Com novas tendências e estudos a surgir todos os dias, pode ser difícil filtrar a informação e perceber o que é melhor para a saúde vulvovaginal. Irina Ramilo, ginecologista no Hospital Lusíadas, em Lisboa, responde a quatro questões essenciais à higiene íntima da mulher. Nas respostas estão informações sobre como se adaptar às diferentes fases da vida, desde a menstruação e a menopausa.
É seguro usar um produto de higiene íntima todos os dias?
A especialista começa por explicar que os produtos de higiene que existem no mercado são testado dermatologicamente, por isso devem ser, na sua essência, seguros para utilização. Contudo, “a mulher pode ser sensível a algum dos componentes dos produtos de higiene, tal como é com um produto dermatológico. Mas à partida, se não houver a questão alérgica, de eczema ou de algo que seja reativo, os produtos são seguros”, adiciona Irina Ramilo.
Sobre a necessidade na utilização diária, afirma que “ninguém tem de usar um produto de higiene todos os dias só porque sim, da mesma maneira que não usamos produtos diretamente para uma cavidade como a orelha”. Ou seja, embora sejam seguros na teoria, isso não significa que seja sempre benéfico usá-los, principalmente com uma frequência diária.
A ginecologista continua, esclarecendo que mesmo que estes produtos estejam adaptados ao ph da vagina, cada pessoa tem as suas características e a sua utilização diária pode, inclusive, resultar no efeito contrário ao pretendido. “É suposto que a vagina se regularize a si própria, fora situações como a candidíase ou outras queixas, e aí é acompanhada por alguma indicação médica. Fora isso, pode-se lavar só com água”.
Irina Ramilo conclui ao salientar que “o mais importante é que se efetue uma boa limpeza e que não se deixe a zona húmida. Muitas vezes as mulheres não secam como deve ser e essa humidade pode predispor a uma desregulação”.
Como escolher os produtos certos?
Há produtos que não fazem falta, na perspetiva de Irina. Entre estes estão os perfumes para a vagina e os duches vaginais. “Não faz muito sentido [usar perfumes na vagina], até porque a vagina tem o seu cheiro e não tem de ter perfume. Pode ser abrasivo”, indica.
Sobre os duches vaginais, a médica observa que não tem nenhuma indicação para a sua utilização. Diz ainda que “com isso podemos de alguma maneira acabar com os lactobacilos, que fazem com que toda a flora vaginal, bactérias e fungos estejam lá em equilíbrio”. Acrescenta, assim, que o mais provável é que desequilibre “uma microflora que se organiza por si própria”.
No momento de escolha dos produtos, a ginecologista reconhece que “há muitos produtos químicos, pelo que é difícil determinar a qualidade pelo rótulo. A maior parte das pessoas opta por uma abordagem de tentativa e erro, como fazemos com pastas de dentes”.
No entanto, se a preocupação for o ambiente, considera que “há benefício em optar pelo copo menstrual em vez do penso higiénico”, por exemplo. Quanto aos produtos de ingredientes naturais, diz que “em termos laboratoriais já se conseguem fazer moléculas muito semelhantes e que, em termos de benefício, são iguais”. Na utilização de pensos, Irina aponta que não há necessidade de serem usados todos os dias, uma vez que “isso faz com que a vagina não respire”.
Como adaptar esses hábitos à menstruação e à menopausa?
Para jovens prestes a menstruar, a médica destaca que “o mais importante em termos de higiene vulvovaginal é o recurso a lingerie de algodão, de maneira a que não seja muito sintética e que permita que a vagina respire e não promova desregulações hormonais”. Isto “porque nós usamos cada vez mais calças apertadas e acabamos por ter aquela zona um bocadinho húmida, o que promove, por exemplo, fungos como a candidíase”, afirma.
Ainda assim, se ao final do dia a pessoa se sente “mais aflita, pode usar um produto de higiene” que lhe tenha sido indicado ou que já saiba que funciona para si. Outro conselho que dá é para as pessoas mudarem “os pensos higiénicos de forma regular para não deixar [o sangue e fluidos vaginais] acumular” e para manter essa zona seca.
Reforça, também, o facto de não ser preciso usar pensos diariamente. Quando as pessoas não estão a menstruar, é “normal ter uma pequena camada de corrimento nas cuecas e podemos normalizar a sensação de húmido. Se não fosse natural, a nossa vagina não produzia este corrimento”, esclarece. Nessas situações, afirma que “é só uma questão de secar a zona e de lavar as cuecas.”.
Em contexto de menopausa, os conselhos mantêm-se: importa manter a zona íntima limpa. Neste caso, contudo, pode ajudar a utilização de produtos de hidratação feitos a pensar nos cuidados vulvovaginais para esta fase da vida. “A hidratação é importantíssima de maneira a mantermos os tecidos não atróficos e com alguma elasticidade para conseguirmos manter a vida sexual”, indica. Especifica que “há muitas mulheres que se queixam de ficar com essa zona muito áspera e isso cria desconforto”.
Como detetar infeções vaginais?
A ginecologista explica que ter um corrimento mucoso, branco e sem cheiro e que não traga nenhum sintoma associado, é normal. “Se a mulher tiver um corrimento mais grumoso, que provoca alguma comichão na vulva, aí pode ser uma infeção mais fúngica, e que normalmente não tem cheiro nenhum”, indica. Por fim, se for uma infeção bacteriana “normalmente é um corrimento amarelado, às vezes com bolhinhas e que tem um cheiro a que chamamos 'peixe podre', e aí pode precisar de ser medicada”.
Irina Ramilo partilha esta e outras informações nos seus conteúdos de Instagram, como este sobre a relação entre o líbido e atividades sexuais e o trabalho de parto.