De batimentos a palpitar e pele a arrepiar, a nostalgia é chamada à caixa central. A redação da MAGG escrutinou as nove temporadas da série "Morangos com Açúcar" e selecionou as figuras que são merecedoras de uma série exclusiva.

De ressaca de copos de leite a penteados radicais, passando por bíceps definidos ou vozes esganiçadas, não nos responsabilizamos por doses desmedidas de saudade ou por qualquer crise de meia idade.

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A seleção não olhou a estrelas ou audiências e o processo foi simples: cada jornalista destacou as figuras que, na sua opinião, mereciam  protagonizar toda uma nova produção televisiva e, num pequeno texto, justificou a escolha.

De Pipo a Crómio, apresentamos-lhe as personagens que cativaram a redação da MAGG.

Ricardo Moura Bastos (Diogo Amaral) – Fábio Martins

Talvez não fique bem dizer isto, mas vou arriscar. Antes de conhecer os vilões sem escrúpulos da ficção que moldariam para sempre o universo da televisão (Tony Soprano e Walter White em “Os Sopranos” e “Breaking Bad”, respetivamente), houve uma personagem que, pela primeira vez, me obrigou ao impasse de estar entre a admiração irracional e o “agarrem-me que eu vou-me a ele, pá“.

Ricardo Moura Bastos, a personagem interpretada por Diogo Amaral em “Morangos Com Açúcar” era um tipo carismático, bem parecido, rico e um sacana do pior, empenhado em destruir a relação de Pipo (João Catarré) e Joana (Benedita Pereira). Valia tudo para fazer mal e ninguém estava a salvo. Porque é que merece uma série só dele? Porque a sua participação terminou num hospital, já sob a supervisão da polícia depois de mais um dos seus esquemas maquiavélicos, sem nunca se ter percebido muito bem 1) em que momento da sua vida se tornou tão odioso; 2) se alguma vez haveria redenção possível.

Arrisco dizer que não e que, provavelmente, continuaria num ciclo de autodestruição a que nos foi habituando. Chamem-me voyeur, mas pagava para ver isso outra vez. Mesmo que Tony Soprano, Walter White e os vilões seguintes que os copiaram já tenham tirado o fator novidade a esta coisa de ser mau com carisma em TV.

Ricardo Moura Bastos (Diogo Amaral)
Ricardo Moura Bastos (Diogo Amaral) Diogo Amaral enquanto Ricardo Moura Bastos, na temporada de estreia dos "Morangos com Açúcar" Youtube

Rebeca Campos - “Becas” (Sara Prata) – Bruna Gonçalves e Maria Nicolau

Rebelde, confiante e dona do seu nariz, Rebeca Campos revolucionou toda uma geração de ‘moranguitos’. Numa era em que o protótipo de beleza feminina se resumia a cabelos longos e roupa apertada, a Becas veio desconstruir estereótipos e mudar mentalidades, com um penteado radical que ainda hoje dá que falar. Se foi intencional? Talvez. Se ajudou? Certamente. Dos grafititi às discussões ou até aos icónicos triângulos amorosos, a vida da adolescente interpretada por Sara Prata protagonizou temporadas – ainda que de uma personagem (alegadamente) secundária se tratasse.

Da saga “it’s not a phase, mom”, 15 anos depois, como seria a sequela? O temperamento era defeito ou feitio? O street style permanece, mudou drasticamente ou está ligeiramente adaptado à suposta seriedade da vida adulta?

De facto, não sabemos – mas a verdade é que estamos mortinhos (salvo seja) para descobrir. Uma série com episódios diários – sonhamos alto, já que a imaginação ainda não paga imposto – que nos conferisse lugar cativo, com vista privilegiada, para a vida de quem desconhece papas na língua seria no mínimo, hilariante.

Do Colégio da Barra para o mundo daqueles que fingem saber o que andam a fazer (leia-se adultos), oxalá pudéssemos recorrer à localização GPS, por onde andará Becas? E, claro, de que cor serão os grafitti da porta da garagem? Sugestões?

Becas
Becas Sara Prata enquanto "Becas", na temporada 3 da série "Morangos com Açúcar" Instagram

Pop Stars. Mimi, Daniela e Mónica (Jéssica Athayde, Marta Faial e Helena Costa) – Bruna Gonçalves e Maria Nicolau

Um flop na sonoridade, mas nota dez no carisma e atitude. 15 anos depois, não nos esquecemos da girlsband mais famosa (e odiada) do Colégio da Barra.

Dizem as boas línguas que o tempo cura tudo, mas será que há remédio para a afinação da banda mais icónica de 2006? Que atire a primeira pedra quem nunca se contorceu com um “guincho” da Mimi ou com ataque descompensado da líder Mónica – tudo isto em contraste com a paz (ou bom senso) da bailarina Daniela.

Vamos fechar os olhos e assumir que o talento invadiu o corpo e alma das “moranguitas” Pop Stars – às tantas, esgotaram digressões, correram mundo e mergulharam num sucesso desmedido. Agora, vamos imaginar que recebia a notificação de que às 20h, na sua plataforma de streaming favorita, estreava um documentário que espelhava os bastidores da banda, ao longo de todos estes anos de fama. Sem filtros, com as discussões, lágrimas e arrufos à distância de um clique. Como estaria o seu coração?

Pop Stars
Pop Stars Jéssica Athayde, Marta Faial e Helena Costa (Mimi, Daniela e Mónica), na temporada 3 dos "Morangos com Açúcar" Youtube

 Filipe Gomes – “Pipo”  (João Catarré) – Rafaela Simões

Não há muito tempo passava na televisão uma entrevista de João Catarré, marcada pelo amor desmedido do ator pela filha, atualmente com quatro anos. Como assim uma filha? Como assim João Catarré e não Pipo? Como assim passaram 18 anos desde que via os "Morangos com Açúcar" e sonhava um dia ser como Joana (Benedita Pereira) e receber um beijo igualmente apaixonado?

Fora o romantismo, Pipo era um fofinho gostoso, com bíceps salientes e um bronze invejável. Contudo, merecia mais, como a sua própria série, na qual seria personagem principal, mas com ele estaria outra de destaque: Diogo Amaral, que passa de rival na temporada de 2003 de "Morangos com Açúcar" para ser o melhor amigo de Pipo nesta série a que chamaria "Pipo com sal". Não sendo um moranguinho, transformámos o Pipo numa pipo(ca) nada insonsa, porque a série teria muito para contar.

Logo no primeiro episódio, Pipo ia dar-se a conhecer: um rapaz descontraído, proprietário de um hostel (houvesse Airbnb na altura e era aí que teria investido) e que passa os dias entre receber hóspedes e a esconder o seu maior segredo: o gosto por fazer cupcakes *alerta, plot twist*.

O único que sabe (e beneficia do dote) é Diogo Amaral, que, sem Pipo saber, inscreveu o melhor amigo num concurso televisivo de pasteleiros. Como é que acabaria a série? Pipo obviamente ganhou o concurso e abriu o primeiro hostel cupcake em Portugal, que até tem um destes bolos mergulhados num cocktail. Quem sabe lançámos aqui a ideia para um novo projeto no País.

Pipo
Pipo João Catarré a interpretar "Pipo", na temporada de estreia dos "Morangos com Açúcar", em 2003. Youtube

 Leonardo Pimenta – “Leo” (Ricardo Sá) –Bruna Gonçalves e Maria Nicolau

Com ou sem gel de banho, the show must go on. Depois de anos na penumbra, vamos tapar o nariz, porque o Leonardo Pimenta vai regressar à ribalta. Estupidamente inocente, mas incrivelmente genial, com um ódio de estimação (mais do que) assumido por tudo aquilo que envolvesse a célebre arte de tomar banho, o baterista da banda Tribo tem densidade suficiente para protagonizar uma série cuja panóplia de temporadas é maior do que a sua admiração pela Papoila.

Ceticismos e realidade aborrecida à parte, vamos assumir que a personagem Leo, brilhantemente interpretada por Ricardo Sá, transcendeu o ecrã e catapultou para o mundo real. Queremos (e exigimos) um "Keeping Up With Leo" – sem guiões, malabarismos falsos ou distrações clichês.

Alerta, choque de realidade! Passaram 11 anos e o nosso baterista favorito já está elegível para crises de meia idade. Com ou sem Mariana, com ou sem bateria, mas com a essência de quem não sai à rua sem tropeçar num problema. Até vamos mais longe: quase como se de serviço público ou uma autêntica terapia se tratasse, de forma sagrada, pagávamos (e bem) para consumir este reality show.

Leo
Leo Ricardo de Sá como Leonardo Pimenta, na temporada 7 dos "Morangos com Açúcar" Youtube

 Rosana (Joana Câncio) –Bruna Gonçalves e Maria Nicolau

“Nem tudo o que parece é” – e antes do estrondoso “boom” das redes sociais, já os “Morangos com açúcar” nos davam cocktails recheados de mentiras, aparências e comédia hilariante.

A verdade é que a nossa querida (e não tão adorada) Rosana tinha muitas malas chiques e demasiadas etiquetas falsas. Deambulava pela escola de artes – senhora do seu (ênfase no alegado) luxuoso nariz – fazendo da sua própria vida um autêntico filme de cinema, digno de Óscar e passadeira vermelha.

Ora, vamos acreditar que as mentiras compulsivas não só não chegaram ao fim, como pioraram a um ritmo alucinante. O que seria se, por esse mundo fora, numa série inédita, pudéssemos acompanhar as 1001 mentiras e artimanhas desta que não é uma vilã à moda antiga, mas que supera os mestres tradicionais a anos-luz. Dramática, nada insonsa e desprovida de empatia ou sensibilidade – quem será a próxima vítima de Rosana Salgado?

Rosana
Rosana Joana Câncio na temporada 8 dos "Morangos com Açúcar", enquanto Rosana Salgado. Youtube

 Crómio (Tiago Castro) – Mariana Carriço

Chama-se Tiago Castro, mas para a geração "Morangos com Açúcar" será sempre o Crómio: assim como tantas outras caras que nos marcaram e às quais não conseguimos dar outro nome senão o que lhes foi atribuído na série. Mas, ainda assim, o Crómio é o Crómio.

A verdade é que, no meio de nove temporadas, este conseguiu ser um dos personagens que mais me marcou. Pensar no Crómio é recordar logo a personalidade carismática e a forma de falar que não deixou milhares de portugueses indiferentes.

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Apesar de ter participado em duas temporadas da série (II e III) sinto que era um personagem que podia ter passado por todas e nunca ia deixar os telespectadores cansados. Pensar em "Morangos com Açúcar" é recordar o Crómio, por isso acho que esta era, sem dúvida, uma personagem que merecia a sua própria série. Já imaginaram o que seria o Crómio juntar-se com o Léo (Ricardo de Sá) ou ser amigo da Margarida (Sara Matos)? As primeiras temporadas dos "Morangos" serão para sempre as melhores, mas fazer uma série com alguns personagens seria épico.

Crómio
Crómio Tiago Castro a interpretar a personagem "Crómio, na temporada 3 dos "Morangos com Açúcar". Youtube