Aos 49 anos, e com uma extensa carreira nos bastidores da televisão, João Patrício está a fazer um percurso improvável. Desde abril, mês em que passou para a frente das câmaras, na condução do programa da TVI "A Sentença", o também diretor executivo de Entretenimento e Ficção do canal de Queluz de Baixo, tornou-se protagonista de um dos mais curiosos sucessos de audiências dos últimos tempos.
No formato, que conta com o advogado Hélder Fráguas no papel de juiz, são encenados casos de justiça baseados em situações reais. Em estúdio estão dois atores, que representam os dois lados do caso apresentado, jurados e uma plateia. No final, Hélder Fráguas, delibera, ditando uma sentença. Apesar de o formato ter um aviso legal no genérico final, que alerta que os casos são "representados e dramatizados por atores", ainda existe, em alguns telespectadores, a dúvida. João Patrício explica porquê. "Nós deixámos isso muito claro desde sempre. Mas acho que esse fenómeno, o facto de as pessoas acreditarem nisso, de se deixarem levar nessa narrativa, também faz parte do sucesso do programa."
"Este simulacro jurídico, e o juiz, e os jurados, e o público, esquecemos muito rapidamente que aquela contextualização é fruto de uma dramatologia que ajuda a tornar a experiência mais imersiva. Mas, da mesma maneira que nós nos esquecemos disso, o espectador não pensa nisso. Acho que isso é uma questão de uma minoria", salienta o apresentador de "A Sentença".
"Se eu não me esquecesse muito rapidamente que não são os próprios que ali estão, seria absolutamente impraticável sustentar aquela narrativa. Para nós, não é uma questão. E os resultados também provam que, para o espectador, não é seguramente", acrescentou, à margem do evento Parada das Estrelas, no dia 11 de setembro, onde foram apresentadas as novidades da TVI para a rentrée, e onde foi revelado que "A Sentença" vai continuar a ocupar as tardes da semana da estação, no horário após o "Jornal da Uma".
A gravação de cada episódio de "A Sentença" é feita live on tape, ou seja, praticamente sem pausas. "Paramos algumas vezes e eu sou um dos principais responsáveis pelas paragens. Tenho um problema, rio muito facilmente", confessa João Patrício.
Quem nunca sai do seu papel é o advogado Hélder Fráguas. "Ele é absolutamente irrepreensível. Nunca parámos por causa dele. Acho que ele encontrou ali uma persona televisiva e isso também é interessante perceber que, aquele juiz que ali vemos, é ele. Ele conseguiu construir uma persona televisiva, fruto do seu trabalho, que é extraordinário", acrescenta ainda.
Apesar de não passar tempo suficiente na rua para ouvir os comentários dos telespectadores, João Patrício conta que lhe acontece pedirem aconselhamento jurídico. "Dizem-me 'tenho um caso na família que podia resolver!'. O que é perfeitamente normal e seria expectável que assim acontecesse. Mas não tenho tempo de rua suficiente para perceber o efeito", conta.
O apresentador brinca, dizendo que se deixou "enganar" por José Eduardo Moniz, diretor-geral da TVI, para se estrear na apresentação. "Houve aqui uma insistência militante por parte dele (risos)! Temos noção de que há um feedback multiplataforma, o que nos deixa naturalmente muito orgulhosos". As audiências, para o apresentador do formato, "superaram as melhores expectativas". "Deixa-nos particularmente satisfeitos o que temos vivido quando olhamos para os resultados", acrescenta João Patrício.
João Patrício regressou a Queluz de Baixo no verão de 2020, aquando a mediática transferência de Cristina Ferreira. Na SIC, foi coordenador de conteúdos no formato das manhãs "O Programa da Cristina", canal onde já tinha estado antes, com Fátima Lopes, tendo depois também seguido a apresentadora para a TVI e coordenado o "A Tarde é Sua".