Depois de ter desaparecido em 2018, a princesa do Dubai gravou vídeos em segredo, entretanto divulgados, através dos quais acusa o pai de a manter refém numa casa "transformada em prisão". Latifa Bint Mohammed al-Maktoum, 35 anos, tentou fugir dos Emirados Árabes Unidos há três anos, mas sem sucesso.

Um dos vídeos, divulgado esta terça-feira, 16 de fevereiro, no programa "Panorama" da BBC, foi gravado com a ajuda de amigos da princesa que lhe facilitaram o acesso a um telemóvel. As declarações que se ouvem da princesa são as primeiras desde 2018, altura em que foi sequestrada por agentes de autoridade do pai, Mohammed Al Maktoum, emir do Dubai.

"Estou a gravar este vídeo na casa de banho porque esta é a única divisão com uma porta que posso trancar. Não posso trancar a porta do meu quarto porque não há chave. Estou numa vivenda. Sou uma refém e esta vivenda foi transformada em prisão", revela.

"Todas as janelas estão trancadas e há cinco agentes da polícia do lado de fora e duas agentes, mulheres, dentro da casa. Todos os dias temo pela minha segurança e pela minha vida. A polícia disse-me que ficarei presa ao longo de toda a minha vida e que nunca mais voltarei a ver o sol. Estou confinada e sem acesso a cuidados médicos", continua.

Estas imagens, no entanto, são de abril de 2019, um ano depois de ter sido sequestrada a mando do pai, escreve o jornal britânico "The Guardian". Nas mensagens que foi enviando a amigos de confiança, os mesmos que lhe terão facultado o telemóvel, Latifa explicou-lhes que durante a tentativa de fuga, planeada ao longo de sete anos, terá sido apanhada pelos militares enviados pelo pai que a seguiram de barco. Depois de a encontrarem, drogaram-na e levaram-na, inconsciente, de volta para os Emirados Árabes Unidos.

O motivo para a divulgação do vídeo, explicou a BBC depois de o ter transmitido, tem que ver com o facto de os amigos que a ajudaram a escapar em 2018, e os responsáveis pela campanha internacional que visa a libertação da princesa, terem perdido o contacto com Latifa.

Foi também com a divulgação do vídeo que a amiga Tiina Jauhiainen, o primo Marcus Essabri e o advogado e ativista David Haigh pediram a intervenção da Organização das Nações Unidas (ONU) para que se possa saber mais informações sobre o estado de Latifa.

"Se estão a ver este vídeo, não é por boas razões. Ou morri ou estou numa muito má situação"

Em 2018, foi divulgado um primeiro vídeo, também pelos amigos da princesa, através do qual Latifa explicava que ia tentar sair do país para fugir ao controlo do pai. "Se estão a ver este vídeo, não é por boas razões. Ou morri ou estou numa situação muito má", ouve-se no primeiro vídeo que, na altura, preocupou líderes internacionais, depois de serem conhecidos relatos de testemunhas que viram a princesa a ser apanhada pela polícia.

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Após a divulgação do mais recente clipe de vídeo, Dominic Raab, ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, considerou as imagens "muito angustiantes" sobre um "caso muito difícil" e "preocupante", pedindo provas que comprovem o estado de saúde da princesa do Dubai. Um porta-voz da ONU já fez saber que a organização irá questionar os Emirados Árabes Unidos sobre a divulgação destas imagens e sobre a princesa.

Esta não é a primeira vez que o emir do Dubai ordena o sequestro de uma filha. Em julho de 2000, Shamsa bint Mohammed Al Maktoum, na altura com 19 anos e agora com 39, tentou fugir da família durante umas férias em Londres, no Reino Unido, com amigos. Também a fuga foi, à semelhança do que viria a acontecer com a irmã anos mais tarde, sem sucesso.

Em agosto, agentes do pai encontraram Shamsa nas ruas de Cambridge e raptaram-na, levando-a para Dubai num avião particular.