
O governo espanhol e em particular o primeiro-ministro Pedro Sánchez estão debaixo de um verdadeiro terramoto político, desta vez, com contornos familiares, judiciais e morais. No centro da polémica está Sabiniano Gómez, sogro de Pedro Sánchez, empresário que morreu em 2024, e que terá feito fortuna com casas de sauna em Madrid associadas à prostituição masculina. O caso, que durante anos se manteve à margem da política institucional, explodiu recentemente no Parlamento espanhol, envolvido em acusações de financiamento partidário, uso indevido de imóveis públicos e confrontos éticos que podem mesmo levar à queda do governo de esquerda.
A origem: saunas e negócios polémicos
Sabiniano Gómez foi proprietário de várias saunas em Madrid, entre elas a Sauna Adán, Sauna Azul e Sauna Princesa — espaços conhecidos na noite da capital espanhola, frequentados principalmente por homens e onde, segundo a acusação feita pelo Partido Popular (PP), se praticava prostituição, inclusive com jovens imigrantes. O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, não poupou nas palavras ao afirmar no Congresso que Pedro Sánchez "viveu de bordéis", acusando-o de beneficiar de "rendimentos do negócio abominável da prostituição".
A acusação baseia-se também em informações de que a casa onde Pedro Sánchez viveu, em Pozuelo de Alarcón, terá sido comprada com dinheiro vindo dessas atividades. Além disso, o PP apresentou perguntas parlamentares sobre a alegada utilização de imóveis públicos, através da MUFACE (Mutualidade Geral dos Funcionários Civis do Estado), para alojar algumas destas saunas, levantando suspeitas sobre um possível conluio entre negócios privados e património estatal.
A resposta da Justiça e do Governo
Apesar da gravidade das acusações, a Audiência Nacional (um tribunal de instância superior) concluiu, em 2024, que os negócios do sogro de Sánchez eram “uma atividade privada lícita” e rejeitou qualquer conotação criminal. A justiça espanhola sublinhou ainda que não havia elementos que comprovassem que as saunas funcionavam como prostíbulos ilegais, e considerou “deplorável” o uso político desses dados.
A ofensiva da oposição, contudo, não se parou. Além das questões morais e patrimoniais, um artigo recente do site "Vozpópuli" revelou que Sabiniano Gómez terá financiado as campanhas internas de Pedro Sánchez à liderança do PSOE em 2014 e 2017. Fontes socialistas citadas pelo jornal descrevem-no como "o quinto do Peugeot" — alusão ao grupo que viajava junto em campanha e onde o sogro teria contribuído financeiramente de forma significativa. Segundo essas mesmas fontes, Sabiniano pagava quase tudo: refeições, gasolina, até despesas logísticas. E o dinheiro, lá está, vinha do negócio das saunas.
O clima no Parlamento espanhol tornou-se explosivo. As palavras duras de Feijóo provocaram a reação imediata do Governo. O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, acusou o PP de “ultrapassar todas as linhas vermelhas”, enquanto a ministra da Defesa, Margarita Robles, denunciou o ataque como “machista” e “indigno da democracia”. O PNV e outras forças políticas moderadas também criticaram a instrumentalização da vida privada como arma de combate político.
O escândalo surge num momento particularmente delicado para Pedro Sánchez, com vários membros do seu círculo político e familiar sob investigação. A sua esposa, Begoña Gómez, enfrenta atualmente quatro acusações criminais ligadas ao alegado favorecimento empresarial, e o ex-ministro Santos Cerdán está também sob escrutínio. Para a oposição, o caso das saunas é apenas mais um exemplo de um padrão ético questionável no seio da liderança socialista.
Curiosamente, o caso das saunas não é novo nos corredores do poder. Áudios divulgados no contexto da Operação Tandem — que envolveu o ex-comissário José Manuel Villarejo — sugerem que já em 2014 a chamada “polícia patriótica” ligada ao governo do PP, planeava usar o passado empresarial de Sabiniano Gómez como arma política contra Sánchez. Os dados acabaram arquivados por falta de fundamento jurídico, mas mostram que esta narrativa já era considerada um trunfo político, a ser utilizado no momento certo.
Um caso entre legalidade, moral e estratégia política
O caso do sogro de Pedro Sánchez é, antes de mais, um reflexo do embate feroz que se vive atualmente na política espanhola. Embora a justiça tenha considerado legais as atividades de Sabiniano Gómez, o peso simbólico da acusação — envolver prostituição, financiamento de campanhas e eventuais ligações com o património público — torna este episódio particularmente explosivo.
Pedro Sánchez, até agora, manteve-se em silêncio sobre a polémica. A sua estratégia parece ser a de evitar alimentar o escândalo, apostando na linha de defesa institucional: tudo o que está a ser dito já foi investigado e declarado lícito. Mas o desgaste político é evidente e poderá ter consequências de longo prazo — especialmente se a narrativa de “hipocrisia moral” avançada pelo PP continuar a ganhar tração.