Um clássico: companhias aéreas a perderem as bagagens dos passageiros. Talvez tenha tido a sorte de, até agora, nunca ter passado por isto, mas Hana Sofia Lopes não pode dizer o mesmo. A atriz lusodescendente de 32 anos atravessou o Atlântico por motivos profissionais e, quando aterrou, ficou sem nada.

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Nascida no Luxemburgo, filha de pais portugueses, Hana estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, cidade onde viveu durante seis anos. Em Portugal, participou em projetos como "Mar Salgado" (2015), "Coração d'Ouro" (2016) e "Ministério do Tempo" (2017), mas também tem dado cartas em França, no Luxemburgo, na Alemanha, na Bélgica e em Espanha.

E foi precisamente a representação que, em outubro, a colocou a bordo de um avião em direção a Nova Iorque, nos Estados Unidos, cidade que seria uma mera paragem até seguir para o destino final: Montréal, no Canadá, onde tem estado a gravar o filme "Kanaval". "Eu viajei para Nova Iorque para visitar a minha melhor amiga", contou à MAGG.

"Chorei todos os dias de desamparo. Já não sabia o que fazer"

Embora mantenham o contacto de forma diária, devido à pandemia da Covid-19, "há mais de dois anos" que não estavam fisicamente juntas. "Quando cheguei aos Estados Unidos e percebi que a minha mala tinha ficado para trás, até achámos a situação, de algum modo, cómica", confessa a atriz, que, numa fase inicial, andou a usar as roupas da amiga.

Adquiridos os bens de primeira necessidade e com este apoio, aquilo que podia ser o fim do Mundo não o foi. Pelo menos não nesta fase. Ao fim de uma semana inteira sem notícias e sem mala, já ninguém achava graça à situação. "Ligava todos os dias para a companhia aérea", garantiu à MAGG.

"Os funcionários do atendimento ao cliente asseguravam-me que se tratava de uma questão de horas até a minha mala ser entregue em Nova Iorque. Todos os dias ouvia que seria para o dia seguinte", continua, sobre esta "espécie de montanha russa emocional" que viveu.

A mala não estava nem nos Estados Unidos nem no Canadá. Supostamente, estava em Frankfurt, na Alemanha. Porquê? Ninguém sabia. "Chorei todos os dias de desamparo. Já não sabia o que fazer", recorda Hana Sofia Lopes, sobre esta "nuvem negra" que surgiu mesmo antes de a atriz marcar presença num evento muito importante da área.

"Todas as pessoas que já tentaram ligar para um balcão de atendimento ao cliente de uma grande companhia internacional sabem o quão é difícil conseguir falar com um funcionário e obter respostas", lembra. Hana ia encontrar-se com o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, e, também por isso, tinha planeado muito bem o look — entretanto perdido.

"Imaginei que iria fazer um grande escândalo ao chegar ao aeroporto, por a situação ser inaceitável"

Antes de embarcar para o Canadá, ainda sem bagagem, fez mais uma tentativa de resolução do assunto. "Pesquisei na Internet e vi que o aeroporto de Montréal tinha um balcão da companhia aérea em questão. Durante o voo, imaginei que iria fazer um grande escândalo ao chegar ao aeroporto, por a situação ser inaceitável", explicou à MAGG.

"Uma companhia desta magnitude não pode deixar que uma mala fique perdida durante 8 dias e não ser capaz de dar respostas aos utentes", acredita a atriz. Mas, ao chegar ao tal balcão de atendimento, aconteceu uma reviravolta inesperada (não, a mala não estava lá à espera da atriz).

Hana Sofia estava pronta para avançar com uma queixa. "Mas a verdade é que, quando cheguei ao balcão de atendimento e vi a Azalia, não vi a representante de uma companhia aérea, vi um ser humano", refere, sobre a funcionária que lá estava e que foi, de uma forma surpreendente, simpática e compreensiva.

"Não. Não vou estragar o dia de uma pessoa que não tem culpa nenhuma de a minha mala ter ficado perdida entre Frankfurt e Nova Iorque", pensou. "Por isso, não deixei que as minhas emoções se sobrepusessem e tentei explicar-lhe racionalmente o sucedido", contou à MAGG. Azalia procurou respostas no sistema, mas não eram as que Hana queria ouvir: ao fim de oito dias, a mala continuava em Frankfurt.

"Desatei a chorar", recorda Hana. Do outro lado do balcão estava Azalia Claudine Becerril Angulo, uma trabalhadora em part time na casa dos 20, residente em Montréal. Hana explicou a situação, meio que em desabafo, dizendo que teria um evento importante e que nem sequer podia maquilhar-se, pois não tinha nada consigo devido ao sucedido.

Uma luz ao fundo do túnel

Azalia ouviu atentamente e colocou-se no lugar de Hana.  "Ela estava mesmo triste e zangada, e eu percebi porquê. Eu queria ajudá-la. Por norma, as pessoas são rudes e agressivas. Ela foi diferente", explicou à "CNN Travel". "Calma, precisas de maquilhagem? Eu sou maquilhadora profissional. Posso maquilhar-te", sugeriu Azalia, para surpresa de Hana.

Hana Sofia Lopes
Azalia ofereceu-se para maquilhar Hana Sofia para o evento. créditos: Hana Sofia Lopes

Fora do aeroporto, esta era a ocupação de Azalia, que se ofereceu para passar no hotel de Hana e ajudá-la com o cabelo e a maquilhagem para o tal evento. "Se estivesse no teu lugar, também estaria a passar-me. Por isso, quero fazê-lo, de forma gratuita", assegurou, à data.

Sem saber se alguma vez voltaria a recuperar os seus bens (como joias de família, apontamentos, roupa e maquilhagem), Hana havia perdido a esperança. "Por momentos pensei que ela estava a brincar. Mas quando me mostrou alguns dos trabalhos que tinha feito, percebi que era mesmo verdade", admitiu, à MAGG. A proposta seria aceite.

"A nossa conexão tinha sido tão verdadeira e sincera que senti que podia confiar nela", justifica a atriz, que já fez trabalhos em teatro, televisão e cinema. Durante a tarde em que se juntaram, falaram sobre como era trabalhar num aeroporto, sobre esta paixão pela maquilhagem ("duas realidades muito opostas uma da outra"), sobre viagens e sobre representação.

Hana Sofia Lopes
Azalia Claudine Becerril Angulo, à esquerda, e Hana Sofia Lopes, à direita. créditos: Hana Sofia Lopes

A ligação que estabeleceram desde o princípio apenas cresceu. Seria o início de uma amizade que ainda se mantém. Afinal, foi Azalia quem, além de ajudar Hana com a preparação para o evento, solucionou o problema da bagagem perdida: "Depois de uma longa pesquisa no sistema, ela descobriu que afinal a bagagem não estava em Frankfurt mas sim em Nova Iorque".

"Sem ela, acho que a minha bagagem provavelmente teria ficado perdida para sempre"

"Enviou logo um e-mail para o aeroporto de Nova Iorque a pedir que a bagagem fosse transportada para Montréal, e assim aconteceu. Quando cheguei ao hotel, depois da receção, no dia seguinte, a minha mala tinha sido entregue", conclui Hana Sofia, que não hesita: "Sem ela, acho que a minha bagagem provavelmente teria ficado perdida para sempre".

Esta história com um final feliz acabou por se tornar viral, tendo já sido publicada em mais de uma dezena de países, dos Estados Unidos à Nova Zelândia. "Parecia-nos surreal", admite Hana Sofia à MAGG. "Já combinei encontrar-me com a Azalia, para estarmos juntas e celebrarmos o facto de a nossa história ter tocado corações pelo Mundo inteiro", adianta.