Em meados de 2019, Inês Lopes Gonçalves dizia, em entrevista, ainda não estar em posição de lidar com as críticas. O contexto, como em tudo, ajuda a explicar a afirmação. Na altura, a ex-jornalista sentava-se na cadeira de co-apresentadora do "5 Para a Meia-Noite" cuja condução estava ao cargo de Filomena Cautela. Cerca de um ano depois, e agora aos comandos do programa, a história é outra. Mas nem por isso dramatiza até porque é desde sempre que aplica o ensinamento de que "é impossível agradar a todos" e, por isso, estava preparada para todo o tipo de reações relativamente à sua estreia à frente do "5".
"Na internet vamos sempre conseguir encontrar coisas boas e coisas más que escrevem sobre nós. A vida é muito isto e nunca ninguém vai ficar inteiramente satisfeito. Por ser uma realidade, não vale a pena uma pessoa agarrar-se muito a isso e preocupar-se com aquilo que nunca irá conseguir controlar", explica em entrevista à MAGG.
E isto, diz, é válido tanto para as reações à nova fase do programa, mas também às possíveis comparações que possam surgir entre o seu registo e o de Filomena Cautela. Mas embora não encare esta nova fase como no futebol, na medida em que não há substituições, mas sim o arranque de novos ciclos, reconhece que o nervosismo estava bem presente nos momentos imediatamente anteriores à estreia — mas que foi sendo partilhado e gerido, ou, nas suas palavras, "espalhado entre toda a equipa".
"O nervosismo que senti estava espalhado entre toda a equipa incrível que tenho a trabalhar comigo, assim como a alegria e a confiança. Sentir que tinha uma equipa do meu lado, que estávamos todos na mesma página e com vontade de fazer aquilo acontecer ajudou muito no processo."
Na crítica da MAGG à estreia do programa, um dos pontos positivos referidos tinha que ver com o facto de o estúdio permanecer quase igual e sem grandes alterações estéticas, quase como forma de transparecer que o programa tem um legado próprio e não deve, por isso, ser associado a apresentadores novos (e já foram muitos).
Inês Lopes Gonçalves admite que não houve conversas nesse sentido e que o querer manter o estúdio relativamente igual aconteceu porque este já era "relativamente recente, funcionava e tinha um cenário muito fixe". Apesar de alguns melhoramentos pouco visíveis, o estúdio permaneceu igual e isso dava espaço, conta, "para que a mudança acontecesse no genérico do programa, nas rubricas e nos intervenientes da equipa".
Manter o legado do programa intacto
No entanto, reconhece que "o mais importante é que o '5' continue a ser o '5'" com todo o legado e a alma que o programa foi construindo ao longo dos anos. O desafio, segundo conta, passa por "fazer um programa diferente sem apagar aquilo por que ficou conhecido, mesmo com outra pessoa a apresentar, e sem que essa pessoa deixe de ser ela própria no processo".
Mas, afinal, como é que isso se faz? Qualquer resposta passa imediatamente a ser um exercício de futurologia, mas Inês Lopes Gonçalves tem algumas teorias que gostaria de ver testadas e que começaram a ser postas em prática logo no primeiro episódio até porque "há pessoas novas na equipa com ideias frescas" que, por sua vez, deram lugar "a rubricas diferentes" e originais. Quanto às rubricas, garante, não foram todas esgotadas na estreia e haverá novidades ao longo da temporada.
"O programa está todo ele bastante diferente e o primeiro episódio já mostrou um bocadinho daquilo que queremos fazer ao longo desta temporada", apostando não só nessas rubricas, mas também nas conversas com convidados que, à partida, "não estão habituados a ver-se ali".
Foi o caso de António Costa Silva, autor do Plano de Recuperação Económica de Portugal e o primeiro convidado da apresentadora na estreia. "A partir do momento em que se convida uma determinada pessoa, é porque há ali pontos de interesse em trazê-la ao programa. O António Costa Silva é um exemplo claríssimo disso e sinto que, além do tempo que estive à conversa com ele, poderia ter estado muito mais porque ele é uma pessoa interessantíssima, um homem super culto, que escreve poesia e que tem uma história de vida surpreendente", refere.
E continua: "Se à boleia daquilo que faz aquela pessoa ter notoriedade pública pudermos tê-la no programa a contar um bocadinho de si próprio no contexto em que ela não está habituada a ver-se, melhor ainda."
Outro dos objetivos para esta temporada do "5 Para a Meia-Noite" passa também por uma maior promoção da música portuguesa que a apresentadora diz que, ainda hoje, continua a ser "o parente pobre da televisão", na medida em que há "muito poucos programas de música na televisão portuguesa".
"Quando existe música nos programas de televisão, as coisas são programadas como que para compor o ramalhete da programação e não se conversa com as pessoas que temos em estúdio. Nesse sentido, gostava que as coisas fossem um bocadinho diferentes porque temos música incrível em Portugal, artistas talentos e com coisas para dizer. E eu gostava que eles as dissessem."
Quanto a possíveis convidados, diz que aqueles que lhe agradam são "os que têm muitas camadas, que têm densidade e muitas histórias para contar" e aqueles com quem "passaria horas a conversa, mesmo que o tempo em televisão seja muito ingrato". "Gostaria muito de ter o Miguel Esteves Cardoso no sofá do '5', por exemplo, mas posso dizer que o António Costa Silva é o exemplo do tipo de convidados que quero ter no programa, da mesma forma que o Samuel Úria também o é, não menosprezando o Salvador Martinha", continua.
Quanto àqueles que se recusaria a ter no "5 Para a Meia-Noite", Inês Lopes Gonçalves é assertiva na resposta. "Não receberia no sofá do '5' uma pessoa com quem nunca me sentaria noutro sofá qualquer desta vida", conclui.
A próxima emissão do "5 Para a Meia-Noite" arranca esta quinta-feira, 22 de outubro, às 22h38 na RTP1. Os convidados do novo episódio são o cantor e compositor António Zambujo, a realizadora Ana Rocha de Sousa e a atriz Lúcia Moniz.