
Figura maior das páginas sociais nas décadas de 80 e 90, Maria Ignácia, conhecida pela alcunha Kiki Espírito Santo, foi durante décadas sinónimo de elegância, sempre presente em tudo o que eram festas de beneficência e grandes bailes da alta sociedade nacional, sobretudo aqueles em que os presentes não aparecem nas revistas, mas são verdadeiramente ricos. Prima de Ricardo Salgado, Kiki casou com o empresário Jorge Espírito Santo e circulou entre Lisboa, Cascais e Comporta, tornando-se presença regular no circuito mais exclusivo do país. Faleceu esta quinta-feira, 14 de agosto, aos 76 anos. Não foi divulgada a causa da morte.
Nascida numa das famílias mais reconhecidas da sociedade portuguesa, Kiki consolidou essa posição com o casamento, em 1961, com Jorge Espírito Santo, também ele figura destacada do meio empresarial e primo de Ricardo Salgado. Tiveram quatro filhos: Sofia, Fernando, Bárbara e Cristina. A morte do marido, em 2013, marcaria o início de uma vida mais reservada para Kiki, que deixou de ser vista em eventos sociais, em ações públicas, passando a maior parte do tempo recolhida em casas da família, em especial na zona da Comporta e Cascais.
A elegância de Kiki
Com penteados estruturados, joalharia vistosa e uma silhueta sempre “de gala”, Kiki tornou-se referência estética das colunas sociais. O seu estilo “old school society” era fotografado em jantares de angariação de fundos, inaugurações e galas, do Ritz à Quinta Patiño — palcos clássicos do jet-set nacional da época. Mesmo sem presença televisiva frequente, a sua imagem era sinónimo de glamour e protocolo.
Entre os anos 80, 90 e início dos 2000, Kiki encarnou o ideal de “dama da sociedade”: anfitriã, convidada assídua e rosto de primeira fila em eventos de alta rotação social. Essa centralidade recuaria após o colapso do BES, episódio que redesenhou as dinâmicas públicas da família e levou Kiki a um círculo mais discreto em Cascais.
Nos últimos anos, Kiki afastou-se gradualmente dos holofotes. A notícia da sua morte motivou múltiplas homenagens públicas, entre elas a de Lili Caneças, que a descreveu como “ícone da moda, glamour e beleza; uma cidadã do mundo”. As cerimónias fúnebres decorreram na Basílica da Estrela, em Lisboa.
Kiki Espírito Santo pertenceu a uma geração que moldou o imaginário da “alta sociedade” em Portugal: uma mistura de glamour formal, rituais de salão e caridade de proximidade. O seu desaparecimento é também o fim de uma estética social — e de uma linguagem pública — que deu lugar a novos protagonistas e a novas plataformas. Ainda assim, nas páginas da memória coletiva, Kiki fica como um emblema de elegância à portuguesa.