Pelo menos uma em cada cinco peças de roupa de algodão comercializadas no mundo têm origem no trabalho forçado da minoria uigur, em Xinjiang. Este dado é uma das razões que levou mais de 190 organizações de defesa dos direitos humanos, de 35 países, a unirem-se para exigir o fim da exploração deste povo. Para isso, as grandes marcas internacionais têm de cessar ligações com os fornecedores ligados ao trabalho forçado, avança o "Público".
Os uigures são uma minoria muçulmana na província chinesa de Xinjiang, no noroeste da China e, de acordo com as Nações Unidas, mais de um milhão vive em campos de detenção. Entre as marcas que trabalham com o algodão produzido por estes povos, estão a Gap, C&A, Adidas, Muji, Tommy Hiliger, Calvin Klein, Nike ou a tecnológica Apple.
Segundo os números revelados esta quinta-feira, 23 de julho, pela coligação de países que lutam pelos direitos humanos, 84% do algodão produzido na China é proveniente de Xinjiang e 20% do algodão mundial tem origem na região Uigur, parte que é depois enviada para fábricas de países asiáticos como o Bangladesh, o Camboja e o Vietname, onde as roupas são fabricadas.
"Pedimos às marcas e retalhistas que abandonem a região Uigur em todos os níveis da sua cadeia de fornecimento, desde o algodão aos produtos finalizados, para impedir a utilização de trabalho forçado de uigures e outros grupos noutras instalações", refere a coligação no site.
A mesma ideia foi apresentada por Omer Kanat, director executivo do Projecto de Direitos Humanos Uigur. “As marcas globais precisam de se questionar sobre o quão confortáveis estão por contribuir para uma política genocida contra o povo uigur”, afirmou ao "The Guardian". Em causa estão abusos relacionados com detenção arbitrária em campos de trabalho forçados, tortura, separação forçada e esterilização das mulheres para controlar a natalidade.
Apesar de as denúncias contra o tratamento de Pequim aos uigures não serem novas, têm-se intensificado nos últimos anos. Uma das razões está relacionada com o facto de haver um movimento separatista islâmico na província, que faz com que este povo seja perseguido e até impedido de coisas tão simples como deixar crescer a barba ou utilizar o véu islâmico. A juntar a isto, está então o aumento de denúncias contra o trabalho forçado em fábricas.
Em março deste ano, um relatório do Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI) deu conta de que milhares de uigures foram transferidos dos “campos de reeducação” para trabalhar em fábricas noutras regiões da China que fornecem produtos para 83 marcas internacionais. Entre estas estão a Apple, Lacoste, Adidas, Ralph Lauren, Nike, Mercedes-Benz, H&M e Zara.
Perante o relatório, foi lançada uma campanha, pelo eurodeputado francês Raphaël Glucksmann, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), cujo objetivo seria apelar às marcas para cortar relações com fábricas que utilizem trabalho forçado uigur.
Do outro lado, a resposta foi imediata. No caso da Adidas e da Lacoste, estas anunciaram que vão proibir qualquer parceria com fornecedores ou retalhistas com origem em Xinjiang. Já a Nike disse que está em linha com os fornecedores na China para “avaliar potenciais riscos relacionados com o emprego de uigures ou outras minorias étnica”, enquanto a Apple afirmou que está a investigar as denúncias.
A C&A garante que não trabalha com qualquer fábrica da província de Xinjiang, situação que também acontece com a PVH Corporation, da qual fazem parte a Calvin Klein e a Tommy Hilfiger. A mesma garantiu que vai interromper o relacionamento com quaisquer fábricas que produzam vestuário ou tecidos em Xinjiang nos próximos 12 meses.
A H&M, inicialmente, disse que não mantinha relação com qualquer fornecedor daquela região chinesa, mas, num comunicado enviado ao "The Guardian", referiu uma relação indirecta com uma empresa a operar na região, garantiu que não irá comprar mais algodão a este fornecedor e que vai rever esta parceria. Já a Muji confirmou que utiliza algodão da província do noroeste da China, mas garantiu que o material vendido pela marca não está ligado ao trabalho forçado.