O universo de Gonçalo Peixoto sempre foi uma festa. Brilhos, lantejoulas, mini-saias, transparências. No verão passado, vestiu as it girls como se a única preocupação delas fosse decidir entre um sunset na Comporta ou uma escapadinha a Ibiza. Mas agora, parece que as férias acabaram. Se a coleção passada pisca o olho ao brat summer, a nova linha do designer tem outro mood: CEO winter.

Dizemos isto porque a coleção, apresentada este domingo, 9 de março, na ModaLisboa Capital, tem o nome "Back to the Office", mas nem só de uma vibe mais corporativa se faz a festa. A nova coleção é sinónimo de um novo capítulo na marca do designer homónimo, onde a irreverência encontra a sofisticação, e o corporate core, que é uma tendência assumida dos últimos tempos – e tal como se viu na coleção de Luís Carvalho –, torna-se objeto de desejo.

O desfile de Gonçalo Peixoto, que, como sempre, contou com as habituais caras conhecidas nas primeiras filas do Pátio da Galé, fez-se valer de êxitos de Lana del Rey como pano de fundo. De "Off To The Races" a "Gods & Monsters", as canções da era femme fatale da artista norte-americana ajudaram a definir o tom das peças, que se destinam uma mulher poderosa, segura e sem pressa.

gonçalo peixoto
gonçalo peixoto créditos: © ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

Quem o diz é o próprio designer. "Acho que a Lana me ajudou nisso e a trazer este no rush, este aproveitar da vida", diz à MAGG, no rescaldo da apresentação. Até porque, de acordo com o criador, as mulheres até podem estar a vestir as suas criações "no meio de um ambiente à 'O Lobo de Wall Street'" ou "O Diabo Veste Prada", mas não está a correr de reunião em reunião – está a desfilar.

E de facto, as modelos pareciam menos interessadas em picar o ponto e mais focadas em andar com a confiança e o ritmo de quem é dona de uma empresa. "Disse-lhes lá atrás: aproveitem a passarela. Desfrutem. Não há pressa para irmos a lado nenhum", continua. Elas perceberam o recado. Apareceram de lápis no cabelo, a dar aquele toque office siren que faz sentido num desfile onde até os convites tinham direito a este acessório.

Mas vamos ao essencial: a roupa. Se a marca sempre foi sinónimo de festa, desta vez as clientes têm uma nova cláusula no contrato. Passaram de it girls a boss ladies, fruto do "crescimento" que sentiu no perfil das mesmas nos últimos anos. "Os fatos são os nossos bestsellers", conta o designer, utilizando esse facto como prova do que afirma. E claro, são tudo menos enfadonhos. Há versões com saias, calções, cortes inesperados e muitos padrões, porque ninguém disse que ser CEO tem de ser aborrecido.

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"Há uns anos eu punha tracksuits de lantejoulas porque elas [as clientes] iam para o ginásio de lantejoulas. Agora, elas vão para o escritório de lantejoulas", frisa o criador, continuando a referir-se à mudança de paradigma no que diz respeito à evolução da mulher Gonçalo Peixoto. E aqui está a diferença. Um fato preto? Tem brilhos. Uma saia curta? Vem acompanhada de uma gabardine estruturada. "Sente-se uma sexiness, uma adultez, um mistério", afiança.

E por falar em adultez, a paleta de cores de "Back to the Office" enveredou por um caminho mais escuro, com muito preto e muito bordô, emparelhado com um toque de cobre e bege. Contudo, Gonçalo Peixoto alerta: "Eles pediam vir de preto, mas não era um preto básico". Aliás, nada nesta coleção é básico, muito menos o tecido "quase holográfico" que deixou toda a gente intrigada – inclusivamente a manda-chuva do evento mais badalado da capital, Eduarda Abbondanza.

Gonçalo Peixoto. Back to the Office
Gonçalo Peixoto. Back to the Office ModaLisboa | Photo: Ugo Camera créditos: ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

A Eduarda, quando acabou o desfile, foi lá dentro [aos bastidores] para tocar [no casaco]. Toda a gente está a falar desse tecido até agora", revela o designer. Não é difícil de perceber porquê. O tecido em questão é um "cetim muito, muito grosso", com um acabamento reluzente que, sob as luzes da passerelle, parecia mágico. O casaco que se muniu do mesmo era a personificação da coleção: poderoso e impossível de ignorar. É aquele tipo de peça que entra na sala antes da pessoa.

Claro que a marca não seria a mesma sem o um clássico: flores. "O primeiro look que abre é o meu look preferido. Um casaco gigante com as flores. É muito Gonçalo Peixoto. Não dá. Mesmo que a coleção fosse da chuva, as flores tinham que aparecer", declara. E apareceram, sendo um lembrete de que, sim, o designer está a amadurecer gradualmente, mas que um toque romântico nunca pode faltar – nem mesmo no escritório.

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Depois, há o lado mob wife – afinal, ninguém quer ser só a rapariga da contabilidade. Os casacos de pelo, que vão dos mais curtos aos compridos, ganham destaque. Mas, se falarmos de peças statement, há uma que merece um destaque especial: um conjunto de top e saia metálicos que parece saído de uma pista de dança dos anos 80, assemelhando-se a uma autêntica bola de espelhos, e que rendeu ao designer "mais de 300 horas de trabalho", fruto de ter sido feita completamente à mão.

No final, se há frase que resume esta coleção, é "sometimes, I just wanna go to the office" (às vezes só quero ir para o escritório, em português), conta o designer, brincando com a frase que serviu de mote às coleções anteriores – "sometimes I just wanna kiss girls" (às vezes só quero beijar mulheres). Mas atenção, não é um escritório qualquer: tem brilhos, transparências e uma boss energy que é prova de que se há alguém que pode pagar as próprias contas é a mulher Gonçalo Peixoto.

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