"Nem todas fomos feitas para cheirar a peixe lá em baixo". É este o slogan da nova campanha publicitária de um produto de higiene íntima da farmacêutica Bayer. Direcionado para mulheres, o intuito do anúncio, que usa uma sereia como protagonista, era reforçar o aumento da literacia das mulheres sobre infeções vaginais, tal como escreve a "Briefing". No entanto, o tiro não podia ter saído mais ao lado.

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"Quando até a indústria farmacêutica recorre a graçolas destas, não admira que tantas miúdas e mulheres andem a destruir as suas floras vaginais com perfumes para a genitália", referiu Paula Cosme Pinto, cronista no "Expresso" e criadora de conteúdos digitais, numa reação a esta campanha publicada na sua página de Instagram.

Campanha
A campanha no formato papel. créditos: Instagram

"É ofensiva [a campanha], sinceramente. Acima de tudo, porque parte de um princípio muito básico e desrespeitoso de enxovalho quanto ao odor da genitália feminina. Odor esse que tem sido diabolizado desde sempre, como se fosse suposto nós cheirarmos a rosas. Pois bem, não é suposto. Este cliché do cheiro a peixe já mete nojo —o cliché, não é o cheiro", salientou, referindo ainda que o preconceito aliado ao odor íntimo das mulheres pode ter consequências negativas a nível da saúde.

"Têm noção de quantas meninas e mulheres continuam a adiar o tratamento de tais situações tão simples de resolver, precisamente porque sentem vergonha dos sintomas associados? Que arrastam um problema de saúde porque têm medo de serem rotuladas como aquelas que cheiram a bacalhau, por mais que lavem a vulva até à exaustão? Que temem, inclusive, o julgamento de profissionais de saúde? Que se põem a comprar cremes perfumados (que só causam danos ao nosso PH), em vez de irem em busca de ajuda médica?", continuou a cronista, que faz a ressalva que "a campanha em vídeo resulta melhor e o humor é mais perceptível, tal como a mensagem pretendida".

“O humor fino e inteligente do anúncio permite-nos falar com naturalidade sobre os cuidados vaginais das mulheres"

Na mesma publicação, as reações de indignação não tardaram. "Aposto que se formos ver a ficha técnica da campanha são todos homens", salientou a rapper portuguesa Capicua. No entanto, na verdade, há uma mulher envolvida na campanha

Falamos de Helena Marzo, a diretora criativa LOLA MullenLowe, agência responsável pela criatividade do produto de higiene íntima da Bayer.

"O humor fino e inteligente do anúncio permite-nos falar com naturalidade sobre os cuidados vaginais das mulheres. Se o principal sintoma é o cheiro a peixe, falemos então de cheiro a peixe. A chave é quem fala e a forma como se dirige às mulheres sobre este tema. Neste caso, ninguém melhor do que uma sereia para desmitificar este sintoma”, refere a criativa, tal como escreve a "Briefing".

A campanha já foi lançada em Portugal, mas também vai estar disponível noutros mercados europeus como Espanha, Bélgica, e Países Baixos.