Que a Netflix é capaz de contar uma boa história, não há dúvidas. Mas no meio de todas as séries, filmes e documentários de sucesso do catálogo, há uma outra que fica por contar: a da própria plataforma de streaming que foi fundada em 1997 por Reed Hastings e Marc Randolph na Califórnia, nos Estados Unidos da América.

Numa altura em que a tecnológica se prepara para produzir 80 filmes em vários países (quando seis das grandes produtoras de Hollywood juntas não chegam sequer a 100), e para investir pelo menos três vezes mais do que a norte-americana HBO alguma vez seria capaz de fazer, interessa perceber como começou o negócio que, segundo o "El País", já conta com mais de 125 milhões de subscritores em 190 países.

O homem responsável por todo este sucesso é Reed Hastings, um dos fundadores e atual CEO da Netflix — e cuja fortuna está avaliada em mais de dois mil milhões de euros pela revista "Forbes".

E se há coisa que programas como o "Lago dos Tubarões" nos ensinaram, é que por trás de um pitch que procure incentivar milionários a investir num determinado negócio, tem de existir sempre uma boa história. E a de Reed começou com uma pequena e vergonhosa frustração quando o atual CEO encomendou, em 1997, uma cassete do filme "Apollo 13" num clube de vídeo local. O que não teria sido um problema, não fosse o facto de Hastings ter perdido a cassete VHS algures em casa. Resultado: foi obrigado a pagar uma multa de 35 euros ao videoclube, que não perdoou o deslize. Segundo o empresário, em entrevista à revista "Quartz", a multa envergonhou-o de tal maneira que nunca contou o que se passara à sua mulher.

Netflix e as medidas anti-assédio. "Fiquei aborrecido que um tablóide gozasse com isto"
Netflix e as medidas anti-assédio. "Fiquei aborrecido que um tablóide gozasse com isto"
Ver artigo

"Lembro-me perfeitamente da multa porque me deixou envergonhado. Isto aconteceu na altura das cassetes em VHS, e fez-me pensar que havia um mercado muito amplo lá fora por explorar", revelou.

Foi desse momento de vergonha que nasceu uma nova plataforma que procurou repensar a forma como as pessoas procuravam consumir produtos de entretenimento. Assim, o empresário norte-americano criou uma plataforma que permitisse aos utilizadores o aluguer de filmes — através de uma subscrição mensal — sem que tivessem de sair de casa.

O sucesso foi garantido, especialmente numa altura em que o formato VHS estava a ser substituído pelos DVDs, e depressa levou o videoclube local à falência.

O serviço foi inovador não só porque tornava a sua utilização mais prática e simples, mas também porque não havia concorrência possível que lhe fizesse frente. A Netflix não só não cobrava multas por atrasos nas devoluções dos filmes, como também não exigia um pagamento inicial no ato da encomenda. E melhor ainda, não cobrava o valor dos portes de envio por correio.

Como para Reed Hastings não havia limites, em 2007, com o sucesso crescente do YouTube, o norte-americano teve a coragem de arriscar e reestruturou todo o seu serviço. Terminou com as funcionalidades que o tornaram famoso e mudou grande parte do conceito.

A Netflix pode ficar mais cara na Europa
A Netflix pode ficar mais cara na Europa
Ver artigo

Porém, a ideia base continuava lá: a de oferecer cada vez mais conteúdo, em qualquer altura e em qualquer lugar, aos seus clientes. E assim nasceu o serviço de streaming tal como hoje o conhecemos — em que a internet substituiu por completo o serviço de entrega postal.

Mas esta é uma história que de ano para ano tem vindo a ser mudada pelo próprio fundador. Durante uma conferência na ultima edição da Mobile World Congress, em Barcelona, o CEO norte-americano contou ao público que a ideia de fundar uma plataforma inovadora e presente como é a Netflix surgiu também de um problema matemático, que o terá inspirado.

O enigma consistia em tentar perceber quantas cassetes cabiam numa carruagem de um comboio, qual o tamanho da informação que cada cassete comportava em si mesma e quanto tempo demorava o comboio a levar toda aquela informação até ao destino pretendido. A solução levou Hastings a concluir que pela internet seria muito mais fácil (e rápido) disseminar todas aquelas cassetes pelo mundo.

Serão estas histórias verdadeiras ou apenas mitos que foram sendo criados para embelezar aquele que poderá ter sido um processo moroso, lento e até aborrecido?

Em entrevista à revista"Quartz", Marc Randolph, um dos fundadores, diz que Reed Hastings terá começado a contar essas duas histórias para florear um processo complicado que envolveu "inúmeras horas de reuniões em que o principal era saber ouvir o feedback de muitas, mas mesmo muitas, pessoas."

"As histórias são apenas isso: histórias. São construções narrativas que embora tenham sido baseadas em alguns factos, tiveram como objetivo tornar mais fácil a interpretação do nosso principal ponto de argumentação e criar um sentimento de identificação. São boas histórias e a Netflix é também ela uma história, por isso estou tranquilo em relação a isso", disse ao "Sillicon Valley Business Journal", em 2014.

Portugueses preferem ver Netflix com os seus animais de estimação
Portugueses preferem ver Netflix com os seus animais de estimação
Ver artigo

A verdade é que não interessa se estas histórias são reais ou não. É que desde 1997 que a Netflix mudou por completo a forma como hoje os filmes e as séries são pensadas, e o sucesso tem-se intensificado desde a sua primeira grande série original, "House of Cards", estreada em 2013.

Segundo o jornal "The Guardian", podia ter sido um grande risco para a plataforma competir contra a HBO e a AMC pela exclusividade do remake de "House of Cards", mas não tem dúvidas que agora é "difícil imaginar o conceito de televisão sem a Netflix, já que é aqui que os criadores e realizadores de filmes e séries de televisão podem arriscar ao máximo, sempre com a garantia de que têm o orçamento necessário para isso."

Apesar de serviços concorrentes como a Amazon Prime ou a Hulu estarem cada vez mais próximos, a plataforma de streaming parece não ter concorrência ao nível de produção de conteúdo original e em vídeo com transmissão online. E isso é notável pela quantidade de vezes que a pergunta "mas isso está na Netflx?" surge quando se fala de uma nova série, documentário ou filme.

As coisas MAGGníficas da vida!

Siga a MAGG nas redes sociais.

Não é o MAGG, é a MAGG.

Siga a MAGG nas redes sociais.