Sou do tempo em que os homens iam ao futebol e as mulheres ficavam a fazer tricot no carro. Os estádios eram uma amálgama tribal onde para se puxar pelo seu clube se diziam as maiores barbaridades e palavrões. Neste capítulo, as coisas estão iguais, nas bancadas ouvem-se as mesmas coisas com nota artística elevada quando se trata de apelidar os árbitros. Mas quanto ao tricot, são coisas do passado.
Para bem do futebol são cada vez mais as mulheres que gostam de ver a bola a rolar e os seus astros. Vestem-se a rigor, também dizem umas coisas herdadas de Bocage, se as coisas não estiverem a correr como se deseja para a sua equipa, compram lugares anuais e fazem-se sócias. E as câmaras das televisões estão sempre atentas e mostram-nas com gosto. São uma espécie de flores no meio do cimento.
Mas há outra vertente em crescimento, a prática da própria modalidade. Por cá, já são mais de sete mil as jogadoras federadas. Ainda não podem ombrear com Inglaterra, Holanda, Alemanha, Suécia ou Noruega, por exemplo, onde já são mais de cem mil as que mostram as suas habilidades no relvado. Mas se vos disser que de 2011 até agora o crescimento desta variante se situa nos 322 por cento, podem aquilatar que o prazer pela prática do desporto-rei já não é exclusivo dos homens.
A Federação Portuguesa de Futebol, com a ajuda dos clubes, nomeadamente Sporting e Braga, entre outros (e em breve o Benfica), tem desenvolvido um forte esforço de promoção e divulgação que as televisões e a imprensa têm acarinhado. E para isso lança um importante programa de prospecção no interior do País para que o futebol feminino ganha mais fãs e praticantes.
E com um factor muito mais interessante: é que a paixão das mulheres pelo jogo é quase o lado poético do futebol. Ainda não há verbas milionárias à sua volta, não há guerras de dirigentes e não há paineleiros a botarem discurso e a ensombrar o que o desporto tem de mais positivo e alegre. Que venham elas que nós gostamos.
O autor escreve a antiga ortografia.