualmente, também pode “implicar uma perfuração intestinal, que é uma coisa muito grave e que poderá ter consequências” que nem os próprios médicos conseguem prever totalmente.

Fatores que influenciam, cuidados a ter e recuperação

Sónia Ribas adiantou ainda que existem muitos fatores de risco que influenciam o crescimento de uma hérnia, “como o envelhecimento, o aumento da pressão intra-abdominal e a realização de trabalhos pesados regularmente”, sendo que também acontece muito em “doentes com doença pulmonar crónica”.

Além disso, o tabaco é outro fator. “Enfraquece os tecidos e permite-lhes uma menor capacidade de cicatrização e, portanto, também pode estar implicado na formação das hérnias”, disse.

Para prevenir a situação, a cirurgiã geral explicou que o necessário é ter uma vida ativa, uma vez que fatores como o envelhecimento, o aumento da pressão intraabdominal e a doença pulmonar crónica não são controláveis. “O ideal é que se tenha uma vida ativa, com uma boa alimentação, um bom estado geral, digamos, mas a verdade é que poderá não ser totalmente evitável”, disse Sónia Ribas.

Se, porventura, chegar mesmo a acontecer, os cuidados a ter depois da intervenção cirúrgica são todos à base do repouso, existindo atividades da vida diária logo que possível depois do descanso. “Deve evitar fazer grandes esforços durante quatro a seis semanas, e retomar as atividades de vida diárias logo que possível. Levantar-se, fazer as suas refeições, não precisa de ficar de cama. Mas os esforços no pós-operatório e com o recondicionamento das atividades físicas são diferentes, dependendo se o doente é desportista ou se é mais idoso, por exemplo”, rematou.