
A azáfama do escritório nunca foi tão estilosa. Com Rush Hour, a nova coleção de Luís Carvalho, apresentada este sábado, 8 de março, na ModaLisboa Capital, o designer pegou na tendência corporate core e deu-lhe um aumento salarial: fatos com cortes perfeitos, vestidos-lápis que deixam qualquer um em modo girlboss e tecidos que gritam "estou aqui para fechar negócios, mas também vou direta do trabalho para um cocktail".
Uma coisa é certa: o dress code da vida adulta nunca pareceu tão divertido. "Tinha uma imagem muito forte na minha cabeça, que eram os filmes dos anos 90 dos escritórios em Nova Iorque e todos a correr de um lado para o outro. Era essa a imagem que eu tinha quando comecei a criar a coleção", explica aos jornalistas, no rescaldo da apresentação. O resultado? Blazers com ombros bem marcados, saias e vestidos que sabem exatamente o que estão a fazer e um padrões aqui e ali, porque ninguém quer ser só mais um no Excel da moda.
No entanto, e como já é hábito nas obras do designer, os fatos são o grande destaque da coleção – e se acha que já viu todos os tipos possíveis de risca diplomática, pense outra vez. Luís Carvalho decidiu dar-lhe um upgrade: "O que é que eu posso fazer que seja realmente diferenciador?", questionou-se, segundo conta. A resposta veio com uma pitada de brilho. A risca diplomática, presente na linha, agora é feita de strass, um detalhe inesperado que transforma tudo.

Mas nem só de formalidades vive esta coleção. “Tenho muito a questão dos vestidos mais fluidos para dar esta questão do movimento, o rush”, explica o designer. E é aqui que a Rush Hour mostra a sua versatilidade: há alfaiataria estruturada, mas também fluidez, conforto e aquela sensação de que as peças foram feitas para acompanhar o ritmo acelerado da vida real. Os franzidos nos fatos e os cortes estratégicos nos vestidos são um reflexo disso.
Aliás, dar uma nova roupagem à estética de escritório era o objetivo. Com o corporate core a dominar a moda, o grande desafio era evitar cair nos clichés da tendência – já vimos demasiados fatos cinzentos e camisas brancas sem história. Luís Carvalho conseguiu contornar essa armadilha ao brincar com proporções, tecidos e detalhes que reinventam o visual profissional, dando-lhe um fôlego novo e provando que há formas de o tornar menos aborrecido.
"Não queria fazer uma coisa que fosse obviamente uma tendência já de há uma ou duas estações. O que é que eu posso fazer que seja realmente diferenciador?", diz, referindo-se à questão que lhe passou pela cabeça. Escusado será dizer que conseguiu, porque, em vez de copiar a fórmula, reinventou-a: os casacos ganharam formas inesperadas, as mangas um twist e até há franzidos estratégicos que oferecem um upgrade imediato de estilo.
A par disso, os cortes são sofisticados, mas têm um lado inesperado, quase subversivo (até porque há certas peças que estão mesmo viradas do avesso). No fundo, a moda é feita para quebrar regras, mesmo dentro do escritório. Os materiais também ajudam a contar esta história de contrastes, como os brocados, os tecidos brilhantes e as combinações que jogam com a ideia do formal e do descontraído. Trabalhar pode ser chato, mas não tem de parecer.
Outra jogada de mestre? A coleção é quase toda para o menino e para a menina, como se costuma dizer. "Cada vez faço coleções mais sem género. Tirando os vestidos, acho que é tudo sem género”, afirma Luís Carvalho. Por isso, se alguém do seu escritório quiser roubar-lhe o blazer, não há nada a fazer – é assumir que é mesmo irresistível e que qualquer um vai ficar de boca aberta com as peças desta coleção.
Trocando por miúdos, a Rush Hour é a prova de que um power suit (e todas as outras peças) pode, de facto, dar poder e muita confiança, seja a quem a for. Dá vontade de marcar reuniões só para estrear um look novo, de responder a e-mails com outra confiança, de entrar no escritório como se fosse um desfile. No fundo, Luís Carvalho fez magia: transformou a roupa de trabalho numa coisa que as pessoas querem mesmo vestir.