A pasta de dentes é ideal para combater a acne, a vaselina é a chave para uma pele de porcelana e os cubos de gelo o segredo para acabar com a vermelhidão. Certo? Errado. Tudo isto são métodos que viralizaram nas redes sociais, mais precisamente no TikTok, e que rapidamente foram reconhecidos como verdades incontestáveis. O que não significa que sejam necessariamente legítimos e, acima de tudo, seguros.

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Nada como falar com quem domina o assunto e perceber a explicação científica por detrás da eficácia (ou não) das tendências digitais. Por isso, a MAGG recorreu à dermatologista Ana Isabel Moreira, que trabalha na Allure Clinic, na Avenida da Boavista, Porto, para desmistificar questões associadas aos cuidados de pele.

Calma, nem todas as tendências são falsas

Não, nem todos os truques são mitos e há alguns a que a especialista Ana Isabel Moreira reconhece um fundo de verdade. Afinal, aplicar pasta de dentes nas borbulhas é eficaz ou nocivo à pele? Os famosos pepinos nos olhos reduzem a aparência das olheiras? Até que ponto aplicar retinol durante a adolescência minimiza os efeitos do produto a longo prazo?

Mito ou verdade? A MAGG foi à procura de respostas.

1. Aplicar vaselina sobre o rosto ajuda a alcançar um pele lisa, sem poros visíveis ou zonas secas?

Falamos de slugging: um termo que não tem tradução direta para português, mas que descreve um método de cuidados de pele, que alegadamente nasceu na Coreia do Sul. Passa por aplicar vaselina no rosto com o principal objetivo de alcançar uma 'pele de porcelana', sem poros, borbulhas ou manchas.

A tendência já não é recente, mas tornou-se viral na rede social TikTok, quando vários utilizadores começaram a recorrer ao método e a publicar os resultados na plataforma digital. Ora, se é verdadeiro ou falso? É caso para dizer: "depende", avança a especialista.

"A vaselina tem uma ação parcialmente oclusiva. Portanto, nas peles mais secas, pode até ajudar a reter a água e contribuir para preservar a hidratação da pele".  Já nas peles mais oleosas, pode efetivamente aumentar a oleosidade natural da pele e, neste sentido, aumentar o risco de borbulhas, se já existir uma predisposição para tal.

"De qualquer das formas, o mercado está inundado de produtos específicos para peles secas e para garantir essa hidratação. Por isso, não temos de recorrer à vaselina e correr o risco de provocar uma semi-oclusão dos poros", remata.

2. Pasta de dentes é o truque perfeito para eliminar rapidamente uma borbulha?

Não necessariamente. A pasta de dentes tem alguns princípios ativos, nomeadamente o zinco, que ajudam a secar as borbulhas, mas isto não significa que a sua utilização seja recomendada e a especialista Ana Isabel Moreira explica porquê.

"Além do zinco, a pasta de dentes tem muitos outros princípios ativos que não são adequados à pele. Portanto, aplicá-la diretamente nas borbulhas nunca será o mais indicado. Há ali um ou outro princípio ativo que ajuda a secar, é um facto, agora por rotina não. Até porque pode provocar alguma irritação cutânea", diz.

E, atenção: a aplicação de pasta de dentes nas borbulhas pode ajudar a secar, mas não trata o problema e, neste sentido, não vai curar a acne, garante a especialista.

3. "Passar um cubo de gelo no rosto pode melhorar o aspecto da pele e reduzir a aparência dos poros"

Falso. A aplicação de um cubo de gelo diretamente no rosto não só não produz qualquer efeito benéfico como pode efetivamente queimar a pele.

Algures nas redes sociais, ouve-se testemunhos de quem garante que a aplicação de gelo no rosto reduz a vermelhidão e chega até a combater a acne. No entanto, trata-se de um mito, alimentado por uma ilusão temporária, explica Ana Isabel Moreira.

"Nas peles mais sensíveis e que têm tendência à rosácea e a alguma dilatação capilar, o que é que acontece? Com a aplicação do frio, vai haver vasoconstrição [processo de contração dos vasos sanguíneos], que pode efetivamente reduzir a vermelhidão e a aparência de manchas. No entanto, assim que deixamos de aplicar esse mesmo frio, vai haver uma vasodilatação compensatória — isto porque, naturalmente, o rosto volta a aquecer", completa a especialista.

O que, em termos práticos, significa que, sim, durante a aplicação do gelo a aparência da vermelhidão pode efetivamente diminuir, mas regressa igual ou pior assim que este deixa de ser aplicado. "Nas peles com rosácea e eritema, aplicar gelo diretamente no rosto pode mesmo revelar-se nefasto, já que as diferenças de temperatura tendem a agravar a rosácea e a vermelhidão. Tal como acontece quando saímos de uma sala quente para a rua, no inverno, por exemplo", diz.

Ao nível da ação inflamatória e das borbulhas, a aplicação do gelo no imediato pode melhorar a aparência e irritação, mas não vai tratar a acne. Já que, após a remoção do gelo, "esta volta exatamente ao que era", desmistifica Ana Isabel Moreira.

"Em termos de poros, não faz grande efeito, sendo que um poro dilatado é um óstio folicular que está dilatado e o gelo nesse campo não vai aumentar nem diminuir", esclarece. "É uma ilusão, de facto".

Especialista Ana Isabel Moreira
Especialista Ana Isabel Moreira

4. "Se utilizar retinol na pele desde muito cedo, pode deixar de se revelar eficaz a longo prazo"

"É mentira. O retinol é um derivado da vitamina A e é uma excelente molécula anti-envelhecimento, além de que faz alguma escamação e esfoliação, portanto ajuda a manter uma pele bonita", explica Ana Isabel Moreira, que garante que pode efetivamente ser aplicado desde muito jovem, sem qualquer efeito colateral.

"Obviamente, se for muito concentrado, pode causar alguma irritação, já que tem esse potencial, mas se essa parte for controlada, não há problema algum. Pode ser utilizado durante toda a vida, só não pode ser aplicado nas mulheres grávidas", completa a especialista.

À partida, não há qualquer contraindicação que se traduza na necessidade de consultar um especialista antes de avançar com a aplicação de retinol, no entanto a dermatologista deixa claro que "às vezes, o que estraga tudo é querer aplicar uma grande quantidade e começar logo com concentrações muito altas". "O ideal é começar com uma camadinha fina e até com menos frequência do que a pessoa pensa. Mas, fora isso, é uma molécula que pode ser utilizada e comprada por si só".

Com a ressalva de que cada pele é diferente, Ana Isabel Moreira destaca a gama Uriage Age Protect e, ainda, a Clique One A15 (com vitamina A) como duas opções seguras para o uso de retinol, sendo que o segundo produto conta com monodoses, que cada indivíduo pode abrir e aplicar diariamente, "sem o risco do produto oxidar ou acabar por se estragar", diz.

5. Beber clorofila ajuda a reduzir o acne e melhorar a aparência da pele?

"Não há qualquer estudo que comprove que a clorofila é benéfica para a pele. Com certeza tem uma ação antioxidante, porque advém das folhas, daí a cor verde também". No entanto, Ana Isabel Moreira deixa claro que "é sempre mais difícil notar resultados quando ingerimos algo" e não aplicamos diretamente na pele.

"Tal como acontece com a ingestão de colagénio, por exemplo. O nosso tubo digestivo acaba por digerir e o colagénio que ingerimos não vai penetrar pelo digestivo e chegar direitinho à nossa pele, onde queríamos que fizesse efeito", explica.

E com a clorofila acontece exatamente o mesmo. "É como estarmos a ingerir um espinafre ou outro legume verde, já que a clorofila existe em algas e vegetais, e, portanto, as vitaminas vão ser benéficas para o nosso organismo no geral", afirma a especialista, com a ressalva de que o nosso organismo vai sempre absorver as vitaminas de que precisa e, neste sentido, dá-se essa suplementação. 

No entanto, a sua ingestão isolada, quando em doses demasiado concentradas, pode até ter implicações negativas no organismo, já que pode conduzir a alterações gastrointestinais. "Agora, para a pele, em particular, e para a resolução da acne, não há qualquer evidência que suporte esse tipo de suplementos", conclui.

6. O silicone presente nos cremes e até na maquilhagem bloqueia os poros e pode dar origem a borbulhas?

Verdade. Contudo o silicone não será o único inimigo da pele e, às vezes, a textura dos produtos torna-se a verdadeira vilã. Passamos a explicar.

Sim, o silicone pode efetivamente contribuir para a acne, no sentido em que cria uma barreira que pode prejudicar a respiração natural da pele. "Isto porque os produtos com silicone são semioclusivos, o que significa que fazem um oclusão parcial dos poros, o que pode agravar a acne".

Sobretudo para quem já tem uma predisposição para a condição. "Sendo que, geralmente, uma pele seca pode suportar melhor produtos com silicone", avança.

No entanto, de forma geral, tudo se resume à textura e às quantidades aplicadas.

"Os produtos cosméticos, sobretudo se forem muito oleosos e inadequados para o tipo de pele em que os estamos a utilizar, podem dar origem àquilo a que chamamos acne cosmética". E, por isso, às vezes, a alteração de certos produtos pode melhorar a condição, explica.

"E uma pele oleosa, por exemplo, continua a precisar de hidratação, mas de uma hidratação q.b. Se utilizarmos produtos demasiado fluidos, podemos efetivamente provocar um agravamento da acne". Ou seja, em termos práticos, é preciso encontrar a textura e fluidez ideais ao bem-estar da pele. Idealmente sem silicone, já que este tende a funcionar apenas para melhorar a aparência dos produtos, conferindo-lhes um toque acetinado e luxuoso.

7. Aplicar rodelas de batata na cara é o segredo para uma pele livre de borbulhas? E pepino sobre os olhos ajuda a minimizar a aparência das olheiras?

Podíamos falar de batata, cenoura ou qualquer outro produto. A premissa será sempre a mesma: não há qualquer benefício inerente à aplicação destes alimentos na pele. Esta ilusão de que são milagrosos para tornar a pele mais lisa ou reduzir a aparência de um rosto cansado prende-se, apenas e só, com o frio. Mais uma vez.

"Vão ter uma ação anti-inflamatória, mas não curam nenhum problema associada à acne, por exemplo", explica.

E, neste sentido, corroboramos também a ideia de que o pepino reduz as olheiras — uma teoria (erradamente) enraizada na sociedade e influenciada também pela indústria cinematográfica, que tende a transmitir a ideia de que, em tratamentos de spa ou clínicas estéticas, este método é utilizado.

"Podia ser pepino ou até uma compressa de água fria. Reduz o inchaço, de facto, porque está frio e dá-se então uma vasoconstrição", no entanto, em termos de cor, não produz qualquer efeito nas olheiras, garante Ana Isabel Moreira.