As mãos assemelham-se a pequenos cubos de gelo, o nariz congelou de vez e nem a botija de água quente parece capaz de aquecer os pés. Nem vamos falar da quantidade de espirros e tosse convulsa que invadiram a cidade, ou da aparente incompetência das camisolas em manter-nos quentes. O inverno só começa oficialmente a 21 de dezembro, mas as temperaturas baixas fazem-nos esquecer o calendário. O que interessa é que está frio — mesmo muito frio.

Os humanos sabem o que devem fazer: usar roupas quentes, beber muitos líquidos e aquecer a casa são algumas dicas essenciais. Então e os animais? Precisam de algum cuidado adicional?

"As patologias que mais podem surgir no inverno são respiratórias", explica à MAGG Luís Montenegro, diretor do Hospital Veterinário Montenegro. "As temperaturas baixas, e sobretudo as mudanças bruscas de temperatura, provocam o agravamento de patologias respiratórias, como por exemplo bronquite."

Luís Montenegro é diretor do Hospital Veterinário Montenegro, no Porto

A humidade no ar também pode sobrecarregar os pulmões dos animais. Cães e gatos doentes requerem atenções redobradas, mas também aqueles que já têm idade avançada. Ainda assim, todos devem ir ao veterinário.

"Recomendamos a todos os donos que, antes do inverno, levem os animais a fazer um check-up para verificar o seu sistema imunitário, e se existe alguma patologia respiratória que precise de ser prevenida".

Cumprido o primeiro passo, há cuidados que todos os donos devem ter com os seus animais. E esses podem ser tão ou mais importantes do que a ida ao veterinário: "Às vezes, o melhor que um dono pode fazer pelo seu animal nem é ir ao veterinário — é cuidar da sua saúde dia a dia". Vacinas e desparasitantes são essenciais, assim como exercício físico e uma alimentação saudável.

Estas dicas são válidas para todos os animais. Depois há, claro, diferenças entre espécies — no caso dos cães, por exemplo, não é excesso de zelo vestir-lhes uma camisola. Já o caso dos gatos é preciso ter (mesmo) muito cuidado com as fontes de calor em casa.

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As mudanças de temperatura são perigosas para os cães

Enquanto a grande maioria dos gatos, sobretudo nas cidades, não sai de casa, os cães têm os seus passeios diários. E é precisamente aqui que os donos devem ter especial atenção: as mudanças repentinas de temperatura podem ser perigosas para os animais.

"O cão deve fazer uma transição gradual do calor da casa para o exterior. Vamos imaginar que ele está na sala, onde está muito quente: passa primeiro para o vão de escada, fica ali uns minutinhos, e depois então vai para a rua".

Dar-lhe um agasalho extra também pode ser uma boa ideia. Associado muitas vezes a razões meramente estéticas, a verdade é que pode ser tão útil como quando nós, humanos, saímos de casa com um casaco.

"Não é um excesso de zelo. No fundo, vamos proteger mais a superfície corporal do animal, evitando que tenha tanto contacto com o frio", explica. "Um agasalho só fica bem".

Ainda assim, salienta o veterinário, o frio mais agressivo para o sistema respiratório dos animais é aquele que eles respiram. Mas aí não há nada a fazer para além de ter as vacinas em dia, ter todos os cuidados recomendados pelo veterinário em caso de patologia ou idade avançada e manter uma alimentação saudável e boa hidratação. E já que falamos em alimentação, não há qualquer necessidade de aumentar a ingestão de comida durante este período.

Cães como o Husky siberiano ou o São Bernardo estão mais do que habituadas ao frio. Já animais oriundos de locais quentes têm de ter cuidados especiais. “Para que as pessoas nem tenham que olhar muito a raças, basta olhar para o pelo”, explica o veterinário Luís Montenegro. Os cães com uma camada de pelo grossa estão, regra geral, mais preparados para o frio. Aqueles que têm pouco pelo, como por exemplo o Pinscher, precisam de cuidados redobrados.

"Normalmente não se recomenda comida excecional, porque à partida não os vamos expor a longos períodos de frio."

Além disso, salienta Luís Montenegro, tal como as pessoas, os animais estão cada vez mais obesos. Portanto, na grande maioria dos casos o que é de facto importante é fomentar a prática de exercício físico.

E o frio também nunca deve ser impeditivo de manter a rotina de caminhadas dos cães. A não ser que haja um temporal grave, e que o próprio Instituto Português do Mar e da Atmosfera recomende que as pessoas fiquem em casa, os passeios devem ser os mesmos.

Neste caso, tudo depende dos hábitos dos animais. Um cão que não esteja habituado a fazer grandes passeios, regra geral deverá passar dez minutos na rua. Mas o ideal é que esse tempo seja superior, para bem da saúde dele. Semana a semana pode haver um aumento gradual do passeio, só não pode ser uma mudança brusca — caso contrário "até dores musculares o animal pode ter."

Quanto ao número de passeios por dia, o ideal são dois. "Mas se não for possível, dão um passeio higiénico (que não se trata de um verdadeiros passeio já que serve apenas para o cão fazer as necessidades) de manhã e outro à noite".

Com os gatos os cuidados são outros

No caso dos gatos que vivem na rua ou passeiam livremente entre a casa e a rua (são os chamados gatos errantes ou semi-errantes), os melhores cuidados a ter são uma boa alimentação e vacinas e desparasitantes em dia. "Claro que quanto mais conforto pudermos possibilitar para que o gato se abrigue, melhor. Ele vai agradecer".

Luís Montenegro refere a iniciativa da Câmara de Monchique, no Algarve, que transformou máquinas de lavar e de secar roupa em obras de arte urbana para abrigar os gatos vadios.

O projeto chama-se Aqui Há Gato e começou a ser implementado em outubro deste ano

Os gatos que estão sempre em casa têm de ter cuidados diferentes. Neste caso não se trata tanto de os proteger do frio, mas sim do excesso de calor. "O gato adora o calor. Se tivermos um aquecedor a óleo ou uma fogueira, temos mesmo que fazer uma proteção. O que temos mais [na clínica veterinária] são casos de gatos queimados e desidratados".

Os gatos procuram de tal forma o calor que acabam por infligir lesões em si próprios por se aproximarem demasiado dos pontos de calor da casa.

O veterinário refere ainda que é preciso assegurar que a temperatura da casa não está demasiado elevada, bem como que todas as divisões são arejadas. "É um problema para pessoas e animais durante o inverno. Isto vai proporcionar que determinados microorganismos possam ter melhores condições para se propagarem".

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