
Já estão disponíveis os dois episódios da série documental sobre a vida e carreira de Peter Schmeichel, o guarda-redes dinamarquês que entre 1999 e 2001 representou o Sporting, depois de ter ganho tudo pelo Manchester United, onde chegou a ser eleito o melhor do mundo na sua posição. Na série "Schmeichel", disponível na SkyShowtime, podemos conhecer melhor toda a vida do dinamarquês que foi polaco durante 6 anos, que podia ter sido um pianista de categoria mundial e que tem um nome que toda a gente pronuncia mal (diz-se "Cemaissel" e não "chemaiquel" ). Mas um dos mais dramáticos passou-se quando vivia em Portugal.
O antigo atleta, que é o guarda-redes mais premiado da história da Premier League, campeonato inglês, deixou de defender as cores do Manchester United em maio de 1999, depois de oito anos na equipa, e rumou ao Sporting, um convite que aceitou porque se tinha apaixonado por Portugal numa visita anterior. Peter Schmeichel confessou no documentário que a experiência tinha sido muito diferente daquilo a que estava habituado, embora tivesse sido feliz ao conquistar um campeonato.
“Eu desfrutei dos meus anos, tendo ganhado o campeonato [aconteceu em 2000], mas foi muito diferente do que aquilo a que eu estava habituado. Estávamos a jogar em estádios meio vazios e eu não estava feliz. Tinha saudades da Premier League”, confessou. Ainda assim, esta curta passagem de dois anos por Portugal foi o que fez com que Peter Schmeichel se reconciliasse com o pai, Antonio Schmeichel, que confessou o seu vício de 40 anos no álcool pouco tempo antes de o antigo guarda-redes se mudar para o nosso País. Os dias começaram a ficar mais cinzentos para a família, com o pai de Peter Schmeichel a piorar mais a cada dia, e os deixaram de se falar.
Mas foi a visita inesperada do pai a Portugal que mudou tudo na relação dos dois. “Quando me mudei para Portugal, a minha mão foi logo para lá também. Podemos dizer que ela escapou. Recebemos conselhos profissionais, disseram-nos que não podíamos fazer nada, que isso dependia da pessoa que tinha o problema. Tínhamos de isolar a pessoa. E isso foi duro. Mudámo-nos para Portugal e não lhe demos números de telemóvel, moradas, nada”, disse. “Um dia, eu estava a passear o meu cão no escuro, tinha apenas uma lanterna na mão, e a minha mulher na altura [Bente, de quem se separou em 2013] ligou-me a dizer que o meu pai estava no portão”, acrescentou.
“De alguma forma, ele conseguiu apanhar um voo para Lisboa, entrou num táxi e disse ao homem para o levar até minha casa. Não tinha nenhuma morada mas o homem sabia onde eu morava, o que foi assustador. E lá estava ele, podre de bêbado. Olhei diretamente para os olhos dele, como uma humilhação, e perguntei-lhe ‘O que queres?’, ‘Quero entrar, quero ver a minha família’, disse ele. ‘Não podes, não te queremos. Tens de ir’. Passados 10 minutos, ele foi embora. Fiquei ali parado, sem saber o que fazer”, confessou Peter Schmeichel.
“Ele voltou para Copenhaga e do avião foi diretamente para uma casa de reabilitação. Viveu mais 20 anos e nunca mais bebeu uma pinga de álcool. Ele ficou sóbrio, consertou as pontes, estabeleceu novas relações com toda a família, mas não quis falar comigo. Humilhei-o tanto com aquela lanterna que tinha na mão que ele não me conseguiu perdoar”, explicou o antigo guarda-redes. No entanto, foi essa lanterna que lhe salvou a vida. “Aquela humilhação foi o empurrão final. Umas horas depois o meu pai ligou-me, pediu-me desculpa e tornámo-nos inseparáveis nestes últimos 20 anos”, rematou. Antonio Schmeichel morreu em 2019, aos 86 anos.