25 de maio, de 2020. A polícia recebe a denúncia de responsáveis de uma loja de conveniência depois de George Floyd, de 46 anos, alegadamente ter usado uma nota falsa para comprar cigarros. Chegados ao local, os agentes detêm Floyd e todo o processo culmina com um dos agentes, Derek Chauvin, a exercer força através do joelho no pescoço do homem que, por 16 vezes, disse que não conseguia respirar.
A manobra, permitida apenas em casos de resistência à polícia (nos vídeos, Floyd nunca resiste à detenção), esteve em execução durante mais de oito minutos e a pressão continuou a ser utilizada já depois de George Floyd ter perdido os sentidos.
O homem viria a morrer minutos depois no hospital mais próximo do local da ocorrência em Minneapolis, nos EUA. Desde então, que os protestos contra a violência policial tomaram conta daquele estado, e de todos os outros do país, culminando com a erupção violenta da polícia que atacou jornalistas, manifestantes — pacíficos e violentos — e civis.
Uma semana depois, o ambiente em todo o país é de muita tensão, de consciencialização para a discriminação racial e de uma sensação de impotência. É que embora os quatro agentes envolvidos na detenção violenta de George Floyd, que culminou na sua morte, tenham sido despedidos no dia seguinte, a família pede justiça.
E foi isso mesmo que Philonise Floyd, irmão de George Floyd, reforçou num momento único do caso até então. Este domingo, 31 de maio, a correspondente da CNN, Sara Sidner, serviu de ponte para que, em direto, Philonise Floyd pudesse, pela primeira vez desde a morte do irmão, falar diretamente com o chefe de polícia da esquadra de Mineappolis que despediu os quatro agentes.
Quando a jornalista se identificou e explicou que tinha a família de George Floyd em linha, Medaria Arradondo, chefe da polícia, tirou o chapéu em jeito de respeito e pediu desculpa pelos comportamentos dos agentes que despediu imediatamente após as imagens da detenção terem sido tornadas públicas.
"Há verdades absolutas na vida. Precisamos de ar para respirar e a morte de George Floyd foi uma verdade absoluta e errada. Por isso, não precisei de dias, semanas, meses, processos ou outras burocracias para ter a consciência de que o que aconteceu foi errado. Foi uma transgressão completa de humanidade e dos juramentos que homens e mulheres prestam quando assumem este uniforme. O que aconteceu foi uma verdade absoluta: e foi errada. Ponto final", começou por explicar.
Dirigindo-se à família, Arradondo continuou: "Lamento profundamente a vossa perda e se pudesse fazer alguma coisa para trazer George Floyd de volta, iria até ao fim do mundo para o fazer."
Philonise Floyd, através da jornalista Sara Sidner, perguntou se alguma vez iria ter justiça pelo irmão. "Se te manténs em silêncio e não intervéns, és cúmplice. Obviamente, quaisquer acusações que venham a ser formalizadas deverão ser feitas através do procurador geral e certamente que o FBI estará a investigar isso. Mas quero que saiba que a minha decisão não foi baseada em qualquer hierarquia. Floyd morreu às nossas mãos e, para mim, isso é ser cúmplice", concluiu.
O momento, em direto, tornou-se viral um pouco por toda a internet e muito em parte devido à grande carga emocional do vídeo, das palavras e de toda a conjuntura envolvente.
Além de ser a primeira vez que a família de George Floyd estava a contactar com o departamento de polícia responsável pela sua morte, a jornalista Sara Sidner também se emocionou por considerar que, após 12 anos a cobrir manifestações semelhantes àquela, nunca ouviu um polícia a assumir uma posição destas — de máximo respeito pela família das vítimas e de condenação aos atos desumanos que, todos os anos, tiram a vida a milhares de cidadãos negros nos EUA.
A 1 de junho, os protestos continuam a espalhar-se um pouco por todo o país.