Mais de 100 lesões espalhadas pelo corpo, sobretudo na zona da cabeça, marcas de queimaduras com um líquido na cara e no corpo, cabelo arrancado e cortes nas orelhas. Foi mais ou menos assim que estava o corpo da pequena Jéssica Biscaia, de 3 anos, que morreu em Setúbal a 20 de junho de 2022 depois de ter sido deixada pela mãe em casa de um casal, Justo e Tita, que supostamente ficaria a tomar conta dela. A mãe da criança, Inês Tomás, ainda chegou a levar a criança para casa mas demorou algumas horas a perceber o estado em que estava a criança e apenas chamou o INEM quando a criança deixou de reagir. Jéssica deu entrada no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, às 16h20 e foi declarada morta às 16h27. A mãe é, por isso, arguida neste caso e acusada de homicídio por omissão. Os outros arguidos são o casal Tita e Justo, onde Inês deixou a filha, bem como os seus dois filhos, que terão sido cúmplices. Todos respondem por homicídio.

O julgamento dos cinco arguidos acusados de envolvimento na morte de Jéssica Biscaia prosseguiu esta terça-feira, 4 de julho, no Tribunal de Setúbal, com uma das principais testemunhas a deixar todos os presentes verdadeiramente angustiados e emocionados com a violência dos relatos. O médico-legista Ferreira dos Santos, responsável pela autópsia da criança, revelou o estado em que estava o cadáver e apontou as causas da morte. De acordo com o que o especialista disse ao juiz, Jéssica foi atirada "contra uma parede ou contra o chão até se calar”. Já "moribunda e sem capacidade de o corpo se regenerar", “arrancaram-lhe pedaços de cabelo". A criança "tinha ainda lesões múltiplas nas orelhas", que foram "puxadas várias vezes com violência”.

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O médico-legista resumiu tudo com uma ideia que chocou o tribunal. “Parece que andaram a jogar à bola com a cabeça da criança”. Ao longo da sessão, várias pessoas desataram a chorar e tiveram de abandonar a sala de audiências. Uma delas foi Inês Tomás, mãe da criança, que teve de se ir recompor lá fora, o que obrigou a que a sessão fosse interrompida por alguns minutos.

Uma das principais questões que interessava ao tribunal era a de perceber, de acordo com a opinião do especialista, se a criança teria tido chances de sobreviver caso a mãe, Inês, a tivesse levado imediatamente para o hospital. Por não o ter feito é que é arguida neste caso. O médico-legista argumentou que isso seria "quase impossível". "A medicina podia tentar que ela vivesse, mas as sequelas seriam muito graves. Este é o quadro mais grave que eu vi nos últimos anos. Quem fez isto, foi com intenção de lesar”.

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Ao contrário do que estava inicialmente previsto, a mãe da pequena Jéssica, Inês, irá prestar declarações na sessão desta quarta-feira, 5 de julho. A defesa da mãe da criança irá tentar expor ao juiz que Inês não estava totalmente capaz de tomar decisões na altura, o que poderá significar uma atenuante na pena.