Aos 78 anos, Samuel Little está preso a uma cadeira de rodas, sofre de diabetes e tem um problema de coração. Fechado numa cela na prisão do Texas, foi condenado a prisão perpétua pelo homicídio de três pessoas a 25 de setembro de 2014. Naquele altura, foi arrancado da sala de audiências aos gritos, proclamando a sua inocência para quem o quisesse ouvir. Quatro anos depois, decidiu revelar a verdade: aquelas não foram as suas únicas vítimas. Na verdade, durante quatro décadas matou 93 mulheres.

Não foi por acaso que Samuel Little decidiu confessar os seus crimes tantos anos depois — o homem queria deixar a penitenciária de Los Angeles, na Califórnia, para passar para a prisão de Ector County, no Texas. Nunca foi uma questão de arrependimento: em momento algum mostrou remorsos pelo que fez e chegou mesmo a rir-se enquanto descrevia os crimes que cometeu.

Mas já lá vamos. No verão de 2018, o ADN do norte-americano foi ligado ao homicídio não resolvido de uma mulher de Odessa, no Texas. Denise Christie Brothers foi encontrada morta por estrangulamento em 1994, mas a polícia foi incapaz de encontrar um culpado.

James Holland foi o homem chamado para interrogar Samuel Little. E, contrariamente ao que toda a gente esperava, o homicida não tentou esconder a sua culpa. Na verdade, começou a falar — sobre Denise, sobre Emily, sobre Linda e sobre Jo, algumas das mulheres que matou ao longo de 40 anos. Samuel admitiu ter matado 93 pessoas desde os anos 70, o que o tornaria no pior serial killer de sempre nos Estados Unidos.

A polícia não tem dúvidas de que Samuel Little está a dizer a verdade. "Até agora ele não nos deu nenhuma informação falsa", disse Bobby Bland, promotor do distrito de Ector County, à Associated Press.

O FBI já conseguiu provar a sua ligação a um total de 34 homicídios. E não tem dúvidas de que podem vir aí muitos mais.

"Tendo recordar-me do momento em que comecei a ficar atraído pela garganta de uma mulher", disse numa das conversas de confissão dos crimes. "Muitas dessas mulheres queriam morrer. Sim, elas queriam morrer. Eu amo-as a todas. Não consigo escolher a minha favorita. Quando morrem, tornam-se todas na tua favorita. Elas pertencem-te".

Na próxima segunda-feira, 27 de maio, o programa britânico "Confessions of a Serial Killer" dedica um episódio aquele que pode muito bem ser um dos serial killers mais macabros de sempre. Dos crimes à ausência de arrependimento, recordamos a sua história.

Estes são os crimes que Samuel Little diz ter cometido mas que ainda continuam por provar

Foi o ADN que tramou Samuel Little

Apesar da idade avançada, Samuel Little recorda-se perfeitamente das suas vítimas. Pode não saber o nome de todas, não ter a certeza do sítio onde deixou o corpo ou ter dificuldade em precisar uma idade, mas sabe como eram os seus olhos, as suas bocas, os seus cabelos e os seus corpos. Foi por isso que, em fevereiro deste ano, fez várias desenhos de vítimas ainda não identificadas pelo FBI.

"Assusta a clareza que ele tem sobre certas coisas depois do tempo que passou", afirmou o detetive Michael Mongeluzzo, do condado de Marion, na Florida. "Ele recorda-se de nomes e rostos".

No total, Samuel Little fez um total de 16 desenhos. Em abril, acrescentou mais dez. Nove casos ficaram concluídos devido a esta confissão.

Os desenhos que Samuel Little fez das suas vítimas

Não é por acaso que tem sido tão difícil identificar as vítimas. Samuel escolhia a dedo as vítimas, procurando sobretudo mulheres num estado vulnerável. Era junto a bares ou discotecas que atacava — quando via uma mulher a sair que estava claramente drogada ou embriagada, raptava-a. Também era frequente escolher prostitutas como vítimas.

No banco de trás do carro, agredia-as, às vezes violava-as, a todas estrangulava-as. Quando lhe perguntaram como é que conseguiu matar tantas pessoas sem ser apanhado, respondeu: "Eu não arriscava. Não tinha ninguém comigo e escolhia filhas da puta de que ninguém sentiria falta." Noutra ocasião, disse: "Posso ir ao meu mundo e fazer aquilo que quero. Não vou ao vosso mundo."

Samuel Little em 1975, depois de ter sido apanhado a conduzir alcoolizado. Na altura deu o pseudónimo de William Lewis

Samuel Little nasceu a 7 de junho de 1940 em Reynolds, na Georgia. Segundo o próprio, a mãe "era uma mulher da vida". Pouco depois do seu nascimento, a família mudou-se para o Ohio, onde foi criado pela avó.

A sua infância e adolescência foi problemática. Rodeado por crimes, pobreza e drogas, foi desde cedo que começou a mostrar problemas na escola, fosse por falta de motivação ou por indisciplina. Com apenas 16 anos, foi enviado para uma instituição juvenil depois de entrar numa propriedade privada no Nebraska.

Com o passar dos anos, foi tendo algumas profissões — conduziu uma ambulância, trabalhou num cemitério, fez pequenos biscates. Mas eram sempre trabalhos esporádicos e curtos. Era nas ruas que conseguia verdadeiramente sustentar-se, através de pequenos delitos.

No início — depois começou a piorar. Em 1975, já com 35 anos, Samuel já tinha estado preso 26 vezes, por crimes como roubo, agressão, tentativa de violação e fraude.

Samuel Little nunca mostrou arrependimento

Em outubro de 1984, a polícia esteve perto de perceber que Samuel Little era um serial killer. Tudo graças a Laurie Barros, de 22 anos, que foi espancada e estrangulada por Samuel mas sobreviveu. Um mês depois, ainda em liberdade, foi encontrado no carro com uma mulher inconsciente, também espancada e estrangulada.

As semelhanças entre os dois crimes deveriam ter levado a uma investigação mais profunda. Só que na década de 80 ainda não era assim tão comum ouvir-se falar em assassinos em série ou modus operandi. Apesar desta época ter ficado marcada como a década dos serial killers, graças a nomes como Ted Bundy, Jeffrey Dahmer e John Wayne Gacy, o próprio termo "serial killer" só foi criado no início dos anos 80.

Depois de dois anos e meio de prisão por ambos os crimes, Samuel foi libertado. De volta às ruas, mudou-se para Los Angeles, onde cometeu mais dez assassinatos.

Foi o ADN que o tramou. A 5 de setembro de 2012, Little foi preso num abrigo em Louisville, no Kentucky, depois de as autoridades usarem testes de ADN para provar que ele esteve envolvido no assassinato de Carol Elford, morta a 13 de julho de 1987; Guadalupe Apodaca, morta a 3 de setembro de 1987; e Audrey Nelson, morta a 14 de agosto de 1989.

Samuel Little foi condenado a prisão perpétua sem possibilidade de pedir liberdade condicional. Ao longo da sua vida, tinha estado preso mais de 100 vezes.

Os crimes que continuam por resolver

Marianne, ou Mary Ann, foi morta em 1971 ou 1972. Era uma mulher negra com cerca de 18 anos, que Little foi capaz de desenhar em detalhe. Emily foi assassinada em meados dos anos 70, também era negra e tinha 23 ou 24 anos. Possivelmente trabalhava na Universidade de Miami. Alice morreu em 1990 ou 1991. Era negra e tinha entre 40 a 45 anos.

Estas são as mulheres a quem Samuel foi capaz de dar um nome. No entanto, existem dezenas de outras vítimas sobre as quais só se recorda das idades e cidades onde cometeu os crimes. Os seus rostos, porém, não os esquece.

Com a ajuda dos desenhos, o FBI já conseguiu resolver nove homicídios

As autoridades acreditam que a transmissão das imagens ao público pode ajudar a resolver o caso.

"Esperamos que alguém — um membro da família, ex-vizinho, amigo — seja capaz de reconhecer a vítima e fornecer uma pista crucial para ajudar as autoridades a identificá-la", disse Shayne Buchwald, porta-voz do FBI, ao "USA Today".

"Queremos que essas mulheres voltem a ter o seu nome de volta e as suas famílias as respostas há muito esperadas. É o mínimo que podemos fazer."

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