Dois anos depois do fim da terceira temporada de "La Casa de Papel", o primeiro spin off baseado numa personagem da série criada por Álex Pina e Esther Martínez Lobato chega à Netflix. Pedro Alonso regressa no papel do assaltante que conquistou os fãs nas duas primeiras temporadas da série.
"Berlim", mais cómica, cheia de paixão e acção, serve de prequela a "La Casa de Papel". Os fãs da série original vão ficar a conhecer as origens de Andrés de Fonollosa (nome de batismo do assaltante), os que nunca viram a trama vão divertir-se com as desventuras deste Berlim endiabrado (e louco por amor). Tudo isto tendo uma das cidades mais belas e românticas do mundo – Paris – como cenário.
Anos antes do assalto à Casa da Moeda, Berlim assenta arraiais em Paris para realizar um ambicioso assalto: roubar 44 milhões de euros em joias de uma conhecida leiloeira. Consigo está o seu melhor amigo, Damián, professor universitário durante o dia e cérebro por detrás de assaltos nas horas vagas, e um grupo de jovens assaltantes: a introvertida e pragmática Keila, o cumpridor Roi, o libertino e muito divertido Bruce e a enigmática e sedutora Cameron.
A MAGG viajou até Madrid para a antestreia de "Berlim" e conversou com o elenco. Pedro Alonso (Berlim), Tristán Ulloa (Damián), Julio Peña (Roi), Michelle Jenner (Keila), Begoña Vargas (Cameron) e Joel Sánchez (Bruce) falaram sobre as suas personagens, a forma como passaram de um grupo de atores a um verdadeiro bando de assaltantes e o que esperam que aconteça após este assalto milionário.
Joel, quantos takes demorou até conseguir fazer a cena em que canta a música "Staying Alive" sem desatar a rir-se?
Joel Sánchez - (risos) Uns quatro ou cinco takes por plano. Diverti-me muito a fazer essa cena. Tinha de falar em francês, uma língua que não é a minha, cantar e fazer rap, algo que também não sei fazer. Adorei fazer essa sequência e acho que é a melhor da minha personagem na série. É também ilustrativa da forma como ele é, gandula, um pouco louco.
Como é que encontraram o tom das vossas personagens? Houve algum objeto que vos tenha ajudado nesse processo?
Pedro Alonso - A palavra-chave destes oito episódios é 'tom'. Procurámos uma evolução em relação ao que tínhamos feito em "La Casa de Papel". Isso transformou-se numa espécie de estúdio metafísico da NASA para descobrir qual era a chave. O Aléx Pina desenha, prepara, fala, procura e, depois, é capaz de mudar tudo quando começam as gravações. No primeiro mês e meio tocaram-se diferentes acordes até que se deu o 'clique'. A chave tem que ver com algo muito mais luminoso, mais feel good movie, mais comédia romântica. Para minha surpresa, porque o ADN de Berlim resiste e apoia-se no grupo que lhe está próximo, no amor pelas primeiras vezes. Tom é a palavra deste novo ciclo.
Michelle Jenner - Quando fizemos os testes de imagem, já com a roupa das personagens, fomos encontrando coisas das personagens. A roupa é chave para encontrarmos a personagens, a decoração... quando te vês no set com a roupa...
Tristán Ulloa - ... com os adereços da personagem, tudo isso faz-te estar atento aos objetos que a personagem manuseia, como os óculos, a forma de se vestir. Tudo isso ajuda a construir a personagem.
Joel Sánchez - Eu não sabia que ia ter barba até que me puseram uma pêra. Foi como deixar de ser Joel e passar a ser Bruce.
Begoña Vargas - Há um anel que a Cameron usa sempre. Não está escrito em lado nenhum, foi uma invenção minha mas ajudou-me porque há uma ligação a um familiar dela e era como se fosse uma recordação de quem ela foi no passado (e que é possível perceber ao longo da série). Criei uma ligação entre a Cameron do presente e a do passado com esse anel. Ajudou-me nos momentos em que a personagem está mais pensativa, mais concentrada ou simplesmente tem dúvidas. Nesses momentos, esse elemento liga-a a esse familiar e o anel ajudou-me.
Julio Peña - Lembro-me de, no início da série, ter tido uma conversa nos corredores dos camarins com Bego [Begoña Vargas], sobre algo que a minha personagem pudesse ter. Então encontrámos a luva com os dedos cortados e apercebemo-nos de que poderia haver ali uma história engraçada atrás deste objeto. As mãos do Roi, com a tatuagem e com a luva, são elementos que me ajudaram a encontrar esta personagem. E o tom, como disse o Pedro, é algo que fomos descobrindo mais ou menos à vez, à medida que a história se ia desenvolvendo. Assim que o agarrámos o entendemos, tudo fluiu.
Quando vemos a série sentimos que há, verdadeiramente, um espírito de equipa. Como é que construíram essa cumplicidade?
Pedro Alonso - Estamos há oito meses à espera que este senhor [aponta para Julio Peña] marque um jantar (risos)!
Julio Peña - Eu?!
Pedro Alonso - Estamos a sofrer há oito meses como equipa pelo jantar que nos prometeu. Estamos em crise! Vamos a ver como saímos desta (risos)! Há quem goste de gravações controversas. Há realizadores que gostam que chafurdes na lama. Eu acho que o princípio da confiança é o melhor para obter um bom resultado. Creio que estamos todos de acordo.
Begoña Vargas - Estou totalmente de acordo. Quanto mais confiante e tranquilo estás, melhor trabalhas e melhor resultados tens. No nosso caso, apoiámo-nos muito, rimos, estávamos sérios quando é preciso. Foi uma energia que surgiu naturalmente, não o procurámos. Começámos a gravações, começámos com brincadeiras, criámos ligações, entendemos o humor de cada um.
Julio Peña - Estas são gravações que duram muitos meses, há sempre atritos. E, quando isso aconteceu, tivemos sempre vontade de resolver as coisas a conversar. Houve sempre bom ambiente e vontade de continuar.
Michelle Jenner - Foi algo que fluiu.
Joel Sánchez - Nada foi forçado. O Pedro [Alonso] recebeu-nos de braços abertos.
Michelle Jenner - Sentimo-nos muito bem recebidos pelo Pedro. Ele era como o líder deste grupo. Sentimos isso desde o início, que a partir dali éramos realmente um bando e que íamos dar tudo. Depois disso criou-se este bom ambiente.
Julio, quero também falar da relação que Roi tem com Berlim. No início, achamos que existe ali uma relação paternal mas depois há uma mudança, os papéis invertem-se. Roi acaba por tornar-se quase um conselheiro de Berlim, apesar da diferença de idades.
Julio Peña - Nós divertimo-nos muito durante as gravações. Lembro-me de um ensaio no camarim do Pedro, em que estávamos a fazer como se eu fosse um cavaleiro a entrar num castelo. Ele dizia-me que ali estavam as damas e que eu tinha de matar os guardas todos. E eu "mato!". Encontrámos esse jogo.
Pedro Alonso - O Roi é como o Sancho Pança de Berlim. Escudeiro, lugar-tenente. Berlim é uma personagem que pode dizer agora mesmo, com total propriedade, que a vida é 'a' e se lhe dizes que é 'a', ele diz 'b'. Porque é um polemista, porque adora dar a volta às coisas e não tem qualquer pudor em mudar os seus argumentos. Ele faz o que lhe dá na veneta e é capaz dar a volta a tudo para ter uma experiência nova. Há também um aspecto cómico nos episódios, que é a perplexidade do grupo perante o comportamento errático, absolutamente indecente e desastroso de Berlim. Até lhe podem dizer para fazer as coisas de uma maneira mas ele sai porta fora e faz exatamente o contrário.
Julio Peña - Acho que o Roi tem essa coisa. Se, num dia, o Berlim disser que algo é A, é A. Se disser no dia seguinte que é B, ele diz que é B. Há um momento na série em que ele lhe faz má cara e recordo-me de estar nervoso. "Como é que lhe vou falar desta maneira?" (risos).
Tristán, a sua química com Pedro Alonso no ecrã é inegável. Quando isso acontece, apesar de nunca terem trabalhado juntos antes, é especial?
Tristán Ulloa - Nós conhecemo-nos desde os 15 anos. Somos os dois de Vigo e começámos a fazer teatro juntos no Instituto. Nunca tínhamos trabalhado juntos e foi um bonito reencontro. Toda essa cumplicidade vê-se na história de Berlim e Damián.
E a libertação de Damián? Quando ele se transforma?
Tristán Ulloa - O que fazia falta a Damián era o que lhe fazia falta (gargalhada geral). Sem fazer spoilers, creio que Damián precisava de ver as coisas de outra perspetiva e ter outro tipo de energia no corpo que não tinha até então.
Quais foram as cenas mais difíceis de gravar?
Michelle Jenner - Sobretudo as das catacumbas. Era um cenário muito difícil, fazia muito frio, havia muita humidade. Mas, claro, foi espectacular, temos de reconhecer o trabalho incrível que a equipa de cenografia fez! Ficámos todos constipados...
Joel Sánchez - Estive quase uma semana com tosse, de tanto pó que havia.
Tristán Ulloa - A sensação de ter o corpo sempre molhado...
Michelle Jenner - Os fatos assépticos também eram complicados. Não conseguíamos ver nada porque suávamos muito, nem conseguíamos respirar quando os tínhamos vestidos.
Joel Sánchez - Aconteceu-me ficar com o visor tão embaciado quando estávamos a gravar que tive de dizer ao operador de câmara. "Estou a sentir-te mas não te estou a ver!". Mas foi super divertido, parecia que estávamos num filme sobre o espaço! Dava muita vontade de rir porque, às tantas, parecíamos Teletubbies.
E emocionalmente, quais foram as cenas mais difíceis?
Tristán Ulloa - As cenas mais emotivas foram as que fiz sozinho, por telefone. Infelizmente, são cenas em que estás só e a falar com alguém que está apenas a simular a outra chamada. Mas a verdade é que a equipa foi fantástica, super respeitosa. Respeitaram os tempos, os silêncios, o clima que se criou. Eu precisava disso porque trata-se de uma cena muito longa, pela qual eu tinha muito respeito. Senti muita liberdade e à vontade para movimentar-me, para criar e isso é sinónimo de uma equipa de profissionais incríveis.
Pedro Alonso: " Se acho que o fandom, os fãs mais punk, não vão gostar? Bom, eu adoro uma boa polémica (risos)!"
Como acham que os fãs mais hardcore de "La Casa de Papel" vão reagir a "Berlim"? Há sempre quem se sinta órfã das séries e esta é muito diferente da original.
Michelle Jenner - Esta série não é "La Casa de Papel", é pré-história. Conta a história de Berlim antes de "La Casa de Papel", que é um Berlim mais luminoso, embora continue a fazer os seus esquemas. É uma altura da vida dele em que ainda não tinha noção da sua doença. É um Berlim apaixonado pelo dinheiro, pela vida, pelo amor, de tudo, de viver ao máximo. É um tom diferente. É uma série mais luminosa, mais cómica. É diferente.
Pedro, como acha que os fãs de "La Casa de Papel" vão reagir quando virem este Berlim louco por amores e a cometer erros?
Pedro Alonso - Isso preocupa-me pouco, a do amor. Sempre achei que a personagem era um vulcão absoluto, com uma aparência magnética e de aparente controlo. Mas nunca senti que ele fosse um bloco de gelo. Desde o primeiro momento havia algo, havia algo com as suas atrações, com as pessoas que o rodeavam, que me pareceu super vulcânico. Se acho que o fandom, os fãs mais punk, não vão gostar.... bom, eu adoro uma boa polémica (risos)! Preocupa-me muito pouco porque a personagem tinha algo que eu senti que tinha de soltar. Essa viagem até à luz, à ligeireza, à comédia - ele tem um humor muito particular - deu-me muitos estímulos. E eu, por um estímulo, sou capaz de enfrentar tudo, até o fandom (risos)!
"La Casa de Papel" foi fundamental para a ficção não só espanhola mas também portuguesa, porque abriu portas para que mais ficção feita na península ibérica chegasse às plataformas de streaming. Qual pensam que é o papel do franchise na história da ficção?
Tristán Ulloa - O fenómeno "La Casa de Papel" serviu para não nos colocarmos limites. Para podermos sonhar em grande e para ambicionarmos fazer coisas grandiosas. Pudemos chegar a países remotos, contando histórias nossas. Há uma música que diz "fala da tua aldeia e falarás do mundo". Creio que nos globalizámos a esse ponto. Podemos sonhar em grande.
Joel Sánchez - Nós tínhamos essas inseguranças aqui em Espanha, devido ao facto de o mercado ser pequeno, e "La Casa de Papel" foi como se nos tivessem tirado uma venda dos olhos. Mostrámos que éramos capazes de fazer coisas a este nível e a série foi um ponto de viragem nesse sentido para o mercado latino.
Ainda não sabemos se haverá uma segunda temporada mas, se houver, que rumo gostariam que as vossas personagens seguissem?
Michelle Jenner - Esta temporada é um primeiro esboço. Conhecê-los um pouco, dá para ver como se relacionam uns com os outros. Gostaria de os ver noutras aventuras e de os conhecer melhor.
Veja as fotos de "Berlim"
*a MAGG esteve em Madrid a convite da Netflix