Mathilda Paatz. Este nome pode não lhe ser familiar agora, mas existe uma grande probabilidade, se segue desportos de automobilismo, de vir a conhecer a jovem alemã que tem traçado o seu destino neste desporto. Nascida em 2008, fazendo apenas 17 anos em 2025, Mathilda Paatz é já um dos nomes mais cobiçados do automobilismo alemão, uma vez que tem vindo a ganhar espaço no desporto devido à sua rapidez e ousadia – não é por acaso que a sua alcunha é "Speed Girl".

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Somando já mais de 200 corridas e várias conquistas em diversas categorias, é uma das poucas mulheres na Alemanha a competir a nível profissional, tendo passado dos karts para a Fórmula 4 e com o objetivo de, um dia, conseguir chegar à Fórmula 1. As barreiras têm sido quebradas ao longo dos anos e, com dedicação e muitos treinos, tem conseguido destacar-se num meio tradicionalmente dominado por homens. A sua progressão, aliada a uma grande maturidade dentro e fora das pistas, tem chamado a atenção da população e tem trilhado, aos poucos, um caminho bastante promissor.

Começou por causa do pai, mas a paixão pelo desporto falou mais alto, e até abdicou do esqui para se focar no objetivo de ser piloto. Fez karts, esteve na equipa de Fernando Alonso e foi em 2024 que deu o salto para os monovolumes, onde ainda hoje se encontra. À data da entrevista, Mathilda corria na Fórmula 4 Francesa, mas foi em abril que anunciou a sua mudança para o Campeonato Fórmula 4 da Zona Central Europeia, onde compete com mais duas mulheres e já conquistou um pódio na competição. A jovem corre na sua própria equipa, Mathilda Racing, que foi criada pelo seu pai, Michael Paatz, para ajudar no seu desenvolvimento. 

Além disso, mais do que uma promessa de velocidade, a atleta tem-se afirmado cada vez mais como uma voz importante na promoção da igualdade de género no automobilismo. Enquanto embaixadora do programa “Women in Motorsport”, representa uma nova geração de mulheres que não só quer quebrar certos estereótipos como também motivar outras a acreditarem que têm lugar neste desporto. É, na verdade, um símbolo de que o talento não tem género e de que, com oportunidades e visibilidade, as mulheres também podem ocupar estes lugares. Leia a entrevista. 

Conte-me como começou este seu gosto pelo automobilismo. Sei que foi graças ao pai, que também foi piloto, mas o que é que despertou o interesse?
Este desporto foi-me introduzido logo desde muito cedo, quando o meu pai ainda era piloto. Eu tinha apenas cinco anos quando me sentei pela primeira vez num carro de corrida, num daqueles que têm duas asas, e o meu interesse foi aumentando ao longo dos anos. Quando fiz 10, tive de decidir se queria começar uma carreira profissional neste mundo ou se continuava no esqui, uma outra grande paixão minha, mas não conseguo imaginar um futuro longe de um carro. Não conseguia deixar de pensar nisso, então acabei por escolher ser piloto. Também era muito fixe pensar que era uma menina no meio de tantos meninos, que normalmente são mais aventureiros, e por isso fico feliz por ter decidido o que decidi. 

Lembra-se da sua primeira experiência? Qual foi a sensação?
Foi na pista do Michael Schumacher, a 20 minutos da minha casa, e foi lá que eu fiz os meus primeiros testes. Estava muito animada, porque eu aprendi imensas coisas novas, estava a aprender e a progredir ao mesmo tempo, e era mesmo muito engraçado, nunca ficou aborrecido. É o que eu me lembro da altura. Lembro-me também de entrar num carro de corrida e saber que não queria só conduzi-lo aqui e ali, que queria mesmo competir um dia.

Conte-me um pouco sobre a sua carreira. Como é que tudo começou? Sei que a grande maioria do tempo até agora foi passado nos karts e, inclusive, na equipa de Fernando Alonso.
Eu comecei com 10 anos, o que na verdade até é bem tarde para começar. As pessoas acham que eu ainda era muito jovem, mas eu sei que muitas crianças começam a fazer karts com 4 ou 5 anos, então eu já entrei bem tarde. Mas eu era uma aprendiz muito rápida, eu entendia bem os karts, e minha primeira vitória foi com 12 anos, a minha primeira vitória dupla na carreira. Foi quando eu me tornei um pouco popular na Alemanha, porque era uma menina no meio dos rapazes. Mas isso também me custou. Uma vez estava numa corrida e tinha uma criança atrás de mim, em segundo lugar, e o pai dessa criança disse-lhe para me empurrar, e foi isso que aconteceu, mas eu fiquei bastante orgulhosa de mim também. 

Depois disso subi para a classe júnior, terminei o campeonato nacional em terceiro lugar, o que não me contentou, mas na temporada a seguir consegui fazer disto algo internacional, e fui para Itália. Aí é que percebi a diferença entre disputar uma luta nacional e internacional, e a verdade é que me senti insegura. No entanto, na minha última temporada júnior, terminei em segundo lugar na qualificação, terminando depois em sexto lugar. Quando fiz 15 anos tinha de me mudar para a classe dos seniores nos karts, e estava numa equipa que fazia parceria com a de Fernando Alonso, e eles perguntaram-me se eu queria fazer parte da equipa depois de aquela em que eu estava ficar cheia. E foi assim.

E de onde é que vem a alcunha “speedygirl”?
Eu fiquei com ela na Alemanha, e foi o meu pai que começou com isso. Eu sempre fui interessada por coisas rápidas, no esqui andava sempre a mais de 100km por hora, então as pessoas diziam “ela é uma Speed Girl”, e isso meio que se desenvolveu de uma forma que eu não esperava. O meu pai pegou, eu gostei, e ficou.

E a verdade é que, depois de tantos anos neste desporto, deu o salto para a Fórmula 4 francesa. Como é que surgiu a oportunidade?
No ano de seniores fui selecionada para a FIA Girls on Track, e uma parte da competição ocorreu no Circuito Paul Ricard, na França. A equipa Winfield fazia parte da organização e acabámos por trocar contactos, eles têm uma Fórmula 4 Camp, onde os pilotos podem ir correr pela primeira vez, e eu acabei por lá ir experimentar. Até foi uma prenda de aniversário porque isto aconteceu um dia depois de fazer anos. E depois disso foi sempre a subir. Atualmente, corro pela ADAC Formula 4 Junior Team.

Sente algum tipo de pressão em ser das poucas raparigas a fazer automobilismo e, neste sentido, a única na Fórmula 4 francesa? Como é que lida com essa responsabilidade?
No começo eu sentia-me bastante pressionada, porque eu sentia que como era a única, tinha de obrigatoriamente ser boa. Eu sentia que tinha de mostrar que as meninas também são boas no automobilismo, e que tinha de mostrar aos rapazes que eu conseguia fazer aquilo. Mas depois eu percebi que não é sobre o teu género, mas sim sobre aquilo que fazes, como conduzes, como te entregas. Eu agora estou focada apenas em mim. Eu definitivamente coloquei pressão em mim mesma, e as pessoas também me disseram que eu nunca ia ser profissional e que isto era só um hobby. Mas eu trabalhei bastante física e mentalmente para isto, e acredito que sou mesmo boa. 

É uma das embaixadoras da organização “Women in Motorsport”. Como é que vê a participação das mulheres no automobilismo atualmente? Acredita que programas como a F1 Academy vêm ajudar a dar mais palco ao lado feminino?
Sim, definitivamente. Quando eu comecei no automobilismo, não existiam muitas meninas. Mas, com a F1 Academy, eu acho que há uma grande oportunidade para as meninas se unirem e conseguirem a visibilidade que precisam. Eu acho que é mesmo uma ótima oportunidade, mas acredito que tem de ser feito mais, porque, como podemos ver, há mais raparigas que estão a conseguir, mas ainda há muitas outras que estão a falhar o objetivo, não há muitas oportunidades para todas. E eu acho que isso é um pouco injusto, porque por que é que há para todos os rapazes mas não para todas as raparigas?

Exatamente por falar nisso, o automobilismo é, lá está, um desporto que se associa tradicionalmente aos homens. Alguma vez se sentiu diminuída ou sofreu de algum tipo de preconceito?
Definitivamente, especialmente no karting. Os rapazes nem falavam comigo, não olhavam para mim, diziam apenas que eu era uma menina lenta. E mesmo depois de ser rápida, de estar no topo da tabela, diziam que já não era engraçado na mesma falar comigo porque eu era mais rápida. Nunca fui suficiente para falarem comigo. Na fórmula 4 está um pouco melhor, porque eu acredito que os rapazes são mais maduros, mas ainda assim há dificuldades. É difícil conectarmo-nos. 

E agora que já deu o salto e sabe que é boa, quais são os objetivos? O que é que se vê a fazer daqui a cinco, 10 anos?
Eu vejo-me na Fórmula 3, na Fórmula 2, esse é o caminho que eu quero seguir. Quero entrar nesses campeonatos, quero sentir que estou a ser observada. É aí que tens de brilhar, que tens de mostrar aquilo de que és capaz, é aí que me vejo. É aí que posso realmente tornar o sonho realidade e entrar na Fórmula 1. 

Tem alguma inspiração deste mundo, tanto no masculino como no feminino?
A maioria das pessoas dizem o Max Verstappen ou qualquer outro grande, mas para mim é o Andrea Kimi Antonelli. Eu competi com ele, eu conversei com ele, então eu não diria que eu o conheço muito bem, mas eu conheço-o, e eu acho que o seu progresso é incrível. Ele saiu da Fórmula 4, meio que voou pela Fórmula 3, fez algumas corridas na Fórmula 2, e depois, bum, Fórmula 1. É uma ótima história, e ele é um ótimo piloto.

Se tivesse a oportunidade de correr contra qualquer piloto da história da Fórmula 1, quem escolheria e porquê?
Essa é uma boa pergunta. Eu acho que o Michael Schumacher, porque eu estive no seu campo de treinos, eu vi-o lá, eu competi com o Mick, eu vi-o competir. E ele é alemão como eu, fez coisas impressionantes na história da Fórmula 1, então eu gostaria de competir contra ele.

Que conselho daria a alguma menina que queira pertencer a este mundo?
Eu diria para não parar de sonhar. Eu também não sabia o que queria fazer, e costumam dizer que se não sabes desde nova, que não é para ti. Mas isso não é verdade, porque eu própria estava dividida entre duas paixões e o meu coração escolheu por mim. Eu não parei de sonhar, trabalho arduamente para aquilo que eu quero, e é isso que temos de fazer. Se trabalharmos para o que queremos, podemos alcançar grandes coisas, e é esse o meu conselho. Mantém-te focada e não deixes que ninguém te mande para baixo. 

E se não fosse piloto, o que gostava de ser quando for grande?
Nunca pensei nisso, mas eu acredito que o automobilismo me iria atrair de qualquer das maneiras, porque é um desporto maravilhoso. Eu teria feito alguma coisa com ele, até na parte mais mental do desporto. Eu percebo o quanto isso é importante, e quanto isso pode fazer de nós um bom ou um mau piloto, estaria muito interessada em ajudar as pessoas a perceber isso.