“TradWife [em português, uma abreviatura esposa tradicional] é uma mulher que prefere assumir um papel tradicional ou ultra-tradicional no casamento, incluindo as crenças de que o lugar de uma mulher é em casa". Esta é a descrição da mais recente tendência do TikTok publicada por Estee C. Williams, uma mulher norte-americana, de 24 anos, que conta com mais de 33 mil seguidores na mesma rede social, e uma das vozes mais ativas deste movimento.
O estilo de vida de Estee C.Williams remonta à década de 1950, como a mesma esclarece, quando o marido sai para trabalhar e a esposa fica em casa a fazer o trabalho doméstico. “Não há um lado negro por detrás desde conceito, nós apenas escolhemos, como mulheres individuais, ser donas de casa”, explica no vídeo.
Estee utiliza a rede social como palco para abordar o tema e explica que não está a tentar destruir os direitos das mulheres. “As mulheres devem poder escolher ser esposas tradicionais ou não, sem ser julgadas”. Ainda assim, alguns críticos ao discurso usado pelas esposas tradicionais recomendam que as mesmas falem com mulheres da época para descobrir como era realmente a vida destas esposas. Uma delas é Hannah Berrelli, que explica como a mulher sofreu muito na década de 50 e "não percebe como uma mulher do século 21 quer ficar presa numa casa".
Noutros vídeos, Estee C. Williams chega mesmo a afirmar que a “tradwife também pode submeter-se ao homem e servir a sua família”, ainda que “isso não signifique que ela é menor ou tem menos importância do que ele”.
Este estilo de vida que Williams publica no TikTok faz parte de uma tendência maior de mulheres americanas que fazem conteúdos sobre o conceito tradwife. A mesma viralizou-se com comentários positivos e negativos, com a hashtag #tradwife a contar com mais de 97 milhões de visualizações. E há mulheres que acham que é válido serem submissas ao marido.
A pandemia e o esgotamento é um dos motivos para o surgimento desta tendência?
Em entrevista à "Insider", a socióloga Michelle Janning, da Whitman College, explica que este fenómeno está associado à pandemia. “Como socióloga, eu diria que, quando as pessoas coletivamente sentem que não há muito controle no mundo [pandemia], elas apegam-se a algo familiar e concreto porque pode ser confortável”, explica a socióloga, reforçando que “trabalhar dentro de casa pode parecer a resposta para algumas mulheres”.
"Para mim, a cultura da agitação não era atraente. Ser esposa, mãe, fazer deliciosas refeições caseiras para minha família e manter uma casa acolhedora e convidativa foi o que realmente me atraiu”, explicou Estee C. Williams, em entrevista à mesma publicação.
A tiktoker revela que o papel tradicional da mulher também a seduziu devido ao esgotamento do excesso de trabalho da mulher, após a pandemia. “Acredito que trabalhar é bom para muitas mulheres, mas [trabalhar fora de casa] também é a causa do esgotamento de muitas mães”, disse Estee C. Williams.
A rejeição ao tema e os extremistas
Apesar da maioria das mulheres usar esta tendência como recurso ao esgotamento e ao trabalho excessivo, ou até mesmo para promover valores antiquados, há quem esqueça a luta da mulher pela igualdade e mencione questões mais conservadoras.
“Escolhemos esse estilo de vida porque é o que Deus o ordena”, foi uma das frases que a socióloga americana chegou a ouvir de esposas tradicionais. Mustard Seed Hannah, como se intitula no TikTok, foi uma dos utilizadoras que publicou vídeos onde afirma que “as mulheres devem obedecer aos seus maridos”.
Assim, algumas mulheres que se identificam com a tendência afastaram-se e explicaram que já não se associam ao tema. Madison Dastrup, uma esposa tradicional que sempre se identificou com o conceito de dona de casa, explicou num vídeo publicado em setembro deste ano que não quer estar associada ao termo devido aos “extremismos”.
"Enquanto eu ainda me considero tradicional, e mantenho esses valores tradicionais, não me associo com a comunidade de esposas tradicionais [TradWife]. Claro, assim como noutras coisas, vai existir extremistas em todos os cantos da internet” explicou, referindo que “os extremistas da tendência TradWife tomaram conta do movimento”. A tiktoker chega mais longe e explica que estes grupos toleram algo inaceitável no casamento, a “violência sexual e a supremacia branca”.