
Num tempo em que parece que o planeta anda mais dividido do que alguma vez imaginámos, Luís Carvalho decidiu apresentar, este domingo, 5 de outubro, a sua nova coleção. Chama-se UNION e, através da roupa, trata-se de um apelo à conexão e aos fios invisíveis que nos unem (mesmo quando tudo indica o contrário), fazendo-o com peças que misturam estrutura, fluidez e um certo romantismo moderno.
Na passerelle da ModaLisboa Base, as peças assumiram-se como pequenos exercícios de equilíbrio. Há pregas, nervuras e dobras que se cruzam e entrelaçam, quase como se representassem abraços congelados em tecido. Isto culminou num jogo visual que fala de corpos próximos, de cuidado e de humanidade (um tema que, convenhamos, não podia ser mais atual).
Contudo, a linha não vive só de poesia. A coleção é construída com mais de 80% de materiais reciclados ou de deadstock, o que significa que Luís Carvalho continua fiel à sua missão de fazer moda com consciência, sendo a sustentabilidade sempre o seu ponto de partida. É deixar que o passado dos tecidos costure o presente da moda, vá.

Esteticamente, o criador continua a explorar o diálogo entre opostos, como a dicotomia entre minimalismo e opulência, contenção e liberdade, tradição e inovação. Essa dualidade vê-se nas formas, estruturadas ou repletas de movimento, assim como nas texturas, que vão do toque mate ao brilho elegante dos cetins e jacquards.
As cores, como Luís Carvalho faz sempre questão de frisar, são outro ponto alto. Há verdes que lembram esperança (ou a natureza), amarelos mostarda que piscam o olho ao sol, roxos profundos e azuis-petróleo que quase cheiram a maresia, todos eles em monocromático ou riscas que as misturam na perfeição. E isto tudo culmina em peças como vestidos, casacos, calções, blazers e conjuntos deslumbrantes.
Sim, porque a UNION (se o nome não o denunciou de imediato) é sobre união, mas também sobre empatia, sobre encontrar pontos comuns sem apagar as diferenças. “A união é mais do que Moda. É uma declaração”, lê-se na apresentação. Assim, em tempos de ruído e polarização, Luís Carvalho propõe silêncio, escuta e conexão através das suas peças, que agora lhe mostramos.