O verão ainda agora acabou, mas Gonçalo Peixoto já pôs o do próximo ano a ferver. Na passerelle da ModaLisboa Base, este sábado, 4 de outubro, o designer voltou a provar que o corpo feminino é território fértil para continuar a ser explorado. A coleção primavera/verão 2026 é uma ode à sensualidade, à leveza e à cor, com um toque de ironia histórica: Maria Antonieta, mas versão 2025, a dançar ao som de Charli XCX e Addison Rae.

É o próprio que o diz, uma vez que, segundo nos contou no rescaldo do desfile, a linha foi inspirada "numa visita a um museu e na imagem da icónica rainha francesa". O designer de Famalicão pôs-se a pensar no que a monarca vestiria hoje em dia e chegou à conclusão de que não seriam corpetes para esconder o corpo, mas peças que o libertam. "Ninguém tem de esconder o corpo. As pessoas querem mostrá-lo", disse-nos entre risos, com a naturalidade de quem sabe exatamente o que o seu público quer vestir.

ModaLisboa. Estes 15 famosos não se pouparam na escolha dos looks (com direito a muita cor e estilo)
ModaLisboa. Estes 15 famosos não se pouparam na escolha dos looks (com direito a muita cor e estilo)
Ver artigo

Assumindo que esta coleção nasce da dualidade entre o luxo de outrora e o despudor contemporâneo, é nesse equilíbrio que Gonçalo Peixoto parece sentir-se em casa. Se Maria Antonieta trocasse Versalhes pelo Pátio da Galé, seria certamente uma discípula do brat summer, que agora parece renascer pelas mãos do designer, que se divertiu a desconstruir a ideia da realeza oprimida em favor de uma mulher que se mostra e se celebra.

Gonçalo Peixoto. SS26
Gonçalo Peixoto. SS26 Gonçalo Peixoto créditos: © ModaLisboa | Photo: Ugo Camera

Entre os 33 looks apresentados, há espaço para tudo o que define o universo da insígnia: o brilho, o movimento e, claro, aquele toque de drama que já se tornou imagem de marca. Mas este ano, além das cores que já lhe associamos e vimos vezes sem conta, há um novo jogo cromático, que considera ousado. Isto porque um dos maiores protagonistas da linha é o verde pistacho (obrigado pela febre, chocolate do Dubai), apesar de haver rosa, azul e até amarelo manteiga, que tem bombado até mais não.

A par disso, outra das novidades da coleção de Gonçalo Peixoto prendeu-se com as conjugações. "Tentei fazer uma coisa que nunca tinha trabalhado muito – misturar as cores entre si. Eu fazia muitos color blocks, e tentei fazer uma renda rosa com corpete verde, por exemplo. Acho que esse é o meu look preferido da coleção”, confidenciou-nos.

ModaLisboa. A nova coleção de Gonçalo Peixoto que vai fazer de qualquer mulher "O Lobo de Wall Street"
ModaLisboa. A nova coleção de Gonçalo Peixoto que vai fazer de qualquer mulher "O Lobo de Wall Street"
Ver artigo

Ainda assim, há uma pergunta que não quer calar: há espaço para uma revolução no império de Gonçalo Peixoto? O designer parece consciente da sua fórmula (e confortável nela). "As minhas clientes estão à espera disto. Se continuo a vender transparências, é porque há quem as queira. E isso deixa-me feliz", ripostou. Talvez o desafio esteja não em mudar de linguagem, mas em encontrar novas formas de dizer o mesmo.

E, como se o desfile precisasse de um final digno de um encore, a passerelle encheu-se de emoção (e ironia) ao som de Celine Dion. Sim, Celine Dion. “Eu ouço-a quando crio. É o contrário do que faço, e é engraçado”, contou-nos o designer. E fez todo o sentido quando a voz da canadiana tomou conta da sala, sendo o fecho teatral que define Gonçalo Peixoto.

Uma coisa é certa: a opulência está viva e de boa saúde, mas agora veste-se de ainda mais transparências e ri-se do protocolo. E o vestido pistacho promete ser o novo hino de verão, o "bestseller", diz ele, com a confiança de quem conhece as suas fiéis seguidoras. Mas temos a certeza de que, em 2026, não é só essa peça que vai percorrer os nossos feeds de Instagram.

Espreite a coleção