São cada vez mais as pessoas que acreditam que a boca do cão é mais higiénica e limpa do que a boca de uma pessoa. A explicação, segundo um estudo feito pela Universidade de Medicina Veterinária de Cornell, em Nova Iorque, está no facto de quando um cão lambe uma ferida humana, ser capaz de remover poeiras ou detritos — que, por sua vez, aceleram o processo de cicatrização. Ainda assim, há um risco de transmissão de doenças e de infeções quando o contacto é feito entre a língua do animal e a boca, o nariz ou os olhos da pessoa.
Quem o diz é Rafael Mendonça, veterinário, que não tem dúvidas de que "a boca dos cães não é necessariamente mais limpa do que a das pessoas", muito devido ao hábito constante do animal em meter a boca em "tudo o que é sítio". A lambidela, apesar de ser um comportamento inato e servir como parte integrante da comunicação do cão, deve ser encarada com alguma cautela, mas sempre sem grandes alarmismos, continua.
"Para uma maior segurança, basta manter as desparasitações do animal em dia e ter os cuidados básicos de higiene como lavar as mãos antes e depois de tocar no cão e mantê-lo num local asseado. No fundo, é ter os mesmos cuidados que temos connosco antes de nos sentarmos à mesa para comer, por exemplo."
Apesar disso, Rafael Mendonça percebe a preocupação quando se fala em riscos de transmissão de doenças após o contacto da boca do animal com a de uma pessoa. É que é muito comum para um cão comer fezes durante o seu passeio diário, que podem ficar acumulados nos dentes ou nas gengivas do cão.
Caso não sejam eliminados, o veterinário garante que a transmissão de parasitas gastrointestinais é muito provável e até preocupante. "Ao comerem restos de fezes na rua e ao lamber logo de seguida uma pessoa, assiste-se a um contacto ora-fecal indireto que pode resultar num grande risco de contágio."
Os principais sintomas, continua, podem manifestar-se através de "erupções cutâneas na boca e nos lábios ou, eventualmente, através de alguns sinais de gastroenterite como vómitos e diarreia", mas garante que esse contágio não é assim tão comum como se pensa, o que não significa que as pessoas não tenham de aplicar regras de "bom senso" quando lidam com animais e com a sua higiene.
No que toca a uma atenção redobrada, o veterinário conta à MAGG que a adoção de medidas mais preventivas deve ser feita com o avançar da idade do animal, especialmente se estes começarem a desenvolver tártaro nos dentes que se traduz por uma maior acumulação de bactérias na boca. "Aí o risco talvez seja muito maior, mas estamos a falar em termos lógicos. Se um cão que tenha uma boca doente, porque sofre de doença periodontal e tártaro, está mais sujeito a transmitir bactérias às pessoas que lidam com ele diariamente, então é óbvio que as atenções devem ser outras e sempre com o intuito de prevenir o pior."
Nesse caso, não tem dúvidas: "por haver um risco elevado de transmissão de doenças, devem ser feitas limpezas regulares na boca do cão e evitar comportamentos de risco."