Brian Wells tinha 46 anos, trabalhava como estafeta de uma pizzaria no estado de Pensilvânia, nos EUA, e aparentemente era um cidadão como tantos outros. Era tão dedicado ao trabalho que a única vez que faltou foi quando o seu gato morreu. Os colegas de trabalho e as pessoas que lhe eram próximas recordam um homem afável, respeitador e honesto. E é por isso que hoje, 15 anos depois, ainda têm dificuldade em acreditar naquilo que aconteceu.

A 28 de agosto de 2003, Brian Wells entrou por um banco armado com uma espingarda improvisada e uma bomba presa ao pescoço, mal escondida por baixo da camisola. Já dentro do edifício, Wells terá entregue um papel ao funcionário do banco onde se exigia a quantia milionária de 250 mil dólares (208 mil euros).

O papel alertava ainda para o tempo limite que o funcionário teria de cumprir para evitar que a bomba explodisse e matasse todos os presentes. Incapaz de entregar aquela quantia, o funcionário terá dado a Wells um saco cheio com um total de 8 mil dólares (aproximadamente 7 mil euros).

Wells saiu do banco e 15 minutos depois foi visto pela polícia junto ao seu carro, tendo sido cercado de imediato. Ao ver-se rodeado e sem saída, terá tentado defender-se dizendo que três pessoas lhe terão posto a bomba ao pescoço e obrigado a assaltar o banco.

Três minutos depois da chegada da Brigada Anti Bomba, o explosivo preso a Wells foi ativado e o estafeta de pizzas morreu instantaneamente no local. As imagens foram transmitidas em tempo real em vários canais de televisão que se encontravam no local.

Uma das notas encontradas pelo FBI mostra as instruções deixadas pelos envolvidos no crime a Brian Wells. A nota termina com o aviso 'Age agora, pensa depois ou morres'

Com o decorrer das investigações, a polícia verificou que o papel que o suspeito entregou ao funcionário do banco continha uma lista de tarefas que teria de completar com o intuito de ganhar tempo para a desativação da bomba.

A polícia testou as possibilidades e concluiu que o estafeta nunca seria capaz de completar as tarefas no tempo estipulado, o que levou as autoridades a acreditar que a sua morte foi premeditada desde o início.

A história podia ter ficado por aqui, mas a verdade é que deu origem a uma investigação sem precedentes daquele que hoje é considerado um dos casos mais bizarros de crime na região.

Richard Shapiro, jornalista da revista "Wired", escreveu que logo de início as autoridades se aperceberam que o caso seria mais difícil do que parecia. O engenho explosivo, por exemplo, foi reconhecido pela destreza e conhecimento técnico de quem o construiu. Era composto por duas partes distintas que se complementavam — um colar de metal com quatro buracos e uma fechadura que guardava o mecanismo de ativação com três dígitos, e uma caixa de ferro onde estava guardada a bomba e um tubo de pólvora.

O dispositivo que controlava o colar era eletrónico e estava diretamente ligado a dois temporizadores regulados remotamente. O engenho era estranho, mas não havia dúvidas de que tinha sido construído por um profissional.

Mais tarde, foram descobertas novos recados em papel que a polícia identificou com sendo uma série de instruções que obrigavam Wells a uma espécie de caça ao tesouro em que o objetivo final era o de se manter com vida. Depois de sair do banco, havia pelo menos mais cinco paragens que o estafeta deveria fazer, mas a polícia antecipou-se e Wells nunca passou da primeira.

Além das notas, foi a camisola que Wells levava vestida (onde dizia "guess" ou "adivinha", em português) que levou as autoridades a dar credibilidade às declarações do suspeito. Quem poderia estar por trás deste crime bizarro e cada vez mais complexo?

Brian Wells momentos antes de morrer, vítima da explosão da bomba que levava ao pescoço

Segundo a revista "The Plain Dealer", um jornal conceituado de Cleaveland, as longas investigações serviram para desvendar alguns factos acerca da vida de Wells que muita gente não conhecia. É que este, apesar de ser um homem simples e aparentemente normal, manteve uma relação de cinco anos com uma prostituta chamada Jessica Hoopsick.

Geralmente encontravam-se duas vezes por mês numa casa que um indivíduo de nome Kenneth Barnes, traficante de droga, arranjava para que os seus clientes consumissem.

Anos antes, Barnes tinha prometido fazer um favor a uma amiga, Diehl-Armstrong, que consistia em matar o pai dela em troca de 120 mil dólares (104 mil euros, aproximadamente) com o objetivo de conseguir a herança da morte da mãe.

Incapaz de arranjar o dinheiro necessário para encomendar a morte do pai, abordou Rothsthein com quem quase tinha casado anos antes do sucedido. Este, que também estava a ser abordado por um membro da família acerca de uma dívida, pensou em vários esquemas para arranjar a quantia necessária e recrutou Wells, que os conheceu a partir de Barnes — o traficante de droga que serviu como elo de ligação entre todos os intervenientes.

Em 2007, Kenneth Barnes e Marjorie Diehl-Armstrong foram condenados pelos crimes de assalto, conspiração e crime à mão armada

Juntos, planearam o assalto ao banco e disseram que Wells estaria encarregue de levar a cabo o plano até ao fim. Juraram que a bomba que levaria posta seria falsa e que, quando fosse preso, só teria de argumentar que era inocente e que estava refém de um grupo de sequestradores desconhecidos.

Disseram-lhe que a polícia o deixaria ir e que depois dividiriam o dinheiro com ele. Ele acreditou, mas mentiram-lhe. O caso só foi fechado em 2008 quando todas as confissões foram ouvidas e registadas pelas autoridades — que também consideraram Brian Wells como agressor, além de vítima.

Estava assim terminada uma investigação longa, bizarra e com mais detalhes do que um filme hollywoodesco, onde tudo começou numa manhã tranquila de agosto, em que a morte de um estafeta de pizza foi filmada e transmitida em tempo real um pouco por todo o mundo.

Apesar de ter sido resolvido, é um caso que ainda hoje é difícil de explicar — e que, por isso, continua a promover muita discussão entre os fãs de situações famosas de crime.

Desde o início 2018 que o caso tem feito parte de alguns podcasts conhecidos como o Swindled ou o Casefile True, emissões especializadas em abordar alguns dos crimes mais conhecidos ao longo dos anos.

Mas agora, a Netflix preparou uma série documental que pretende dar a conhecer todos os elementos que levaram à morte de Brian Wells.

"Génio do Mal" tem estreia marcada para sexta-feira, 11 de maio, em exclusivo na Netflix, e conta com entrevistas exclusivas a alguns dos membros das forças especiais que estiveram envolvidos na investigação, bem como imagens inéditas das provas usadas para incriminar os intervenientes.