
Portugal já teve um sucesso chamado "Os Donos da Bola", na SIC dos anos 90, mas agora é o mundo que se está a render a "A Dona da Bola", uma comédia que estreou há duas semanas (a 27 de fevereiro) na Netflix e que está a ser um sucesso brutal a nível mundial. Só na semana passada, entre 3 e 9 de março, foi descarregada, a nível global, 1,9 mil milhões de vezes, mais do triplo da segunda classificada, "Medusa", também da Netflix, que rondou os 600 milhões de streams. Mas o que é que esta série tem de genial para cativar assim tanta gente? Pouco. Tem coisas boas, tem coisas más, e nós explicamos. Vamos lá.
3 Coisas boas
1. Interpretação de Kate Hudson. A atriz interpreta Isla Gordon, uma mulher que deixa para trás uma vida de luxos e farra, e que assume a presidência da equipa de basquetebol Los Angeles Waves, após um escândalo familiar. Kate Hudson está muito bem no papel, tem recebido elogios de todo o lado, e até a exigente "Vanity Fair" reforçou que é ela que leva a série às costas, afirmando que Kate "desencadeia o seu poder de estrela" na série. A personagem ajuda, mas o sucesso está mesmo na interpretação.
2. Elenco secundário: Se Kate Hudson brilha alto no papel principal, os atores que a rodeiam também conseguem brilhar alto. Lá está, quando o texto é excelente, é mais fácil a um ator mostrar-se. Não é o caso. Aqui, Chet Hanks, filho de Tom Hanks e Rita Wilson, por exemplo, está maravilhoso no seu papel de Travis Bugg, um jogador de basquetebol que lida com uma mãe dominadora e problemas de dependência. Uma performance "inesperadamente profunda e cativante", destaca a "Vogue" norte-americana. Não tão surpreendente se pensarmos no pai que tem e no irmão Colin Hanks, brilhante na série "Fargo".
3. Mistura subtil de comédia e drama: A série consegue um bom equilíbrio entre momentos cómicos e dramáticos ou mais profundos. Há muitas personagens com problemas pessoais, são exploradas situações duras, mas consegue sempre encontrar uma forma mais suave de tratar o tema. Uma vez mais, os atores têm um papel decisivo nesse balanço eficaz que não torna a série nem demasiado leve nem demasiado densa.
3 coisas más
1. Texto demasiado baunilha: Se os atores são quem carrega a série às costas, e a história é eficaz, já a qualidade do texto em si deixa muito a desejar. Parece muitas vezes meio sabor a baunilha, não é carne nem é peixe. É quase como se pedíssemos à Inteligência Artificial para criar ali uns diálogos e tal para ver se a coisa se faz mais rápido. Falta aquele golpe de asa, a piada certeira, o subtexto, a subtileza. A "Vulture", secção de cultura da "New York Magazine" refere-se à série como tendo "uma qualidade fundamentalmente genérica".
2. Desequilíbrio nos personagens: Se há um elenco principal forte, com atores excelentes, que conseguem fazer de um texto razoável cenas que saem muito competentes, já as personagens menos importantes, que devem ajudar a fechar o ciclo, a gerar uma sensação de satisfação total, deixam mais a desejar. Há algum desequilíbrio entre a qualidade do elenco, e isso nota-se, sobretudo, porque o texto não é incrível. A "Entertainment Weekly" destacou que, apesar do forte elenco, a série sofre de "escrita pouco inspirada e personagens pouco cativantes".
3. Equilíbrio entre humor e mensagem: A tentativa de abordar temas como o sexismo e preconceito na indústria do desporto, mantendo um tom humorístico, não é totalmente bem conseguida. Parece tudo meio pela rama. Não se exploram os temas, toca-se ao de leve nos temas. E uma série destas pedia mais. Isto é feito de forma magistral, por exemplo, em "Ted Lasso" (Apple TV). Aqui não. O "The Guardian" referiu que a série "luta para equilibrar humor e mensagem, mas oferece poucas gargalhadas". Nós dizemos mais: não oferece nenhumas gargalhadas. É bem-disposta, engraçada, mas nunca vai muito além disso. Faz uma boa maratona daqueles domingos de chuva, mas daqui a um ano não vamos recordar um diálogo, uma cena marcante. Lá está, baunilha.