Fez uma carreira bem sucedida na banca de investimentos de Londres, reformou-se e com as poupanças que acumulou comprou, por 600 mil euros, uma vivenda com terreno na aldeia de Santa Bárbara de Nexe, Algarve, perto de Faro, para viver a reforma em paz. Só que o sonho de Orla Dargan, 65 anos, tem-se revelado um verdadeiro pesadelo. E a culpa, diz, é de um vizinho, que a tem atormentado, perseguido e até já a tentou matar. Terá mesmo assassinado o seu cão, depois de o torturar, atirando-o depois a um poço, acusa a inglesa, que já envolveu as autoridades. Um advogado amigo da turista diz que esta situação é recorrente no Algarve com imigrantes ingleses, e garante que já existe mesmo um nome para este fenómeno, o "Algrab", uma espécie de "Al-Roubo", ou seja, uma estratégia para correr com os ingleses endinheirados e idosos da região, para que lhes possam ficar com as casas e os terrenos a preços muito mais baixos do que aqueles que foram pagos. O caso está a ganhar dimensão em Inglaterra e foi mesmo revelado pelo "Daily Mail", um dos maiores jornais britânicos.

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O sonho de vida em Nexe

Foi em 2016 que Orla Dargan se mudou de Londres para a pequena aldeia de Nexe, perto de Faro. Comprou um terreno com uma casa por 600 mil euros e começou a renovar o espaço. Até aqui tudo bem, tudo tranquilo. Só que alguns anos mais tarde, um homem comprou o terreno vizinho ao seu e iniciou, ele próprio, obras de requalificação da sua casa e jardim. E aí começaram os problemas. Orla Dargan diz que o vizinho é agente imobiliário e "um homem perigoso", conforme disse ao "Daily Mail".

Em 2021, aconteceu um dos piores episódios. Foi durante um período prolongado de férias até à Irlanda, visitar familiares, e quando voltou, o vizinho tinha ocupado uma parte do seu terreno e construído uma vedação a separar as áreas. No espaço que havia sido dela, o vizinho instalou umas enormes bombas que abastecem uma banheira de hidromassagem que tem em casa, acusa Orla. E a mangueira por onde saem os detritos das bombas foi colocada por forma a que o líquido vertesse para o terreno da vizinha.

A inglesa recorreu à Justiça e um tribunal acabou por lhe dar razão, ordenando ao português que devolvesse o terreno à inglesa. Mas mais de um ano depois da decisão, continua tudo na mesma. E foi mais ou menos nesta altura que aconteceu um dos episódios mais tenebrosos desta guerra. Num dia de audiência em tribunal, Orla Dargan regressou a casa e não encontrou o seu cão. Veio a descobrir apenas o cadáver do animal ferido e torturado a boiar num poço. "O ponto de viragem foi quando perdi o meu cão, em novembro passado. Estava a lutar contra ele [o vizinho] em todas as frentes, mas quando isso aconteceu, fiquei destroçada. Ele era o meu cão de apoio emocional, um cão muito especial. Ele passou sete anos comigo", disse ela.

Orla Dargan encontrou o cão morto num poço
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Com medo de que a situação se agravasse, e por temer pela sua própria segurança, Orla deixou o Algarve e mudou a morada fiscal para que o vizinho não a consiga encontrar.

O "Algrab" está a aterrorizar ingleses

Esta situação não é estranha para um advogado, David Mapley, amigo de Orla Dargan, que está agora a tratar do caso. "Esta forma de apropriação de terras é muito comum na região", disse, citado pelo "Daily Mail", que diz que existe mesmo já um nome para isto, o "Algrab".

Santa Bárbara de Nexe é uma aldeia muito pequena mas muito conhecida pelas ricas casas, mansões e habitantes, quase todos ingleses, muito endinheirados que ali vivem. "Eu só queria um sítio mais calmo para viver, mas isto tornou-se um pesadelo", disse Orla Dargan ao "Daily Mail". A inglesa diz que foi durante anos "assediada e intimidada" pelo vizinho, que lhe atirava lixo para dentro da prioridade e várias vezes foi visto a urinar para o seu terreno.

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A inglesa começou a trancar as portas e janelas por temer pela sua segurança. Mais medo passou a ter depois de, conforme contou, o vizinho a ter forçado a despistar-se de carro. Orla garante que foi conduzida para fora da estrada por um veículo de grandes dimensões, o que a levou a cair numa vala.

A casa em obras comprada pela inglesa
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A mulher instalou depois câmaras de video-vigilância para se proteger. Ao todo, Orla Dargan diz que já gastou mais de 70 mil euros entre custas judiciais e medidas de proteção. O advogado, David Mapley, garante que tem estado a trabalhar na sensibilização para esta questão desde que se mudou para Portugal, e a avisar outros britânicos para terem cuidado com a "corrupção das autarquias locais e com os vizinhos que se apoderam de terras" dos imigrantes britânicos. "Estou a ouvir histórias terríveis, dia após dia, sobre pessoas que vêm para Portugal para os seus anos de reforma", reforçou Orla Dargan. "Acham que é um sonho mas  isto pode transformar-se num pesadelo muito rapidamente".