As câmaras de videovigilância das ruas de Setúbal apanharam Inês, mãe de Jéssica, e os restantes suspeitos da morte da menina, na semana em que Jéssica foi mantida em cativeiro, entre 14 e 20 de junho. A Polícia Judiciária conseguiu reconstituir os seus passos.
No processo, é visível pelas dezenas de fotogramas que Inês foi várias vezes por dia ao café, saiu à noite com o ex-namorado e passeou pela cidade enquanto a filha, de 3 anos, era espancada e torturada a apenas 500 metros de casa, avança o “Correio da Manhã”.
A 14 de junho, dia em que Inês entregou a filha aos homicidas, Inês saiu com Jéssica pela mão às 09h14 e foi ao café em frente ao posto da GNR, a menos de 300 metros de casa. Jéssica estava com um macacão azul vestido e Inês levava uma mochila com roupas e medicamentos da menina. Foram em direção ao final da Praça D. Manuel I, onde Jéssica foi entregue a Tita, a ama, e a Esmeralda, a filha da ama, como garantia do pagamento da dívida de 800€ que a mãe de Jéssica tinha para com Tita. Meia hora depois, pelas 09h45, Inês regressou sozinha, sem Jéssica e sem a mochila.
Um dia antes de Jéssica morrer, a 19 de junho, Inês esteve na casa da família onde a criança se encontrava há seis dias a ser mal-tratada. Mesmo vendo a menina e o estado em que se encontrava, não fez nada. Regressou a casa e voltou a sair para ir a um bar com o ex-namorado Paulo, quatro horas depois. Chegou a casa à uma da manhã. No dia anterior, Inês já tinha sido apanhada pelas câmaras de Setúbal a voltar do karaoke quase às três da manhã.
No dia 20 de junho, dia em que Jéssica perdeu a vida, Inês saiu de casa às 09h30 para a ir buscar. Tapou-a com um cobertor e com óculos de sol, para esconder o seu estado. A menina não reagia: “Estava prostrada, sem abrir os olhos, sem falar, com o corpo repleto de hematomas, queimadura na face e uma grande pelada na cabeça.” A mãe deitou-a na cama e não fez nada para a ajudar. Chegou a casa às 10 horas, mas esperou até às 15h15 para chamar o INEM. Jéssica morreu às 16h27 no Hospital de Setúbal.
Inês foi apanhada a mentir ao INEM, dizendo Jéssica não reagia e não abria "os olhos", depois de negar que Jéssica estava com hematomas. A menina tinha 131 lesões no corpo, a cara desfigurada por uma queimadura de líquido a ferver e marcas na zona genital provocadas, possivelmente, por pontapés. Também foram encontrados vestígios de cocaína na fralda que Jéssica usava quando morreu, sendo usada como correio de droga entre a mãe e Tita.
Inês e mais quatro suspeitos da mesma família respondem pela morte da criança. Inês foi acusada pelo Ministério Público dos crimes de homicídio qualificado e ofensas à integridade física. Tita e o marido respondem pelos crimes de homicídio qualificado consumado, rapto consumado, dois crimes de rapto agravado e dois crimes de ofensa à integridade física qualificada. Tita e a filha, Esmeralda, estão acusadas de um crime de coação agravada, e o marido e filho de Tita respondem por um crime de tráfico de estupefacientes e um crime de violação agravada.
Jéssica estava referenciada pelas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) desde o primeiro mês de vida e, segundo o pai que vive nos Países Baixos, a menina já sofria de maus-tratos antes deste episódio fatal.