O mais recente convidado de "Conta-me", o programa de conversas intimistas da TVI, foi Mário Jardel. O ex-craque de futebol, que participou na última edição de "Big Brother Famosos", aceitou o convite de Manuel Luís Goucha e a conversa, pautada pela honestidade, foi para o ar este sábado, 2 de abril.
O ex-craque e o apresentador da TVI já não se viam há 20 anos, desde um encontro pontual em Munique. À data, Mário Jardel era um futebolista reconhecido internacionalmente, com dinheiro suficiente para "comprar tudo o que quisesse na Gucci", como brincou Manuel Luís Goucha. No entanto, de um momento para o outro, perdeu tudo.
Jardel entrou no mundo das drogas "por curiosidade"
"Não estava preparado, como muita gente não está, para reagir aos embates da vida e aos vícios. Perdi muito dinheiro, perdi família, perdi dignidade", começa por explicar, recordando o momento em que experimentou drogas, nomeadamente cocaína, pela primeira vez.
"[A primeira vez que consumi cocaína] foi no Brasil, numas férias, em 98/99, por curiosidade. Uma curiosidade que não aconselho a ninguém", diz. "Cocaína dá um prejuízo danado: você está a investir na sua morte", acrescenta. "Dá força, tira tesão e o prazer sexual. Dá uma sensação de poder fazer tudo. É um luta constante", explica. "Já não via graça [na cocaína], mas continuava sendo fraco e assumo isso", admite.
Sem data concreta ou indicação temporal, Jardel recorda uma overdose que teve, sozinho em casa, em Fortaleza, no Brasil, e adianta que chegou mesmo a ter alucinações e a ver "monstros nas paredes".
"Já estive sete dias acordado, já tive overdose, chorava e aclamava por Deus", diz. Para Jardel, depois dos momentos com "drogas e gajas no motel" com recurso a "coisas ilícitas", o mais difícil era enfrentar as manhãs. "Um gajo acorda e quer esconder-se de si próprio, sem coragem de se olhar no espelho", conta.
Jardel admite que a batalha contra os vícios nunca estará ganha, porque "o bichinho" permanece e, no fundo, a tentação "está lá", bem presente "na mente". "Não é fácil, mas eu estou me provando diariamente", diz.
O ex-concorrente do "Big Brother Famosos" admite que "sempre bebeu socialmente", mas que foi a partir do momento da separação com a sua ex-mulher, Karen, com quem manteve uma relação durante mais de uma década, que tudo piorou. "A partir da separação com Karen, entrei em depressão, fiquei sozinho e aí investia 30 mil euros todos os dias em festas", revela.
"Não falo com a mãe dos meus filhos"
Em conversa com Manuel Luís Goucha, Jardel admite que amou a ex-mulher, Karen Gaidão (atualmente casada com o ex-jogador de hóquei Filipe Gaidão), com quem manteve uma relação durante 12 anos e teve dois filhos: Mário Jardel Júnior, de 25 anos, e Victoria, de 21 anos.
"[Foi uma relação de] 12 anos. Tentámos, mas não deu. Tenho pouco contacto com ela, admito. Não falo com a mãe dos meus filhos, mas tiro o chapéu para a criação deles. São muito bem criados e educados", avança.
Jardel confessa que o caráter atual dos filhos tem muito que ver com a educação que a mãe, Karen, lhes deu. "Os meus filhos sofreram muito. Teve momentos em que o meu filho estava ao pé de mim e eu estava usando drogas. Pegava na mão dele e pedia para ele jogar [fora]", conta. "Passei por situações constrangedoras, mas hoje o meu filho olha para mim e eu vejo que ele sente alegria pelo meu estado [atual]. Fico emocionado", acrescenta.
O ex-craque admite que apesar de já ter consumido drogas à frente dos filhos, nunca conversou com eles em relação ao seu passado pautado por vícios. Confessa que ambos têm noção de que o pai mudou, mas garante que ainda "há muita coisa" para falar.
Jardel admite que a separação se revelou crítica para a sua saúde mental e para a sua fragilidade face às drogas. "Como é que saiu da depressão?", questiona Manuel Luís Goucha. "Com muita oração", responde imediatamente o ex-craque do Sporting e do Futebol Clube do Porto, admitindo que, em simultâneo, também teve um psiquiatra e um psicólogo, Miguel Tavares, que o acompanha até hoje.
"Estive internado uma vez, mas, ao fim de quatro dias ou três, pedi para sair, porque não aguentava", explica, acrescentando que sabia que havia de sair daquele estado "do seu jeito".
Durante a entrevista, o craque confessou: "estou há um ano e pouco sem usar e há quatro meses sem beber". "Hoje, troco tudo o que tenho, mesmo financeiramente, por esse meu estado [atual]", rematou. Nos momentos mais difíceis, Jardel admite, de forma imediata, que quem tem o maior impacto na sua recuperação e no seu estado atual é a sua companheira atual, Sandra. "[A Sandra] apanha com isto tudo", diz.
"Ela me fortaleceu, me encheu de esperança. Falava as palavras que eu queria escutar", conta. "Não bebe, não fuma e cuida de mim. É a minha mãe, o meu pai, o meu tudo", diz, confirmando que Sandra, com quem já mantém uma relação há 13 anos, era tudo aquilo que lhe faltava.
Jardel recorda a morte da mãe
Mário Jardel conta que, em dezembro de 2021, antes de partir para Portugal, para cumprir confinamento para entrar no "Big Brother Famosos", enfrentou um dos momentos mais difíceis de que tem memória.
"Fui-me despedir da minha mãe. Ela já estava num estado...que eu passei as duas primeiras semanas dormindo mal", começa por explicar.
"Parece que eu já estava sentindo [que algo estava mal] dentro da casa. No dia em que a minha mãe morreu, houve situações muito estranhas. Tinha dor de cabeça, enxaqueca", explica. Jardel conta que, nesse mesmo dia, foi para o espaço exterior da casa e, sozinho, admitiu que não se estava a sentir bem. "Eu disse 'estou-me sentido morto' e a minha mãe estava morta já".
"A minha era muito parecida comigo. Muito forte. Também vacilava muito como eu vacilei. Muito querida, muito opinosa, como toda a mãe", diz, emocionado. No entanto, Jardel reconhece que desiludiu a mãe, principalmente porque não tinha coragem de conversar com ela."Quando comecei a ficar bem, eu conversei com ela. Tentei ajudar, mas Deus quis levá-la", acrescenta.
Jardel tem uma "faceta política" de que muitos se esquecem
"Você foi deputado estadual pelo Rio Grande do Sul", avança Manuel Luís Goucha. No entanto, Jardel esclarece rapidamente que nunca teve particular interesse pela política. À data, aceitou a proposta para ser deputado, apenas porque o convite veio de ex-futebolista de quem era muito próximo.
Inevitavelmente, o facto de o antigo futebolista ter sido suspenso por corrupção quando era deputado estadual foi tema de conversa. "Fui acusado de lavagem de droga, lavagem de dinheiro e tráfico de droga", começa por explicar Mário Jardel.
"Mas quando diz que errou é porque errou e fez alguma coisa mal feita?", insiste o apresentador da TVI. "Fiz", admite o ex-craque, que, ainda assim, deixa claro que nunca desviou quaisquer fundos, nunca fez lavagem de dinheiro ou droga ou até mesmo tráfico. O ex-concorrente de "Big Brother Famosos" admite que errou apenas no que dizia respeito aos salários dos funcionários, mas sempre sem "má fé".
À data, em 2014, todos os bens de Jardel foram congelados e o ex-jogador conta que se viu obrigado a vender propriedades em Portugal para manter a qualidade de vida. Ainda assim, esclarece que já está a receber parte do valor de volta.
"Sou eternamente grato por essa experiência"
Jardel remata a entrevista revelando que o seu maior objetivo, com a entrada no "Big Brother Famosos", foi "provar [que estava mudado]" e garante: "foi missão cumprida". Jardel conta que sente que, por parte de alguns portugueses, as reações quando o encontram são ainda mais efusivas agora do que quando jogava futebol. "E isso me alimenta", admite.
"Sou eternamente grato por essa experiência [participação no 'Big Brother Famosos'], para onde muita gente não queria que eu fosse", remata. Não descarta a participação num futuro reality show, mas esclarece que, se entrar, a sua participação será pautada pelo respeito, tanto "a agir como a reagir".