O humorista Nuno Markl, de 54 anos, revelou no passado domingo, 21 de dezembro, que teve um segundo AVC cinco dias depois de ter sofrido o primeiro - o que motivou o seu internamento prolongado. A revelação aconteceu durante o episódio "Isso Não Se Diz" de Bruno Nogueira, onde o comunicador explicou que, a 20 de novembro, tinha sofrido um AVC hemorrágico, e, cinco dias depois, acabou por sofrer um AVC isquémico. Isto acabou por regredir a sua recuperação, que, segundo Nuno Markl, já ia bastante boa.
"Eu não consigo bem distinguir os dois, foi um rolo de merda que me caiu em cima. O segundo, isquémico, eu já me estava a mexer, já mexia a mão, já segurava o telemóvel com esta mão, já conseguia lavar a cabeça com as duas mãos. O que o segundo fez, basicamente, foi não que eu regressasse a zero, mas a menos 30. Foi dos dias mais tristes da minha vida", começou por dizer o humorista, que explicou que, na altura, ainda pensou que pudesse ter que ver com ansiedade, uma vez que se sentia bastante ansioso nesse dia e com saudades de casa.
Além disso, Nuno Markl ainda relatou ainda a Bruno Nogueira como viu tudo a acontecer. "As enfermeiras precisavam que eu desse um jeitinho com as pernas para meterem uma maca dentro do meu quarto, e eu que já mexia as duas pernas pensei 'na boa', só que de repente olho para o pé e ele está parado. Pensei que ele estava preso a algo, mas depois percebi 'não, ele está completamente solto só que não mexe'. Chamei logo a enfermeira, o médico estava de folga mas veio ao hospital e disse que era uma 'raridade científica'", disse o humorista.
Então, afinal, não é comum acontecer um AVC isquémico depois de um hemorrágico, e é por isso que é uma raridade? Segundo o que Vitor Rocha de Oliveira, professor e neurologista, explicou à MAGG, a realidade é que é muito mais comum existirem AVC's isquémicos, e um isquémico depois de um hemorrágico é, de facto, incomum. "O que é mais frequente é haver um AVC isquémico e, quando há uma repetição, normalmente também é isquémico. Neste caso concreto, há com certeza outras patologias associadas para justificar uma situação que, de facto, é incomum".
E sim, se ainda não entendeu bem, estes são dois tipos de AVC completamente diferentes. Um AVC, segundo a CUF, resulta de uma lesão das células cerebrais, sendo que se trata de um AVC hemorrágico (o primeiro que Nuno Markl sofreu) quando estas células são inundadas pelo sangue que sai de uma artéria que se rompeu, ou, no caso de um AVC isquémico (o segundo que Nuno Markl sofreu), quando existe um bloqueio na artéria e o sangue e o oxigénio não passam.
"O AVC isquémico é um acidente vascular que resulta de um entupimento de um vaso sanguíneo que bloqueia a circulação e, portanto, os neurónios que são alimentados pelo sangue que vem nas artérias deixam de chegar a esses tecidos. Por outro lado, um AVC hemorrágico, como o próprio nome diz, é um derrame. Comparando com a canalização lá de casa, duas coisas podem acontecer aos canos: ou entopem, ou rompem, e aqui é a mesma coisa nesse aspecto", explicou o neurologista da Sociedade Portuguesa de Neurologia.
Posto isto, como este foi o segundo AVC que Nuno Markl sofreu, isso faz com que a recuperação seja muito mais lenta - também por isso é que já se passou um mês e Nuno Markl continua internado. Isto porque o primeiro AVC já criou uma certa vulnerabilidade cerebral, e o segundo AVC só acrescentou mais danos, afetando áreas que possivelmente já estavam fragilizadas. Além disso, uma segunda lesão pode ainda agravar certos défices motores e cognitivos, o que pode tornar as atividades diárias muito mais difíceis, de acordo com o site "Caminhos Pós AVC".
Além disso, o professor e neurologista Vitor Rocha de Oliveira esclarece que "a recuperação do AVC tem que ver com a causa e com a extensão da lesão, da destruição ou da devastação que o acidente provocou", sendo que a fisioterapia é bastante importante. "É importante sobretudo nas fases mais iniciais. Pode marcar toda a diferença em termos da redução do défice que a pessoa apresenta depois de ter esse acidente vascular cerebral", disse, explicando que o ideal é sempre a prevenção.
"É evitar que eles aconteçam e, portanto, só o médico de família é que será, de facto, o profissional mais habilitado para alguma primeira abordagem no seguimento da pessoa, enquanto está saudável, para evitar estas situações. Tratar diabetes, se for o caso, tratar as gorduras no sangue, o colesterol, a tensão arterial. Fazer com que as pessoas deixem de fumar, se for o caso, o excesso de bebidas alcoólicas também é importante, a obesidade é um fator também muito importante. Tudo isto está encadeado", explicou.
E quais é que são os impactos visíveis deste segundo AVC? Falando de efeitos emocionais, a verdade é que pode suscitar uma maior irritabilidade, ansiedade, depressão ou confusão, enquanto que, ao falar de mudanças na personalidade, podemos lidar com impulsividade, apatia, falta de memória ou alterações no modo de interagir, segundo a American Stroke Association.
Quanto a sinais de alerta, os mesmos servem não só para quem nunca teve um AVC como também para quem já sofreu de um - e a técnica mais fácil de decorar é a que tem que ver com o acrónimo FAST. Em inglês, as letras servem para "Face" (cara), "Arm" (braço), "Speech" (fala) e "Time" (tempo), e cada uma tem o seu significado: "face" para a boca que começa a ficar de lado, "arm" para a falta de força no braço ou na perna, "speech" para a alteração na fala ou fala arrastada, e "time" para o tempo a não perder e ligar para o 112.