Quando se fala do cuidado com a saúde ginecológica, são muitas as mulheres que dentro da gaveta de roupa interior têm vários pares de cuecas cujos tecidos não são os mais indicados. É um facto que, regra geral, cuecas em tecidos sintéticos acabam por ter padrões, formatos, ou tecidos mais chamativos mas, de acordo com Paula Ambrósio, ginecologista e obstetra, estas são opções a evitar.

"O ideal é que a roupa interior seja de algodão, portanto nada de fibras sintéticas, coisas que não deixem a pele respirar. Para pessoas muito sensíveis, o ideal até são cuecas brancas, sem cores ou tintas, mas isso é só mesmo para quem tem muita sensibilidade", explica a especialista. "Depois, a dificuldade é encontrar cuecas giras de algodão, são todas muito básicas. Há aquelas que têm a solução de ser só de algodão na zona que está em contacto direto com a vulva, e de serem mais elásticas por fora, mas convém sempre que sejam de algodão".

Durma sem roupa interior, faz bem à saúde
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O tecido sintético, como a renda, por exemplo, "promove muito a acumulação de humidade, e as pessoas sentem". "Não há ninguém que se sinta verdadeiramente confortável com umas cuecas de renda, sente sempre um certo desconforto, digo eu", partilha Paula Ambrósio. "Não é mesmo um material ideal, mas lá está, para o dia a dia, se for uma coisa pontual, não tem problema nenhum, não deve é ser usado sempre".

Quando ocorre um uso prolongado deste tipo de materiais o que pode acontecer, no caso de pessoas mais sensíveis, é "uma irritação contínua da pele, a alteração da flora vaginal, do pH, e isso pode mesmo ser suficiente para causar situações de vaginose bacteriana, por exemplo, que resulta numa desregulação da flora, com corrimento, odor intenso, já é um quadro clínico que pode não ter nada a ver com a roupa interior, atenção, mas que quem tem essa predisposição, pode ter mais facilidade depois em desenvolver esse problema, tem mais a ver com a alteração das condições ideias do equilíbrio da flora vaginal".

Percebemos já que o tecido de eleição deve ser sempre o algodão. Mas e quanto aos formatos? Será que também existem obstáculos à manutenção da higiene íntima neste aspeto?

"Em relação à forma, o fio dental é péssimo, porque é uma autoestrada direta entre o ânus e a vagina", afirma a ginecologista. "Acaba por haver um contacto muito mais fácil entre a flora anal, que é uma, e a vaginal, que é outra, portanto o fio dental acaba por não ser uma boa ideia, que obviamente se for usado pouco tempo, numa festa, por exemplo, tudo bem, agora para o dia a dia, não é de todo aconselhado".

"Acho muito pouco higiénico usar leggings sem roupa interior"

A tendência de utilizar leggings sem roupa interior no ginásio é algo a que várias mulheres já aderiram. De acordo com a "Activa", existem até profissionais que aconselham esta prática, de modo a evitar infeções pelo excesso de humidade. Mas será mesmo a melhor opção?

"As pessoas não gostam de usar roupa interior no ginásio porque marca, têm as leggings apertadíssimas e depois vê-se as cuecas, tenho doentes que me dizem: 'Doutora, mas é que depois assim vêem-se as cuecas'. Tem tudo a ver com a imagem que as pessoas querem passar, mas utilizar só umas leggings de licra é muito pior, mais vale usar umas cuecas normais (de tecido sintético), e as leggings por cima, até porque as cuecas têm sempre uma parte reforçada na zona da vulva. Acho muito pouco higiénico usar umas leggings sem roupa interior", diz a ginecologista.

De realçar também que a roupa não deve ser excessivamente apertada, de modo a permitir que a pele respire. "Tudo o que seja apertado é pior para respirar. O ideal é que a roupa de ginásio seja roupa larga, não devia ser roupa apertada, de modo a facilitar os movimentos, e com cuecas de algodão. Essa seria a minha proposta para roupa de ginásio. Do ponto de vista da saúde da região íntima seria o ideal".

"Para dormir é um clássico: o ideal é não usar roupa interior"

Apesar de reconhecer que muitas mulheres não são capazes de dormir sem roupa anterior, a ginecologista confirma que esta é a melhor opção para preservar a saúde íntima. "Para dormir é um clássico: o ideal é não usar roupa interior, isso é o melhor", diz Paula Ambrósio. "Durante a noite, por causa do calor da cama, existe um ambiente pouco propício à ventilação, portanto aí dormir sem roupa interior é uma boa ideia (...) é apenas uma questão de a pessoa trocar de pijama diariamente".

"Usar só o pijama largo, aí sim, porque a pessoa está deitada, e portanto a questão de deitar corrimento, por exemplo, não é tanto um problema, e há pessoas que recomendam, mas há outras que a ideia de dormirem sem cuecas, não dá, há quem não consiga mesmo, apesar de ser o ideal", aconselha a ginecologista.