Esta sexta-feira, 1 de abril, é dia das mentiras. A mais pura das verdades é que esta data marca também o dia em que faz exatamente um mês que começou esta aventura de um ano a viajar pelo mundo com o Nuno, o meu namorado. Um mês de Tailândia, que passou a voar, e que me proporcionou tanto. Muito mais do que podia imaginar. 

O melhor da Tailândia… em Banguecoque

Esta cidade encantou-me ao ponto de, às tantas, ter começado a sentir que era aqui a minha casa na Ásia. Banguecoque é uma cidade vibrante, que não pára nunca. Torna-se por isso quase exaustiva, mas surpreende tanto que acaba na verdade por se mostrar magnética. Não apetece largá-la, mas sim abraçá-la, conhecê-la a fundo, mais e mais. Porque quanto mais por ela deambulamos, mais nos oferece e surpreende, aceitando-nos, e fazendo-nos sentir parte dela. 

A confusão é total, tal como a poluição. As regras de trânsito não são tidas em conta, é o vale tudo, e por isso é obrigatório olharmos para todo o lado, segundo a segundo, sempre que passeamos pela rua. Tudo acontece ao mesmo tempo, sem limites. As bancas de rua vendem de tudo, em qualquer lugar. Do mais essencial, como comida, ao mais inútil, como telemóveis Nokia 3310 aparentemente estragados. A sujidade é inegável e, por isso, à noite as baratas saem à rua. 

Banguecoque não é um cenário idílico, e à nossa chegada choca de frente connosco, sim. É bem diferente daquilo a que estamos habituados, mas num instante conquista-nos e apaixona-nos.

Volta ao Mundo
créditos: Joana Costa Pereira

Chinatown foi o meu sítio de eleição, que me conquistou sobretudo depois de ter feito um tour gastronómico com a empresa A Chef’s Tour . Este projeto dispõe de vários tours gastronómicos pelo mundo, que consistem num passeio de quatro horas, levado a cabo por um chef local. Cada tour leva no máximo oito pessoas, o que torna a experiência muito exclusiva. O valor por este serviço em Bangkok é 65€, mas varia consoante o país em que estamos. Está longe de ser barato, bem sei, mas não podia valer mais a pena. Se procura uma forma autêntica de mergulhar na cultura, vai render-se a esta experiência.

O nosso guia chama-se Nutth e trabalhou anos como chef nos EUA. É quem desenhou o tour que fizemos, que combina uma visita às melhores bancas de comida de rua de Chinatown, com as quais nos deliciámos, com um passeio por caminhos aos quais seria impossível acedermos sozinhos. Ao longo de todo o percurso, Nutth conta-nos inúmeras particularidades da história e cultura da Tailândia, permitindo-nos mergulhar a fundo na mesma.

Parámos ao todo em 16 bancas de rua e pudemos experimentar de tudo um pouco: doces, salgados, carne, peixe, frutos do mar, vegetais, até sumo verde que, segundo Nutth, faz muito bem à tensão arterial. 

Destaque também para o facto de termos tido a oportunidade de assistir à confecção da comida que depois comemos. Esta experiência leva-nos até aos bastidores das bancas de rua de Banguecoque. Na verdade, este tour permite-nos viver como verdadeiros locais durante quatro horas. Aliás, cinco. A generosidade de Nutth é desmedida. É apaixonado pelo que faz e foi com o maior dos entusiasmos que se entregou à missão de nos proporcionar a melhor experiência possível. Perdeu-se (perdemo-nos, aliás) nas horas e, quando demos por nós, estávamos juntos há cinco. Escusado será dizer que foi inesquecível. 

O melhor da Tailândia… em Koh Tao

Koh Tao é uma pequena ilha que fica na parte ocidental da Tailândia. Vive sobretudo do turismo e tem no mergulho uma das principais atrações. Não sou perita no tema, por isso fiz apenas snorkeling, mas só isso foi surpreendente. A vida marinha sempre me seduziu, perco-me no mar. Só percebo que estou há demasiado tempo dentro de água quando sinto os dedos engelhados. É defeito de fabrico, mas tenho muito a ganhar com isso. 

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créditos: Joana Costa Pereira

Sairee Beach, Koh Nangyuan e Freedom Beach são as praias de que mais gostei, mas escolho esta última como a melhor da ilha. É uma praia-selva, onde é fácil um lugar à sombra, devido às várias árvores de que dispõe. Aqui a energia é espetacular, está sempre a passar música animada (sem ser incomodativa) e os animais são bem-vindos. Claro que me apaixonei pelo cão de um dos locais com quem nos cruzámos — era lindo e muito bem comportado. A praia dispõe ainda de um restaurante onde é possível comer muito bem e beber um sumo fresco de fruta. Uma delícia.

Rendi-me à vida na ilha pela sua beleza, mas também pela experiência de hotel pela qual passei. Foi em Koh Tao que presenciei pela primeira vez uma tempestade tropical, o que inevitavelmente implicou passar mais tempo “em casa”, como quem diz, no hotel. Ficámos no Ecotao Lodge, um verdadeiro paraíso na terra, situado no coração da ilha. Dispõe de uma piscina com uma vista de cortar a respiração: o mar lá ao fundo, e verde, muito verde, a toda a volta. A piscina fica na zona do bar, onde é servido o pequeno-almoço, que apresenta várias opções deliciosas e nutritivas. Fui variando entre o pão com ovo mexido/ estrelado e, além disso, insisti sempre no sumo de abacaxi, café com leite, melancia e ananás. Com este pequeno-almoço, já quase só precisava de jantar — as porções são boas e a variedade é muita, tal como o sabor. 

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créditos: Joana Costa Pereira

Os quartos eram limpos, embora os vários bichos e insetos, como aranhas, osgas, sapos, formigas, baratas e mosquitos, muitos mosquitos, estivessem por perto. Na selva é impossível contornar a bicharada, mas já sabíamos disso, e jamais seria motivo para abdicarmos de vir. Tenho uma espécie de fobia a baratas e os mosquitos assustam-me por saber que, aqui, podem ser portadores de doenças graves. Contudo, insistindo no repelente, é possível contornar a situação e, além disso, acaba por ser tudo uma questão de hábito. Confesso que no primeiro dia fez-me alguma confusão, mas rapidamente fui invadida pelo desejo de ficar a viver aqui. 

O dono do hotel contribuiu também, e muito, para tornar esta experiência única. De uma simpatia impressionante, Yves Frangioni perdeu-se horas a fio à conversa comigo e com o Nuno. Contou-nos a sua história de vida, que não resisto a partilhar.

Yves é francês e, embora tenha a genica de um jovem de 20, tem na verdade 66 anos. Nasceu e viveu toda a vida em Grasse, Riviera Francesa, onde casou e teve três filhos. 

É um apaixonado por desporto e treina judo desde os 6 anos, tendo aliás dado aulas desta arte marcial japonesa durante grande parte da sua vida. Foi, inclusive, campeão mundial de judo pela seleção francesa por mais de 30 anos consecutivos. 

Há 15 anos, ouviu pela primeira vez falar de Koh Tao, através do melhor amigo, um apaixonado por esta ilha. Na altura, Yves desconhecia por completo a Tailândia, país pelo qual não tinha qualquer interesse. Contudo, seduzido pelo grande amigo, que lhe contou maravilhas sobre este destino de sonho, não resistiu a marcar viagem. Cá veio e, tendo gostado tanto, acabou por voltar poucos meses depois. Num ápice, Koh Tao tornou-se o seu destino de férias predileto. 

Certo dia, Yves estava em casa, em França, quando o amigo lhe ligou a contar que tinha comprado um terreno em Koh Tao. A notícia deixou Yves tão contente pelo amigo, quanto desejoso de fazer o mesmo. Começou assim o seu sonho de comprar casa na ilha. Sonhou, concretizou, e pôs mãos à obra para levar a cabo a mais louca aventura. Com 50 anos, largou tudo em França, para começar aquela que viria a ser a sua “segunda vida”, como me disse. 

A construção da casa onde hoje vive permitiu-lhe privar com locais, que se tornaram amigos e, por isso, essenciais para a sua integração na ilha. Neste processo, rapidamente percebeu que seria possível avançar com um projeto como o Ecotao Lodge. Assim fez, e o resultado está à vista. Um lugar único, muito virgem, onde é possível mergulhar a fundo na natureza, e que combina a beleza da Tailândia com o calor ocidental.

Yves refez aqui a sua vida. Vive agora com uma senhora tailandesa, com quem teve uma filha, atualmente com 4 anos. Um dos filhos do seu primeiro casamento (Florian, 32 anos), e que sempre viveu em França, rendeu-se aos encantos da ilha e mudou-se para perto do pai há seis anos. Estão ambos a preparar a abertura de uma loja de escalada no centro da ilha.

Yves é uma pessoa muito positiva e alegre, com uma disponibilidade encantadora. Entregou-se a nós como se não lhe faltasse tempo para nada. Foi ficando, e nós rendemo-nos à sua forma de estar e ser. Visita o hotel todos os dias e é evidente que faz questão de estar muito presente no dia-a-dia dos seus colaboradores. Até agora, este foi o hotel onde fomos mais bem recebidos. 

O melhor da Tailândia… em Chiang Mai 

A Tailândia não se resume, de todo, às praias paradisíacas, e Chiang Mai é prova viva disso mesmo. Esta cidade situa-se no norte do país, longe do mar e perto da montanha. Aqui encantam templos imponentes, natureza, recantos belíssimos por toda a parte, gastronomia inigualável, mas sobretudo, uma paz contagiante. Por aqui não há confusão e, apesar do calor imenso (40 graus em grande parte dos dias que cá estivemos), a calma evidencia-se. Aliás, uma das máximas da cidade é precisamente, “Sabai, Sabai”, que significa algo como “tranquilo, vamos com calma”.   

Chiang Mai é também muito democrática, no sentido em que apresenta cenários para todos os gostos. Aqui é possível desfrutar, tanto de uma refeição na típica banca de rua, sentado no chão, quanto do conforto de um restaurante à porta fechada, com um serviço mais exclusivo e cuidado. Nos dois casos, o preço é sempre muito acessível (4€ foi o máximo que pagámos por uma refeição, por pessoa). 

Esta é, sem dúvida, uma cidade de contrastes. Dispõe de mercados de rua, onde o corrupio é predominante, mas também de locais como One Nimman, na zona da moderna da cidade, que nos faz sentir muito perto de casa. Este é um mercado ao ar livre, onde é possível comprar artesanato, bijuteria, roupa, e dispõe também de vários restaurantes. A zona é tranquila, cuidada, limpa e organizada, e tudo o que aqui está à venda é de grande qualidade.

Chiang Mai proporciona, de facto, experiências muito variadas e únicas, mas ter tido a oportunidade de ficar alojada em casa de locais, foi o que realmente tornou esta passagem por aqui absolutamente inesquecível. 

Gonçalo Loureiro (42 anos) e Sofia Frazão (46 anos) são portugueses e mudaram-se para Chiang Mai em 2019. São ambos amigos da minha irmã e, sabendo eles da nossa passagem pela cidade, não hesitaram a convidar-nos para ficarmos na casa onde vivem com o filho, Amadeu (6 anos). A história deste casal impactou-me e, muito possivelmente, transformou-me de alguma forma, no melhor dos sentidos. 

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créditos: Joana Costa Pereira

Esta dupla visitou a Tailândia pela primeira vez em 2012 e, desde o primeiro momento, sentiu uma ligação diferente com o país. Por isso mesmo, a partir desta altura, passou a ser recorrente voltarem aqui. Começaram por visitar as ilhas e, mais tarde, as cidades. Em 2017 aterravam pela primeira vez em Chiang Mai. A tranquilidade da cidade, a facilidade de acessos (é fácil chegar a toda a parte porque acaba por ser tudo muito perto), as múltiplas opções por explorar, a combinação cidade/ montanha… Esta conjugação de fatores espoletou no casal a sensação de que este talvez fosse o sítio ideal para viverem um dia mais tarde, depois da reforma.

Pensaram sempre que as suas vidas seriam passadas em Lisboa, contudo, em 2018, perceberam que talvez a mudança estivesse muito perto de concretizar-se. O facto de estarem cansados da rotina de trabalho de escritório das 9h às 18h contribuiu para que se impusesse esta necessidade de mudar. São apaixonados por Portugal, mas a vontade de experimentarem mais e diferente começou a ser predominante. Como o filho ainda no jardim escola, acabaram por concluir que esta seria a altura certa parra arriscarem. 

Despediram-se, tornaram-se freelancers, e em 2019 ,instalaram-se em Chiang Mai. Gonçalo é copywriter e adora escrever sobre gastronomia — criou um site onde partilha muitas das suas aventuras pela Tailândia. Sofia é designer e ilustradora. Trabalham ambos para o mundo, tendo a maior parte dos seus clientes em Portugal e no Brasil.  

“Não sei o que acontece amanhã, não sei sequer se cá estou, por isso, vou aproveitar agora, que sei que posso”, disse Gonçalo. Para este casal, a vida é agora e não faz sentido esperar pelo momento certo, que pode nunca vir a chegar. 

Vieram pela cultura, pela cidade em si, pela gastronomia, pelo clima, pelas pessoas, que, disseram-me, são muito afáveis, sobretudo aqui, no norte da Tailândia. Explicaram-me também que, obviamente, nem tudo é fácil. Os desafios são muitos, e sobretudo relacionados com as dinâmicas implícitas à aquisição de vistos e afins. Garantem, no entanto, que todo o esforço compensa.

“Há todo um universo por explorar, tem sido uma jornada muito interessante, porque aprendemos muito e expomos o nosso filho a uma cultura diferente. Isto dá-lhe ferramentas para o futuro. É uma situação que, no fundo, é benéfica para todos”, conta Gonçalo. 

Numa das muitas conversas que tivemos, disse-lhes que eram a prova viva de que vamos sempre a tempo de recomeçar. Responderam-me: “Diz antes começar”. Têm toda a razão. Impressionou-me a leveza, e também a pureza, com que são capazes de olhar para tudo. Caracteriza-os uma grande jovialidade, que guardo em mim como referência. Vivem a vida ao máximo, permitindo surpreender-se todos os dias. Não se cansam de ir à procura de mais, e mesmo quando cansados, não desanimam. Um puxa pelo outro e são uma equipa que admiro muito. Estão os dois sozinhos com o Amadeu, que acompanham muito de perto, proporcionando-lhe experiências únicas. 

Sem nos conhecerem de lado nenhum, receberam-nos como família na sua casa de madeira. Pediram, por favor, que nos sentíssemos em casa. A verdade é que nos sentimos em família. A despedida custou, e muito, com direito a lágrimas e tudo. Ficou uma ligação para toda a vida e também muitas aprendizagens, que jamais irei esquecer.

Viajar é, sem dúvida, de uma riqueza incomparável, e isso deve-se em muito às pessoas com quem nos cruzamos pelo caminho. Nutth, Yves, Gonçalo e Sofia são as pessoas que mais me marcaram pela positiva até agora. Cada um à sua maneira, mostraram-me de forma muito clara, não só que há uma casa e uma família em qualquer parte do mundo, pronta a acolher-nos, mas também que a vida pode realmente surpreender muito mais do que alguma vez sonhámos e, o mais importante, que nunca é tarde demais para sermos o que quisermos. 

Caso tenha alguma dúvida ou sugestão, não hesite a contactar-me por e-mail (joanapereira@magg.pt) ou mesmo pelo Instagram, onde estou também a partilhar sobre esta minha aventura.

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