Há anos que a gastronomia japonesa, em especial o sushi, se tornou uma das eleitas de muitos portugueses. Existiu um boom de restaurantes dedicados a esta iguaria nas grandes cidades (e não só), desde os regimes de "all you can eat" aos locais mais exclusivos com peças originais e deliciosas.
Mas para além de ser um tipo de gastronomia muito apreciada pela população, o sushi é também motivo de polémica quando o tema está relacionado com a gravidez. Há especialistas que proíbem as gestantes de consumir em absoluto este tipo de comida, outros não são tão fundamentalistas.
Mas existe também a ligação à toxoplasmose, com as grávidas imunes ao Toxoplasma gondii, o agente causador da toxoplasmose, a gritar vitória e a acharem que tal significa luz verde para comer todo o sushi do mundo. No entanto, e apesar da ideia que liga este parasita ao consumo deste tipo de gastronomia, tal não passa de um mito.
"A toxoplasmose não tem nada que ver com o peixe cru", explica à MAGG a obstetra Cristina Barbosa, do Hospital Lusíadas Lisboa. A especialista realça que o "único modo de contágio deste parasita são as fezes dos gatos", embora alerte que o sushi pode "ter outros problemas, como a má conservação do peixe".
No entanto, e de acordo com a médica obstetra, as grávidas podem consumir sushi, desde que este passe por um processo de congelação específico: "Existem métodos como a ultra-congelação, uma congelação rápida feita com máquinas especiais para o efeito, que mata qualquer bicho".
Os vários restaurantes de sushi que exibem menus para grávidas, à partida, devem recorrer a estes processos de congelação, mas mesmo que não existam menus apelidados como próprios para gestantes, pode sempre questionar o espaço sobre os métodos de tratamento do peixe.
De acordo com a especialista, se este passar pelo processo de ultra-congelação, o perigo é ultrapassado.
Os alimentos potencialmente perigosos para o contágio da toxoplasmose
Segundo Cristina Barbosa, e dado que o causador do contágio deste parasita são as fezes dos gatos, "todos os alimentos que crescem na terra e que estão expostos são potencialmente perigosos", tais como a alface, a rúcula, o agrião e os morangos, por exemplo.
É também verdade que os morangos são cada vez mais provenientes de estufas, onde estão protegidos — "mas não é possível garantir a origem, logo o melhor é evitar", diz a especialista.
"Também a carne mal cozinhada, como os bifes mal passados ou os bifes tártaro são de evitar, bem como o presunto e o chouriço, dado que os bovinos e os porcos podem estar em contacto com as fezes de gatos", salienta a médica obstetra.
Já o fiambre, que muitas vezes é também proibido na gravidez, não representa qualquer problema. "É cozido a altas temperaturas, apesar do aspeto mais fresco, e muitas das fábricas que já contactei garantiram-me que não há risco, devido às temperaturas dos fornos", relata Cristina Barbosa.
"A Amukina não reduz o risco de contaminação por toxoplasmose"
Qualquer grávida provavelmente sabe que deve lavar muito bem as verduras caso as vá consumir cruas. E nos últimos anos, o produto desinfetante Amukina ganhou fama como ideal para tornar qualquer alimento seguro para as gestantes, dado que elimina vários germes e bactérias.
No entanto, e apesar deste produto ser indicado para matar muitos microorganismos presentes nos alimentos, em particular nas saladas, tais como a salmonela, o mesmo não acontece com o parasita da toxoplasmose.
"A Amukina não reduz o risco de contaminação por toxoplasmose, não há desinfetante nenhum que possa aniquilar este bicho", garante Cristina Barbosa, que alerta que o vinagre também não tem qualquer poder contra este parasita.
A obstetra explica que "a forma mais eficaz de matar este parasita é através do calor, cozinhando os alimentos, ou caso os queira consumir crus, com uma lavagem eficaz em casa, de forma a arrastar os possíveis ovinhos, tal como se de um grão de areia se tratasse — e basta uma lavagem eficaz somente com água".
Assim, caso esteja grávida, deve evitar consumir verduras cruas ou saladas fora de casa, e manter-se longe das saladas embaladas, que indicam uma lavagem pré-feita, dado que esta não é suficiente (ou pode optar pela compra destes produtos, desde que os lave de forma eficaz).
Em alternativa, pode sempre "fazer uma boa sopa de alface, mesmo que não a tenha lavado antes", garante Cristina Barbosa. "A partir do momento em que é cozinhada, não há problema."