A guerra na Ucrânia não foi o único fator, mas é inegável que contribuiu de forma significativa para os números históricos que temos em 2022: atualmente, e pela primeira vez, o número global de refugiados e deslocados ultrapassa os 100 milhões. A crise humanitária é real, e várias marcas e empresas continuam a fazer a sua parte, tentando ajudar quem mais precisa, mas também fornecendo informação vital para que o mundo mude os preconceitos acerca dos refugiados.

Urszula recebe refugiados num hotel na Polónia. "O mais importante é que aqui estão seguros"
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É justamente essa a missão do IKEA e do Ingka Group (que detém a marca sueca), que em conjunto com o ACNUR/UNHCR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, uniram esforços na iniciativa Juntos por todos os Refugiados, lançada no passado dia 20 de junho, data em que se assinala o Dia Mundial do Refugiado.

Mas esta é uma campanha em duas vertentes, tal como explica Tolga Öncü, retail operations manager do IKEA e do Ingka Group, no contexto de um encontro com a imprensa em Helsinborg, Suécia, integrado na presença da marca sueca na exposição mundial H22. "A campanha quer, por um lado, angariar dinheiro — até agosto, temos o objetivo de angariar, pelo menos, 20 milhões de euros para o ACNUR —,  contribuir para que o tema dos refugiados se mantenha relevante, mas esperamos que seja também um meio de contribuir para mudar a narrativa."

Ikea
Tolga Öncü, retail operations manager do IKEA no evento em Helsingborg

Tal como salienta o representante da marca sueca, "a narrativa que vemos nas notícias, muitas vezes, não é a correta". "Existem noções erradas, preconceituosas, sobre os refugiados, e dado que acreditamos no contrário, queremos angariar dinheiro, sim, mas também contribuir para a mudança da narrativa."

"Consegui um emprego por ser o Abdul, não por ser refugiado"

Uma das grandes ferramentas da marca para ajudar a população refugiada e deslocada ao mesmo tempo que contribui o conhecimento geral desta crise humanitária é o Programa de Empregabilidade para Refugiados, que existe a nível global — já ajudou mais de 1.400 pessoas —, e que em Portugal está a atravessar a segunda edição.

Com o intuito de inspirar mais empresas a abrir caminho à integração de refugiados, a iniciativa promove a empregabilidade e inclusão no mercado de trabalho, e baseia-se numa formação on-the-job com um estágio remunerado de seis meses.

"O ano passado tivemos 20 participantes, e sete ficaram a trabalhar connosco", conta-nos Carla Coelho, public relations do IKEA, também durante o evento da H22 em Helsinborg, na Suécia. "O objetivo é dar ferramentas para que estas pessoas consigam ficar melhor preparadas para entrar no mercado de trabalho. Aprendem a língua, outras competências, a prepararem-se para entrevistas de trabalho, há também sessões socioculturais e de empregabilidade", salienta Carla Coelho sobre a iniciativa que, em 2022, conta com 12 refugiados no grupo.

Mas o sucesso do projeto será muito mais entendido não a olhar para estatísticas, mas para os olhos de quem viu a vida mudar graças a este tipo de iniciativas. Numa talk promovida pelo IKEA Festival, o conceito escolhido pela marca sueca na H22, conhecemos a história de Abdulrahman Alkayali, 43 anos, sírio e uma das muitas pessoas cujo programa ajudou.

Em 2016, Abdul e a mulher, Silva Tanielian, estavam em Praga, na República Checa, em lua de mel. Depois das  férias, o casal foi aconselhado por amigos a não regressar à Síria, onde situação tinha piorado drasticamente desde que Abdul e Silva tinham saído do país. Não era seguro e o risco de vida para os habitantes era bem real.

IKEA
Abdulrahman Alkayali participou na conversa juntamente com Jesper Brodin, CEO do Ingka Group

"Fui de lua de mel e não consegui voltar para casa", contou Abdul, que tinha uma fábrica e loja de móveis na Síria, enquanto a mulher era decoradora de interiores. Depois de um período na Áustria e de procurarem asilo na República Checa, as vidas de ambos continuaram — mas Abdul não conseguia arranjar emprego.

"Tentei conduzir táxis, mas não falava a língua. Candidatei-me a todos os tipos de emprego, enviei dezenas e dezenas de currículos, até me candidatei a um emprego para empurrar corpos para a morgue num hospital. Nunca consegui nada", recordou o sírio de 43 anos, que salientou que nem para empurrar mortos servia.

Com o passar do tempo, o casal teve um filho e a frustração e desespero de Abdul por não conseguir um emprego aumentou — até que o programa de empregabilidade do IKEA lhe foi sugerido num centro de emprego. Abdul concorreu, fez o programa e, no final, foi-lhe oferecida a possibilidade de ser entrevistado para um lugar permanente na empresa.

"Não me deram um emprego, deram-me uma oportunidade de conseguir o mesmo. E consegui um emprego por ser o Abdul, não por ser refugiado", salientou Abdul, que hoje trabalha como operador de logística numa loja IKEA, em Praga.

"Trabalhar no IKEA é um sonho. Eu tinha uma loja de móveis, chateava os meus amigos que viajavam para me trazerem catálogos para me inspirar. E agora trabalho aqui", referiu em Helsinborg, num momento em que também reforçou a motivação de pessoas na mesma situação que a sua. "Não vão achar pessoas mais motivadas e com vontade de trabalhar", disse, deixando uma mensagem para os empregadores.

Até agosto, gaste um pouco mais de dinheiro — e por uma boa causa

Para além da partilha de conhecimento e do programa de empregabilidade, a campanha Juntos por Todos os Refugiados tem como objetivo angariar donativos para o ACNUR. E como é que o pode fazer?

Nada mais simples: até 31 de agosto, em todas as suas compras nas lojas ou site do IKEA, pode acrescentar uma doação, sendo o valor incluído no pagamento de forma automática. Ou seja, no final das suas compras, basta escolher o montante a acrescentar — nas lojas, pode doar a quantia de 2€, 5€ e 10€, e no online, escolher entre 5€, 10€ e 20€.

A campanha de angariação feita em parceria com o ACNUR mantém-se até ao final de agosto e decorre a nível mundial, em todas as lojas e sites IKEA.